Ravel, Maurice

Biografia do compositor francês Maurice Ravel (1875-1937), um dos grandes inovadores da escrita pianística e que está na origem da procura do “inédito” sonoro que caracterizou o século XX.

Nascimento 7 de Março de 1875, Ciboure, França
Morte 28 de Dezembro de 1937, Paris, França
Ocupação Compositor
Principais obras «Pavane pour une infante défunte»; «Jeux d’eau»;  «Shéhérazade»;  «Rapsodie espagnole»; «Daphnis et Cloé»; L’Enfant et les sortilèges»; «Bolero»

Primeiros anos

Maurice Ravel (1875-1937) nasceu no dia 7 de Março de 1875, em Ciboure. A mãe, Marie Delouart, era e descendência basca e o pai, Joseph Ravel, foi um industrial e inventor suíço. A família de Ravel mudou-se para Paris quando este tinha três meses de idade. Em 1878 nasceu o seu irmão Edourad. O compositor começou a receber aulas de piano com sete anos de idade, sob a direcção de Henry Ghys.

Conservatório de Paris

Os pais incentivaram-no a estudar música e inscreveram-no no Conservatório de Paris com 14 anos de idade. Embora fosse um músico dotado, tinha algumas dificuldades académicas e, depois de falhar os requerimentos para receber uma medalha, foi expulso devido à sua negligência académica. Voltou a juntar-se ao Conservatório em 1898, onde estudou composição com Fauré, com quem construiria uma amizade duradoura.

Em 1895 já tinha desenvolvido um estilo de composição académica mas as suas harmonias inconformistas não iam ao encontro do gosto dos académicos, apesar da base clássica da sua obra. Candidatou-se ao Prix de Rome em 1901, 1902, 1903 e 1905. Só ganhou no primeiro ano. No último ano foi eliminado nos testes preliminares, o que causou uma onda de protestos que levou à demissão do director do conservatório, Théodore Dubois. A situação ficou conhecida como o “Affaire Ravel”.

Por esta altura tinha já escrito algumas daquelas que seriam reconhecidas como obras-primas, nomeadamente o quarteto de cordas «Shéhérazade», «Pavane pour une infante défunte» (1902) e os «Miroirs» (1905) para piano. De «Jeux d’eu», escritos em 1901, para piano, Ravel terá dito: “Os jeux d’eau estão na origem de todas as novidades pianísticas que se quis reconher na minha obra”.

Os Apache

No ano de 1900, Ravel juntou-se a um grupo de artistas e músicos inovadores, que se chamavam, os Apache. O grupo, composto por nomes como Erik Satie, Jean Cocteau, André Gide, Paul Valéry, Igor Stravinsky, Nijinsky e Serge Diaghile, reuniu-se com frequência, normalmente na casa de Ida e Cyprien Godebski, até ao início da I Guerra Mundial, em 1914.

O período espanhol

Ravel entrou neste período em 1907. Embora não tivesse passado muito tempo em Espanha, tinha sido influenciado pela mãe que crescera em Madrid, e lhe cantava músicas tipicamente espanholas. Entre 1909 e 1912 compôs a obra «Daphnis et Chloé» para os “Le Ballets Russes” de Diaghilev, considerada uma das suas melhores obras. A sua ópera cómica de 1911, «L’heure espagnole» não teve muito êxito mas foi reconhecida mais tarde como a peça brilhante que era.

Primeira Guerra Mundial

Em 1914, apressou-se a concluir o «Trio» para piano, violino e violoncelo, antes de se alistar no exército. Queria tornar-se piloto mas devido à sua constituição física tornou-se, antes, motorista do Exército. A título de curiosidade, apelidou o seu camião de “Adelaide”. Depois de sofrer um acidente, teve de ser operado, e ao regressar a casa para se recuperar, encontrou a mãe doente. Viria a falecer no ano de 1917, o que abalou profundamente o músico. Instalou-se, depois, em «Lyons-la-Fôret», onde compôs «Le Tombeau de Couperin», uma homenagem à música francesa do século XVIII.

