Ludwig van Beethoven

Biografia do compositor e pianista alemão Ludwig van Beethoven (1770-1827). Figura crucial na transição entre os períodos clássico e romântico, contribuiu para a emancipação e democratização da arte e elevou a importância da música instrumental, especialmente através da sinfonia, do quarteto de cordas e da sonata para piano.

Nascimento Dezembro de 177o, Bona, Alemanha
Morte 26 de Março de 1827, Viena, Áustria
Ocupação Compositor e pianista
Principais obras 9 sinfonias; 32 sonatas para piano; 5 concertos de piano;  1 concerto de violino; 16 quartetos de cordas; a ópera «Fidelio»; «Missa Solemnis»

Primeiros anos

Ludwig van Beethoven foi registado em 17 Dezembro de 1770, em Bona, na Alemanha. Terá nascido um ou dois dias antes. Era de ascendência flamenga, tendo o seu pai avô emigrado para Bona quando se tornou cantor na corte do duque Eleitor. O pai de Beethoven foi também cantor na corte do duque, mas era um homem vulgar, com problemas de bebida, que procurou explorar os talentos musicais de Ludwig. A primeira educação musical do músico foi, então, adquirida através do pai e vários professores locais.

A situação de Beethoven alterou-se quando, em 1779, Gottlob Neefe foi nomeado organista da corte, tornando-se também seu professor. Embora a sua capacidade musical fosse algo limitada, Neefe era um homem de grande cultura e, através deste, Ludwig publicou as suas primeiras variações, em 1783. No ano seguinte, tornou-se oficialmente assistente de Neefe como organista da corte (na prática, já o era desde 1781).

Em 1787, o compositor visitou Viena pela primeira vez, onde é possível que se tenha encontrado com Mozart, que terá ficado largamente impressionado com o jovem. Na realidade, não existem registos desta visita, além do facto de ter ido e ter regressado prematuramente a Bona devido à morte da mãe. Como resultado, assumiu a responsabilidade pelos dois irmãos mais novos, ainda vivos, face à incapacidade do pai para fazê-lo (dependência alcoólica).

Os cinco anos seguintes foram passados em Bona, onde aos seus deveres anteriores, acumulou o de violista na orquestra do teatro da corte. No entanto, deste período destaca-se o alargamento da sua rede social. Beethoven tornou-se professor dos filhos da Madame Breuning e, através desta, foi adquirindo outros alunos. Sobretudo, teve a oportunidade de conhecer, em 1788, o Conde Waldstein, membro da alta aristocracia vienense e amante de música, que além de admirador, tornou-se amigo e patrono.

Em 1790, Haydn passou por Bona a caminho de Londres. Depois de ver algumas das primeiras composições de Beethoven, convidou-o a tornar-se seu aluno, em Viena, depois de regressar da capital inglesa, quase dois anos depois.

Estabelecimento em Viena

Beethoven seguiu para Viena em 1792, onde a reputação como virtuoso da improvisação ao teclado já o precedia, em parte devido ao auxílio do Conde Waldstein que o “vendia” como o sucessor de Mozart. Apesar das suas maneiras bruscas e, por vezes, descorteses, recebeu quase de imediato o apoio da aristocracia, particularmente do Barão van Swieten e do Príncipe von Lichnowsky (o único entre a aristocracia a apoiar Mozart até à sua morte).

O músico não se sentia preparado, ainda, para se estabelecer como compositor, decidindo-se, primeiro, a estudar. Contudo, as aulas com Haydn, que o tinham trazido a Viena, revelaram-se insatisfatórias, pelo que depressa procurou novos professores. Um deles foi o organista Albrechtsberger, versado na arte do contraponto, e o outro foi Salieri, com quem estudou composição vocal.

beethoven jovem

Em 1795, Beethoven deu o seu primeiro recital público em Viena, no qual tocou um dos seus concertos. Pouco depois, publicou os seus três primeiros trios para piano, violino e violoncelo, dedicados ao príncipe von Lichnowsky, cujo sucesso lhe rendeu o suficiente para as suas despesas pessoais de um ano. Nos três anos seguintes, actuou em Berlim e Praga e poderia ter ido mais longe se a situação política internacional o tivesse permitido.

