Romantismo (música)

O período romântico na música: conceito, a relação entre o romantismo musical e as outras artes e breve descrição das diferentes fases desta época.

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Conceito

O termo romantismo, em música, diz respeito ao período que vai do início do século XIX até ao início do século XX, sensivelmente entre 1830 e 1900-10. É, de certa forma, um conceito vago, uma vez que existiram, e existem, sempre elementos românticos nas mais variadas músicas de todas as épocas.

Não obstante, a música deste período caracteriza-se pela ênfase colocada na expressão musical e pitoresca em detrimento de uma ordem formal ou estrutural. O romantismo é, portanto, a antítese do classicismo.

Entre os compositores mais representativos do romantismo destacam-se Schubert, Mendelssohn, Chopin, Liszt, Verdi, Brahms e Wagner.

O romantismo musical e as outras artes

O romantismo musical (1815-1910) encontra-se intimamente ligado ao romantismo das outras artes, “embora desfasado temporariamente, dado que o romantismo nas artes, na literatura e na filosofia costuma reconhecer-se entre os anos de 1760 e 1840” (Ribeiro, 2010, p. 37).

Muitos compositores românticos eram ávidos leitores e interessavam-se pelas outras arte. Na literatura, os obras de Byron, Scott, Wordsworth, Goethe, Hugo, Gautier e Balzac constituem o núcleo do do movimento romântico e, por exemplo, músicos como Berlioz e Liszt foram particularmente influenciados por Byron e Scott. A componente sobrenatural do romantismo foi retratada musical em obras como «Der Freischutz» (O Caçador Furtivo) de Weber ou o andamento Dança das Bruxas na «Sinfonia Fantástica» de Berlioz. Mas os talentos múltiplos eram também bastante comuns: além de músico, Mendelssohn era desenhista e pintor; Wagner oscilou durante muito tempo entre a poesia e a música, até fazer da estreita relação o núcleo central da sua obra; Schumann era especialmente dotado na literatura; Ernst Hoffman era pintor, poeta, filósofo e compositor; Carl Maria Von Weber e Berlioz escreveram notáveis ensaios sobre música.

Salientar, ainda, algumas excepções, como por exemplo Chopin, cuja obra não sofreu influências de modelos literários, ao contrário de andamentos de obras da Primeira Escola de Viena. Esta ideia remete-nos para o conceito algo vago de romantismo e para o modo como, de uma forma ou outra, sempre esteve presente na música.

Temáticas românticas

Os quadros e os livros foram, frequentemente, motivo de inspiração para os compositores. De entre as muitas ideias que exerciam um enorme fascínio nos músicos românticos destacam-se o passado distante, as terras exóticas, os sonhos, a noite, a natureza, o amor, as lendas e os contos de fadas, o mistério e o sobrenatural.

Para este efeito, a “clareza clássica foi substituída por uma certa obscuridade e ambiguidade intencional, a afirmação clara pela sugestão, pela alusão ou pelo símbolo. A música tem uma especial capacidade de evocar o fluxo das impressões, dos pensamentos e das emoções” (Ribeiro, 2010, p.38).

Pré-Romantismo (1780-1815)

A origem do romantismo remonta ao período clássico: “todos os compositores clássicos mais importantes utilizaram a ambiguidade harmónica e a técnica de se mover rapidamente entre diferentes tonalidades sem estabelecer uma verdadeira tonalidade” (Ribeiro, 2010, p.38).

Por volta de 1810,  os compositores começaram a utilizar o cromatismo e as tonalidades menores com o objectivo de expandir o colorido musical. Beethoven foi a figura central deste movimento mas destacam-se, também, compositores como Clementi ou Spohr, que incorporaram frequentemente notas cromáticas nas suas obras.

Foi precisamente a tensão criada pela vontade de manter a estrutura clássica mas com uma textura sonora mais vasta que delineou a transição para uma nova época.

Romantismo (1815-1850)

Numa primeira fase, destacaram-se os seguintes compositores: Beethoven, Spohr, Hoffmann, Weber e Schubert. As melodias cromáticas de Clementi e as óperas de Rossini, Cherubini e Mehul têm, também, lugar de destaque. Ao mesmo tempo, a composição de canções para voz e piano sobre poemas populares para satisfazer a procura do mercado de classe média – os músicos já não “serviam” a aristrocracia e as audiências tinham crescido – levou à composição de obras como os ciclos lieder de Schubert.