Ainda neste período, é de assinalar a sua lucidez perante o absurdo, numa fase onde sofreu por ver o se país envolvido numa guerra cruel. Perante a formação de uma liga que pretendia proibir em França a execução de obras austro-alemãs, Ravel não hesitou em responder: “Pouco me importa que o senhor Schönberg, por exemplo, seja de nacionalidade austríaca. Não seria por isso que ele deixaria de ser um músico de alto valor, cujas pesquisas, plenas de interesse, tiveram uma feliz influência sobre certos compositores aliados e até sobre nós. E, mais ainda, fico orgulhoso que os senhores Bartók, Kodály e seus discípulos sejam húngaros e manifestem isso nas suas obras com tanto sabor”.

Maurice Ravel

Últimos anos

A postura de Ravel sempre foi muito honesta, não se deixando levar, nem na sua vida privada, nem na sua música, pela menor complacência em relação a si próprio. Aos amigos que o quiseram agradar fazendo com que lhe fosse conferida a Legião de Honra, em 1920, explicou a sua recusa afirmando que “consentir em ser condecorado é reconhecer ao Estado ou ao príncipe o direito de julgar”. O compositor não queria ficar numa posição em que sentisse que devia algo ao Estado.

No ano seguinte mudou-se para Montfort L’Amaury, uma pequena cidade localizada a oeste de Paris. Nomeou a casa de Belvédere e viveu o resto da sua vida nessa residência, continuando a escrever num ambiente tranquilo. No entanto, visitava Paris frequentemente para concertos e para socializar. Aumentou, também, o número de tours pelo estrangeiro.

A fraca saúde dos seus últimos 17 anos de vida diminuiu-lhe o número de composições, mas não a qualidade. Em 1925 concluiu a ópera «L’enfant et les sortilèges», (1925, com libreto de Collete, caracterizada por elementos jazzísticos devido à influência norte-americana deste período. Deste período datam ainda os seus dois concertos para piano, o muito popular «Bolero» (um desafio quase insolente pela monotonia intencional do ritmo e da melodia, e fascinante pelos jogos dos timbres e pelo aparecimento de novos instrumentos que não cessam de enriquecer a orquestra a cada retomada do motivo, num crescendo contínuo), datado de 1928, música de câmara e as «Canções D.Quixote» (1934).

Depois desta última obra, até à sua morte, que sobreveio em 1937, Ravel ficou incapacitado de compor ou falar, devido a uma afasia, mas mantinha a actividade cerebral intacta. Ainda foi tentada uma operação, mas sem sucesso.

Legado musical de Ravel

Ravel é colocado, por conveniência, na mesma linha de Debussy, e muitas vezes etiquetada como “brilhante orquestrador”. Como Debussy, Schönberg e Stravinsky, procurou libertar a música da “tirania” tonal, mas tomou um caminho diferente destes, que nunca deixou de admirar com igual respeito. E, é certo que escrevia para uma orquestra de virtuosos, muitas vezes exigindo, mesmo, acrobacias técnicas. Mas, como o próprio esclareceu: “Não há músicas bem orquestradas; há somente músicas bem escritas”. No teclado seguiu a tradição de Liszt, acrescentando-lhe algumas descobertas técnicas.

Ravel mostrava um maior respeito pelas formas clássicas do que os seus contemporâneos. Satie, Chabrier, Strauss, Mussorgsky, o orientatalismo e o jazz foram, para ele, influências decisivas. Ocorrem amiúde nas suas músicas ritmos de dança, e as suas harmonias, por vezes “impressionistas” na técnica, alongam o âmbito do sistema tonal através da exploração de acordes invulgares e do uso de bitonalidade. As melodias revelam por vezes uma tendência modal. A repetição, a sequência e a variação substituem de preferência o desenvolvimento tradicional.

Ainda que possa ser sustentável a qualificação de miniaturista que lhe é feita no que concerne a escolha das formas, de pequenez a sua invenção nada tem. Essa artificialidade que levou Stravinsky a chamar-lhe um “fabricante de relógios suíços” acaba por exaltar a sua precisão, clareza de espírito e sucesso. Ravel foi um dos grandes inovadores da escrita pianística e está na origem da procura do inédito sonoro que caracterizou o século XX.

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References:

Kennedy, M. (1994). Dicionário Oxford de Música. Publicações Dom Quixote.

Massin, J. & Massin, B. (1983). História da Música Ocidental. Editora Nova Fronteira, S.A: Rio de Janeiro.

Maurice Ravel. Em http://www.thefamouspeople.com/profiles/maurice-ravel-312.php

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