Os cuidados de saúde infantil destinam-se a responder às necessidades das crianças do ponto de vista físico e mental. No entanto verifica-se que ainda há bastantes falhas a serem colmatadas neste setor.
Couto, Duarte e Delgado (2008) dizem que há diferenças representativas entre os países no que concerne aos cuidados de saúde mental infantil, independentemente dos níveis sócio-económicos, principalmente nos países em vias de desenvolvimento (pvd).
Segundo Maranhão (2000) um dos fatores que condicionam os cuidados de saúde na infância, relaciona-se com as condições de vida em que elas estão e os cuidados familiares prestados. A autora percebeu, ao analisar diferentes pontos de vista entre professores das creches que, quando as crianças adoecem no contexto de creche, eles associam à mudança de ambiente a que elas se estão a adaptar e, quando desenvolvem doenças infeciosas, são normalmente associadas à falta de higiene e à pobreza em que vivem (Maranhão, 2000).
A ausência de políticas oficiais de saúde mental infantil e juvenil comum a estes países, torna ainda mais urgente a implementação dos serviços para os cuidados de saúde (Couro, Duarte, & Delgado, 2008).
As políticas oficiais de saúde da maioria dos países estão estruturadas contemplando a população adulta, o que cria um obstáculo à promoção dos cuidados de saúde infantil, uma vez que estes se relacionam maioritariamente com perturbações mentais cujas especialidades direcionadas para a população adulta, não se adaptam à população mais jovem (Couro, Duarte, & Delgado, 2008; Maranhão, 2000).
Habitualmente, os cuidados de saúde mental infantil são então orientados mais pelos setores educacional e de assistência social, e muito raramente pelos postos de saúde, no entanto, devido a esta falha, criou-se o Sistema Único de Saúde (SUS) precisamente para dar resposta às necessidades das crianças e dos adolescentes (Couro, Duarte, & Delgado, 2008).
Mesmo no ramo da educação, só mais recentemente se incluiu projetos de promoção nos cuidados de saúde infantil, com o intuito de prevenir o adoecimento das crianças, principalmente nas creches cuja saúde acaba por ficar mais comprometida do que nos casos das crianças que ficam em casa (Maranhão, 2000).
Estes serviços apareceram tardiamente porque os problemas de saúde mental infantil e adolescente são de origem extremamente variada tanto de desenvolvimento, como é o caso da perturbação do espetro autista, como ao nível externo, por exemplo, a hiperatividade e problemas de comportamento, internos, como depressão e ansiedade, ou mesmo por abuso de substâncias (Couro, Duarte, & Delgado, 2008).
Algumas das diferenças entre as perturbações nas crianças e nos adultos, são o fato de, no caso das crianças, elas poderem aparecer tanto na infância como já na adolescência, além das diferenças no diagnóstico de acordo com todo o contexto, o que leva à necessidade de avaliação específica e de recolha de informação não só junto da criança como junto da família, dos professores e outras pessoas que lhe sejam próximas (Couro, Duarte, & Delgado, 2008).
Couro, Duarte e Delgado (2008) aperceberam-se ainda, nas suas pesquisas, que os estudos empíricos direcionados para os cuidados de saúde na infância são bastante recentes e sempre ao nível da intervenção comunitária, psicossocial e familiar, principalmente no caso de crianças em risco.
Muitas vezes este setor acolhe crianças com todos os tipos de perturbação, mesmo que a especialidade do mesmo não seja exatamente aquela da qual a criança necessita (Couro, Duarte, & Delgado, 2008). Por exemplo, por vezes assiste-se a crianças ou adolescentes em risco, a serem acompanhados pelos serviços de justiça sem qualquer tipo de intervenção ao nível da saúde (Couro, Duarte, & Delgado, 2008).
Maranhão (2000) explica ainda que é preciso promover a formação dos educadores no sentido de intervir ao nível dos cuidados de saúde das crianças, para que se possam obter melhores respostas nesse sentido.
Uma das formas de promoção de saúde nas crianças em contexto de creche, é, além da alimentação equilibrada, rica em nutrientes variados, organizar as suas refeições de forma adequada, no sentido de garantir o seu bem-estar e a sua qualidade de vida (Maranhão, 2000).
A higiene é outro fator fundamental a ter em conta quando se pretende melhorar a saúde das crianças, começando pela educação da criança no sentido de aprender a distinguir o que é limpo do que é sujo (Maranhão, 2000).
De modo geral, Maranhão (2000) verifica que pais, professores e educadores compreendem a higiene da criança com o fato de ela ser saudável, ao referir que “criança saudável é criança limpa” (Maranhão, 2000, p.5).
Conclusão
Os cuidados de saúde infantil caracterizam-se, principalmente, por se observarem discrepâncias muito grandes entre os países devido ao fato de a saúde estar mais direcionada para os cuidados nos adultos do que nas crianças e nos adolescentes. Esta situação leva à necessidade de criar espaços com serviços adequados que permitam dar respostas ao nível da saúde infantil, uma vez que este tipo de cuidados está demasiado voltado quase exclusivamente para o setor da educação.
References:
- Couto, M.C.V., Duarte, C.S., & Delgado, P.G.G. (2008). A saúde mental infantil na Saúde Pública brasileira: situação atual e desafios. Child mental health and Public Health in Brazil: current situation and challenges. [em linha] SCIELO – scielo.br. Rev Bras Psiquiatr. 30(4): 390-8.
- Maranhão, D.G. (2000). O processo saúde-doença e os cuidados com a saúde na perspectiva dos educadores infantis. The health-illness process and health care from the perspective of child care providers. [em linha] SCIELO – scielo.sp.org. Cad. Saúde Pública 16(4): 1143-1148.