A fase seguinte de românticos inclui Liszt, Mendelssohn, Chopin e Berlioz, todos nascidos no século XIX. Liszt foi uma figura fundamental na afirmação do virtuosismo instrumental (piano) e Mendelssohn foi particularmente precoce, escrevendo grandes obras ainda antes dos vinte anos. Chopin dedicou-se à música para piano e Berlioz compôs a primeira sinfonia notável depois da morte de Beethoven.

Surgiram, aqui, uma grande variedade de pequenas formas: as valsas, as polonaises, mazurcas, o romance, o lied, o prelúdio, o nocturno, a balada e o improviso. Ao mesmo tempo foi estabelecido o conceito de ópera romântica, através de uma relação estreita entre Paris e o norte de Itália. O virtuosismo orquestral francês, as linhas vocais e o poder dramático italiano, juntamente com libretos baseados na literatura popular, estabeleceram as normas que continuam a dominar a cena operística. As obras de Bellini e Donizetti foram particularmente populares nesta época.

Os concertos instrumentais atingiram uma ampla popularidade nesta parte do romantismo. Virtuosos como os pianistas Liszt e Chopin e o violinista Paganini eram admirados internacionalmente. Não obstante, a par do instrumentista virtuoso, surgiu o instrumentista de música de câmara, a quem não interessava tanto a execução técnica admirável mas sim o esgotamento do conteúdo musical no género.

Em finais dos anos 30 e anos 40, os frutos destes primeiros anos de desenvolvimento romântico surgem nas obras de Schumann, Meyerbeer e Verdi. Também Wagner se destaca neste período com a expansão do conceito de drama musical.

A orquestra começou a crescer em tamanho e abrangência. A secção dos metais tornou-se mais importante e, à secção das madeiras, foram adicionados o flautim, o clarinete baixo, o corne inglês e o contrafagote. Os instrumentos de percussão adquiriram uma maior variedade e o número de instrumentos de cordas também cresceu.

Também as obras do romantismo aumentaram de duração. Foi uma tendência que se iniciou com a terceira sinfonia de Beethoven, com uma duração de quarenta e cinco minutos, e cresceu com as sinfonias de Bruckner e, especialmente, Mahler, que compôs sinfonias com uma duração superior a hora e meia (como a segunda, a terceira e a nona).

“O conflito entre o ideal da música puramente instrumental e o forte pendor literário da música oitocentista resolveu-se no conceito de música programática” (Ribeiro, 2010, p. 41). Surgiu a música programática, que “pretendia absorver e transmutar integralmente na música o tema imaginado, de tal forma que a composição daí resultante o transcendesse e fosse independente dele” (Ribeiro, 2010, p. 41). A afinidade dos artistas com a natureza surge nas aberturas de Mendelssohn, nas sinfonias da Primavera e do Reno de Schumann, nos poemas sinfónicos de Berlioz e Liszt e nas ópras de Weber e Wagner. Uma segunda forma de conciliação da música com a palavra reflectiu-se na importância dada ao acompanhamento instrumental da música vocal, partindo dos lieder de Schubert para a orquestra sinfónica.

Romantismo tardio (1850-1910)

No romântico tardio vigorou o género chamados nacionalista, associado à música popular e à cultura de determinados países: por exemplo, os russos Glinka e o Grupo dos Cinco; os franceses Berlioz, Bizet, Fauré, Satie, Ravel, entre outros; o filandês Sibelius; os checos Smetana e Dvořák.

Já entre 1870 e 1949 assiste-se a um pós-romantismo caracterizado pela exuberância orquestral e pelos desenvolvimentos sinfónicos, além de um intenso cromatismo que supera Wagner e conduzirá à atonalidade. Mahler e Strauss foram os compositores mais representativos neste último período.

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References:

Kennedy, M. (1994). Dicionário Oxford de Música. Publicações Dom Quixote.

Ribeiro, R.A.O.S. (2010). Romantismo: Contextualização Histórica das Artes. Dissertação de Mestrado, Instituto Politécnico de Castelo Branco.

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