Cuidados na saúde a populações vulneráveis
Qualquer pessoa num contexto onde haja risco de contágio por doença, ou que desenvolva alguma patologia, é considerada vulnerável. A vulnerabilidade torna a pessoa frágil, do ponto de vista psicológico, psiquiátrico, ou por motivo de doença terminal.
Segundo Sthal e Berti (2009) no âmbito da bioética, o conceito de vulnerabilidade ganhou mais importância nos últimos anos e, principalmente, a partir da década de noventa. Esse conceito refere-se a duas categorias da condição humana: finitude, ou seja, condição de mortal, e transcendência, o que significa autonomia, dignidade e integridade, sendo que os princípios de dignidade e integridade foram consagrados na Declaração Universal sobre Bioética e os Direitos do Homem, segundo o princípio da autonomia, beneficência e justiça (Sthal, & Berti, 2009).
No entanto, desde os tempos mais remotos da história que algumas populações ficam às margens da sociedade, o que as torna pouco favorecidas pelas políticas públicas de saúde. Nesses contextos, é preciso investir na resposta às necessidades básicas de saúde dos indivíduos proporcionando-lhes a possibilidade de coabitar socialmente em pé de igualdade (Almeida, Marques, Reis, Melo, Diemert, & Gazzinelli, 2010). Muitas vezes, quando estas pessoas se encontram no mesmo espaço com outras que também passam pela mesma situação de vulnerabilidade, elas sentem uma espécie de conforto por saberem que não estão “sozinhas no barco”, o que cria um certo ambiente de solidariedade (Almeida, et al, 2010).
Populações rurais e vulnerabilidade
No caso específico das populações rurais, a tendência é para viverem numa constante sensação estarem situados no fundo da escala social e da complicada relação com os médicos e com os serviços de saúde, reforçando-lhes a ideia de incerteza e a prevalência de uma visão negativa da sua condição que as leva a ter dificuldades em lidar com o seu contexto económico (Almeida, et.al, 2010). Na relação médico-paciente, é importante que haja um sentimento de confiança no profissional que é qualificado pelos seus estudos, portanto merecedor dessa confiança, que leva os indivíduos a verem o profissional de saúde como alguém capaz de responder a todas as suas problemáticas relacionadas com a saúde (Almeida, et.al, 2010). A imagem do médico “todo poderoso” acaba, assim, por influenciar o comportamento das pessoas (Almeida, et.al, 2010).
Vulnerabilidades de origem patológica
Dizem respeito a indivíduos alcoólicos, abusadores de substâncias ilícitas tais como crack e cocaína, entre outros com o mesmo padrão de comportamento (Varanda, & Adorno, 2004).
Indivíduos com este tipo de patologia não têm da sua doença, sendo mais comum observarmos estes padrões de comportamento em moradores de rua, principalmente jovens como muitas vezes se verifica nas narrativas de quem presta cuidados de saúde em instituições destinadas a intervir com estes casos (Varanda, & Adorno, 2004).
No caso de indivíduos que consomem cocaína, contudo, a situação é menos complicada de gerir nestes serviços dentro dos programas institucionais, onde são acolhidos, mas em casos de indivíduos que abusam de outros tipos de drogas, devido às alterações por elas provocadas no seu organismo, eles apresentam alterações de comportamento (Varanda, & Adorno, 2004).
Não é raro assistirmos a conflitos em ambiente institucional, resultado da dinâmica entre os grupos de utentes e os profissionais que lhes prestam cuidados de saúde, devido ao estado de degradação a que eles chegam e que lhes altera completamente o comportamento, principalmente quando são indivíduos provenientes da rua (Varanda, & Adorno, 2004). Assim, estas organizações não dispensam a necessidade de ter equipas multidisciplinares ao serviço de cuidados de saúde a estas populações, tais como um assistente social ou agente de saúde, onde os indivíduos mais vulneráveis procuram ter algum cuidado no seu padrão de comportamento, para que não fiquem mal vistos por parte dos outros (Varanda, & Adorno, 2004).
Conclusão
A revisão da literatura mostra que existem diferentes tipos de pessoas vulneráveis, tais como toxicodependentes, sem abrigo, ou ainda doenças terminais. Por esse motivo é necessário criar programas e serviços para prestar cuidados de saúde que visem responder a essas populações, já que um dos maiores desafios se prende com o controlo de alguns comportamentos agressivos que estes indivíduos adotam em momentos de crise.
References:
- Almeida, C.H., Marques, R.C., Reis, D.C., Melo, J.M.C., & Gazzinelli, M.F. (2010). A PESQUISA CIENTÍFICA NA SAÚDE: UMA ANÁLISE SOBRE A PARTICIPAÇÃO DE POPULAÇÕES VULNERÁVEIS. [em linha] SCIELO – scielo.br. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, Jan-Mar; 19(1): 104-11. Acedido a 21 de maio de 2016 em http://www.scielo.br/pdf/tce/v19n1/v19n1a12
- Sthal, H.C., & Berti, H.W. (2011). Identificação de indivíduos vulneráveis no entorno de um hospital universitário: conectando vulnerabilidade, solidariedade e saúde. Identification of vulnerable individuals in the área surrounding a university hospital: connecting vulnerability, solidarity and healthcare. [em linha] SCIELO – scielo.br.
- Varanda, W., & Adorno, R.C.F. (2004). Descartáveis urbanos: discutindo a complexidade da população de rua e o desafio para políticas de saúde. Urbans discarded: discussing the homeless population complexity and the challenge for public health policies. Saúde e Sociedade13, n.1, p.56-69.