Entre 1798 e 1800, compôs os seus primeiros seis quartetos de cordas (op.18). Com as estreias da primeira e segunda sinfonias, respectivamente em 1800 e 1803, Beethoven foi reconhecido como um dos mais importantes compositores da nova geração, depois de Haydn e Mozart. Embora nestes anos as suas composições tenham incidido sob trabalhos orquestrais de grande escala, também se dedicou à composição de outras formas. Em 1799, compôs, por exemplo, a conhecida «Sonata Patética, op.13» e, em 1801, a «Sonata quasi una fantasia, op.27», popularmente nomeada “Sonata ao Luar”. Um dos seus trabalhos mais populares em vida foi o «Septeto, op.20», concluído em 1799.

Surdez

Os primeiros sintomas de surdez surgiram ainda antes de 1800 mas permaneceram inalterados durante alguns anos, pelo que o músico continuou a dar concertos tanto em casas de aristocracia como para grandes públicos. Contudo, em 1802, viu-se forçado a reconhecer a irreversibilidade da doença, que só pioraria. No Verão passado no campo, em Heiligenstadt, nos arredores de Viena, escreveu uma espécie de testamento dirigido aos dois irmãos, onde expressou pensamentos suicidas, depressa substituídos pela resolução de viver para e através da sua arte.

Daí em diante os seus dias como virtuoso estariam contados, mas só a partir de 1819 se tornou impossível conversar com o compositor, a não se através da escrita. Estes cadernos de notas, pelo menos os que sobreviveram até aos dias de hoje, são uma importante fonte de investigação sobre o pensamento e relação de Beethoven com a música.

Foram igualmente preservados muitos dos cadernos onde registava as suas ideias, relevadoras dos seus métodos de trabalho: embora fosse capaz de improvisar uma complicada fantasia num momento único de improvisação, tinha mais dificuldade em dar forma a uma composição com pés e cabeça no papel; trabalhava em mais do que uma obra ao mesmo tempo, sem pressa para concluir qualquer trabalho, por exemplo, os esboços da sua quinta sinfonia, concluída em 1808, datam de 1804; alguns destes esboços possuem só uma melodia e um baixo, suficientes para estabelecer uma continuidade. Numa última fase da sua vida, estes registos tornam-se mais elaborados mas a verdade é que sobreviveram mais registos das fases iniciais, possivelmente porque o próprio os manteve como potenciais fontes de material para composições posteriores.

Período intermédio

O regresso de Heiligenstadt marcou uma nova fase na obra de Beethoven, insatisfeito com tudo o que realizara até então. O resultado mais imediato foi a sua terceira sinfonia, «Eroica», uma obra revolucionária pela forma como expandiu em larga escala as possibilidades da forma sinfónica. Significativo foi também o facto de ser dedicada a Napoleão Bonaporte, um herói intermitente do músico. Apagou, depois, a dedicatória quando soube que Bonaporte se tinha proclamado imperador., substituindo-a pelas seguintes palavras: “pela memória de um grande homem”. A sinfonia recebeu críticas conflituosas: alguns não compreenderam a duração e estrutura; outros consideraram-na uma obra-prima.

Deste período intermédio destacam-se, ainda, outras obras, entre as quais as sonatas para piano «Waldstein, op.53», «Appassionata, op.57» e «Les Adieux, op.81a»; os três quartetos «Razumovsky, op.59»; o «Concerto para piano, n.4, op.58»; «Concerto para violino, op.61; todas as restantes sinfonias, excepto a nona. Em 1805, foi também encenada «Fidelio», a sua única ópera, originalmente intitulada “Leonore”. Não obteve muito sucesso, até porque a presença das tropas francesas em Viena afastara os cidadãos dos teatros, e, após três espectáculos, foi retirada de cena para revisão. Só oito anos mais tarde, regressou aos palcos, desta feita para se tornar um clássico do teatro alemão.

