Diferentemente das outras crianças, as crianças institucionalizadas tendem desenvolver mais lentamente, em todos os níveis. Nas linhas abaixo, vamos compreender os factores que condicionam este processo.
De acordo com as pesquisas de Alexandre e Vieira (2004) existe um período em que a criança sente necessidade de Apego com a mãe, criando um vínculo afectivo revelado quando ela sorri, chora, chupa no dedo, olha a mãe e quer tocar nela.
Este vínculo afectivo aumenta à medida que a criança cresce, o que aumenta a procura de proximidade dela com os pais, no sentido de encontrar segurança e protecção (Pinhel, Torres, & Maia, 2009).
“Dizer que uma criança tem apego por alguém significa que ela está fortemente disposta a buscar proximidade e contacto com uma figura específica, principalmente quando está cansada, assustada ou doente. Para isso, considerou-se o apego uma ligação contínua e íntima, apresentada pela criança em relação à mãe ou cuidador (…)”
(Alexandre, & Vieira, 2004. P.1).
Wathier-Abaid, Dell’Aglio e Koller (2010) referem que a criança institucionalizada durante a infância e a adolescência, ainda que apenas por um determinado período de tempo, acaba por sofrer uma quebra no que concerne à capacidade para criar vínculos afectivos, bem como a estar mais vulnerável a situações de violência.
Segundo as pesquisas de Alexandre e Vieira (2004) e de Wathier-Abaid, Dell’Aglio e Koller (2010) a criança institucionalizada tende a sofrer algum atraso no seu desenvolvimento saudável, depois de abandonada, o que, muitas vezes, afecta o seu vínculo com outras pessoas.
Os estudos de Pinhel, Torres e Maia (2009) dizem que este atraso no desenvolvimento se relaciona com a qualidade de cuidados que a criança adquire na primeira infância, por parte dos seus pais.
Algumas das dificuldades de desenvolvimento das crianças institucionalizadas, encontradas em várias pesquisas são ainda o défice intelectual e cognitivo, principalmente ao nível da linguagem, bem como traços agressivos e dificuldade de interacção com as outras crianças, factores estes que, mais tarde, vão manifestar-se em dificuldades de aprendizagem e adaptação social (Siqueira, & Dell’Aglio, 2006).
Além disto é comum a criança institucionalizada, devido à sua condição ter uma ideia negativa de si mesma, o que lhe limita muito a capacidade para se sentir aceite socialmente, traduzindo-se em maior dificuldade para construir laços afectivos com os demais, ao contrário da realidade da maioria das crianças não institucionalizadas (Dell’Aglio, & Hutz, 2004).
Verifica-se ainda que as crianças institucionalizadas chegam frequentemente às instituições por decisão judicial, provenientes de abandono, negligência parental, violência doméstica, abuso sexual e, em muitos casos, com Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (HIV) e necessidades educativas especiais (NEE) (Alexandre, & Vieira, 2004).
Pinhel, Torres e Maia (2009) na mesma linha de ideias, referem o historial de maus tratos e de negligência, como características de crianças institucionalizadas, com depressão, quando comparadas com crianças não institucionalizadas.
Os estudos de Wathier-Abaid, Dell’Aglio e Koller (2010) corroboram os estudos acima mencionados, na medida em que, encontram sintomas de depressão associados à institucionalização destas crianças, que vêm de famílias muito numerosas, em situação de risco e onde a procura de afecto se torna numa competição entre os vários filhos para com as figuras parentais.
Por outro lado, em alguns casos, quando as crianças institucionalizadas estão junto com os seus irmãos, acontece o fenómeno da protecção do irmão mais velho sobre o irmão mais novo, o que, por conseguinte, mostra a capacidade de resiliência entre estas crianças no que concerne ao seu desenvolvimento saudável (Alexandre, & Vieira, 2004).
No entanto, também é comum em crianças institucionalizadas que, uma vez adoptadas, desenvolvam comportamentos vinculativos disfuncionais e aleatórios, ou seja, criam proximidade com adultos próximos e com adultos não próximos (Pinhel, Torres, & Maia, 2009).
Esta situação pode acontecer porque as crianças institucionalizadas têm um mundo social mais alargado, pelo facto de não viverem com os seus familiares, principalmente a partir do momento em que saem da instituição (Siqueira, & Dell’Aglio, 2006).
É ainda importante que estas crianças possam brincar entre si, uma vez que as actividades realizadas nas brincadeiras, são algumas das formas de as crianças criarem vínculos, evidenciando que brincar é essencial para a saúde humana a todos os níveis, além de nos fornecer dados importantes sobre a estrutura da criança (Alexandre, & Vieira, 2004).
Conclusão
Verificamos assim que a necessidade de vinculo afectivo é fundamental, por ser um dos cuidados básicos de que toda a criança tem necessidade e direito e que, no caso de crianças institucionalizadas, este vínculo sofre uma quebra que se pode traduzir em várias consequências negativas para estas crianças. Uma das consequências mais nefastas é a tendência para um quadro depressivo, devido ao elevado número de crianças dentro das instituições, para o baixo número de cuidadores disponível. Outra das consequências mais marcantes é o desenvolvimento mais tardio de que estas crianças padecem, tanto ao nível intelectual e cognitivo, como ao nível emocional, uma vez que, além do facto de viver dentro de uma instituição, estas crianças provêm habitualmente de famílias com histórico de negligência e de violência.
References:
- Wathier-Abaid, J.L.W., Dell’Aglio, D.D., & Koller, S.H. (2010). Preditores de sintomas depressivos em crianças e adolescentes institucionalizados. Predictors of Depressive Symptoms in Children and Adolescents Institucionalized.Psychol. V.9, nº1, p.199-212. Acedido a 7 de Fevereiro de 2016 em http://www.scielo.org.co/pdf/rups/v9n1/v9n1a16
- Alexandre, D.T., & Vieira, M.L. (2004). RELAÇÃO DE APEGO ENTRE CRIANÇAS INSTITUCIONALIZADAS QUE VIVEM EM SITUAÇÃO DE ABRIGO. Psicologia em Estudo, Maringá. V.9, nº2, p.207-217. Acedido a 7 de Fevereiro de 2016 em https://www.researchgate.net/profile/Mauro_Vieira2/publication/255671281_Relao_de_apego_entre_crianas_institucionalizadas_que_vivem_em_situao_de_abrigo/links/00b4953814ae22291b000000.pdf
- Dell’Aglio, D.D., & Hutz, C.S(2004). Desempenho Escolar em Crianças e Adolescentes institucionalizados. Psicologia: Reflexão e Crítica. 17(3), p. 341-350. Acedido a 7 de Fevereiro de 2016 em http://www.scielo.br/pdf/%0D/prc/v17n3/a08v17n3.pdf
- Pinhel, J., Torres, N., & Maia, J. (2009). Crianças institucionalizadas e crianças em meio familiar de vida: representações de vinculação e problemas de comportamento associado. Análise Psicológica, 4 (xxvii): 509-521. Acedido a 7 de Fevereiro de 2016 em http://www.scielo.mec.pt/pdf/aps/v27n4/v27n4a06.pdf
- Siqueira, A.C., & Dell’Aglio, D.D. (2006). O IMPACTO DA INSTITUCIONALIZAÇÃO NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA: UMA REVISÃO DE LITERATURA. Psicologia & Sociedade. 18(1): 71-80. Acedido a 7 de Fevereiro de 2016 em http://www.scielo.br/pdf/psoc/v18n1/a10v18n1