Período de maturidade

O período de maturidade de Beethoven teve início no ano de 1815. Devido à progressão da sua surdez, o compositor tornou-se gradualmente mais recluso. Também o número de composições foi diminuindo, especialmente tendo em conta a larga produtividade manifestada até então. No entanto, este número menor foi compensado por uma nova densidade musical, mais expressiva e inovativa em termos formais.

Em 1816, escreveu o ciclo de canções «An die ferne Geliebte» (Para a amada distante), possivelmente para comemorar o romance falhado com a “Amada Imortal”, cujo identidade se desconhece. No campo da música de câmara destacam-se as «Sonatas para piano e violoncelo, op.102» e, para piano solo, as sonatas op.101 e op.106, que ficaria conhecida como «Hammerklavier».

O compositor voltou-se depois para nona sinfonia, que já tinha começado a escrever, mas as notícias da nomeação do arcebispo de Olmütz, levaram-no a escrever uma missa solene, de grande escala, para a cerimónia. Contudo, só a concluiu três anos depois do acontecimento, em 1823. No entretanto, compôs as suas últimas três sonatas para piano e concluiu as «33 Variações sobre uma Valsa de Diabelli, op.20» (1819-1823), frequentemente consideradas as variações mais importantes na história da música erudita a par das «Variações de Goldberg».

Beethoven concluiu a nona sinfonia em 1824. A estreia, supervisionada pelo próprio, teve um sucesso estrondoso. O compositor, devido à surdez, não se apercebeu dos aplausos até que um dos solistas o fez virar e olhar a audiência. Foi o último trabalho em grande escala do músico. Depois, dedicou-se a completar quartetos de câmara, que lhe haviam já sido comissionados, tendo escrito alguns mais.

Stieler, Joseph Karl: Beethoven mit der Missa solemnis Ölgemälde, 1819

Morte

Ludwig van Beethoven passou o seu último Verão na propriedade do irmão. Adoeceu no regresso a Viena, contraindo uma pneumonia, da qual nunca recuperou inteiramente, tendo passado os seus últimos meses na cama. Faleceu em 26 de Março de 1827, em Viena. Uma autópsia revelou danos graves no fígado, sendo credível que uma cirrose tenha estado na origem da sua morte, mas tal não está confirmado. A discussão sobre a sua causa de morte é ainda acesa.

O seu funeral, em Währing, três dias depois, foi um acontecimento nacional, no qual estiveram presentes 20 000 pessoas, entre os quais os músicos Schubert, que morreria um ano depois, e Hummel, que participaram activamente na cerimónia. Mais tarde, o corpo foi transladado para o cemitério central de Viena.

Personalidade e vida privada

Beethoven, além da música e da doença que efectivamente superou através da arte, é conhecido pela sua personalidade difícil, forte e descortês. Não obstante, ao longo de toda a sua vida teve junto a si um círculo de amigos próximos, que o ajudaram a cooperar com as suas incapacidades até ao fim. Possuía um notório desdém pela autoridade, pelos privilégios e etiquetas das classes ricas, recusava-se a continuar um recital se alguém começasse a falar e a tocar só porque alguém o chamava. Era um admirador dos ideias iluministas.

O compositor amou muitas mulheres, embora não tenha constituído família. Sabe-se que, em 1801, se apaixonou por uma das suas estudantes, Giulietta Guicciardi, a quem dedicou a «Sonata ao Luar». Esta era prima das filhas de Graf von Brunsvik, Therese e Josephine, também suas alunas. Envolveu-se, depois, com Josephine, cujo marido faleceu em 1804, com quem trocou cartas durante vários anos. Contudo, devido à pressão da família de Josephine, porque Beethoven não era aristocrata, separaram-se. Acredita-se que, depois, terá pedido em casamento Therese Malfatti, filha de um dos seus médicos, mas uma vez mais, nada aconteceu. Em 1812, doente, a recuperar-se por sugestão médica em Teplitz, escreveu uma carta dirigida à “Amante Imortal”, cuja identidade permanece um mistério.

Em 1815, com a morte do seu irmão Caspar Anton Carl, Beethoven foi apontado guardião do seu sobrinho Karl, de nove anos de idade, juntamente com a viúva. O músico nunca tinha aprovado a relação do irmão porque a mulher que tinha escolhido já tinha um filho ilegítimo. Por isso, litigou em tribunal pela guarda do sobrinho, que conseguiu passados três anos. Apesar da afecção que tinha pela criança, discutiam frequentemente e, em 1826, o jovem tentou suicidar-se. Aconselhado por amigos, Beethoven permitiu relutantemente que o rapaz seguisse uma carreira no exército e, afastado do tio, iniciou uma vida de moderado sucesso e tranquilidade. Não obstante, os eventos de 1826 afectaram o músico profundamente.

O contributo da música de Beethoven

Beethoven foi uma figura de transição crucial do período Clássico para o período Romântico. Em primeiro lugar, emancipou e democratizou a arte, compondo a partir de uma necessidade espiritual interior e não como forma de exibição de capacidades virtuosísticas materiais. Tal confirma-se pela resolução pessoal tomada aquando do reconhecimento inevitável da sua própria surdez. Os patronos da música no classicismo, apesar de todos os progressos, eram ainda os membros da nobreza. Esta dependência face aos ricos foi uma prova dura tanto para Mozart como para Beethoven, mas se o primeiro morreu praticamente na miséria depois de abandonar o serviço do Arcebispo de Salzburgo, o segundo, por comparação, acabou por ter mais sucesso, uma das razões justificativas do papel de transição acima mencionado.

Em segundo lugar, o músico elevou de forma definitiva a música instrumental, anteriormente relegada para segundo plano face aos géneros que serviam o texto – cantata, ópera, oratória -, explorando diversas géneros instrumentais. Sobressai, de imediato, o seu contributo para o desenvolvimento da sinfonia, que emergiu com Beethoven como repositório das ideias mais importantes de um compositor. A quinta e nona sinfonias foram as que mais influência exerceram em gerações posteriores, pela forma como progridem da tempestade para o triunfo final. Também a sexta foi particularmente influente entre aqueles compositores “ideologicamente programáticos”, destacando-se a «Sinfonia Fantástica», de Berlioz, Brahms, com a sua primeira sinfonia, as quarta e quinta de Tchaikovsky e as primeiras quatro de Mahler. Nos quartetos de cordas e nas sonatas para piano, Beethoven fez uso de meios técnicos e expressivos que alargaram amplamente as possibilidades dos meios em questão (embora, no caso do piano, só nas últimas sonatas o uso técnico do instrumento superou o dos seus predecessores). É importante sublinhar, também, que as sonatas para piano, a forma mais íntima de música de câmara no classicismo, foram o veículo através do qual expressou melhor os seus pensamentos mais interiores.

Formalmente, a sua mestria nos domínios da estrutura e da relação de tonalidades foi a base sobre a qual se operou uma revolução no modo de abordar a forma sonata; expandiu também a coda que, com o músico, deixou de ser uma simples conclusão formal para desenvolver-se até atingir um certo esplendor climax. Transformou, ainda, o minueto das suas sinfonias e sonatas num scherzo vivo e exultante.

Ludwig van Beethoven é, sem dúvida, um dos músicos mais influentes de todos os tempos e a sua música das mais divulgadas, entre todos os grandes nomes da música erudita.

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