Perturbação desintegrativa da segunda infância
A perturbação desintegrativa da segunda infância associa-se a limitações no desenvolvimento global da criança que se fazem notar logo nos primeiros anos. A patologia não tem cura, pelo que é necessário um acompanhamento contínuo ao longo de todo o percurso de vida do indivíduo.
De acordo com Mercadante, Gaag e Schwartzman (2006) a perturbação desintegrativa da segunda infância diz respeito a uma condição que vai além da sintomatologia associada ao autismo. Ela foi definida, pela primeira vez, em 1908, por Heller, que se apercebeu, ao observar seis crianças, que, após um primeiro desenvolvimento aparentemente normal, nos três a quatro primeiros anos de idade, as mesmas começaram a apresentar falhas de desenvolvimento muito graves no que diz respeito às competências sociais e comunicativas (Mercadante, Gaag, & Schwartzman, 2006).
No que concerne à origem deste tipo de perturbação, ela pode ser proveniente de diferentes situações tais como problemas na relação, problemas associados a uma educação sem a orientação adequada, como é o caso do abuso ou a negligência infantil, problemas académicos, perturbação da identidade, comportamentos anti-sociais por parte da criança ou adolescente, entre outros (AMERICAN PSYCHIACTRIC ASSOCIATION DSM-IV-TR MANUAL DE DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICA DAS PERTURBAÇÕES MENTAIS, 2002).
É característica desta perturbação que a mesma, chegue em determinado momento do desenvolvimento em que sofre um impacto muito notório que se vai prolongar pelo resto da vida do indivíduo (Mercadante, Gaag, & Schwartzman, 2006).
A perturbação desintegrativa da segunda infância apresenta-se como uma condição rara, mas associada a outros tipos de patologias como perturbações do metabolismo, perturbações neurológicas, como a encefalite e a epilepsia e afeta, manifestamente, a capacidade da linguagem, principalmente no que diz respeito a patologias do foro neurológico (Mercadante, Gaag, & Schwartzman, 2006).
Mercadante, Gaag e Schwartzman (2006) indicam ainda que é importante distinguir a perturbação desintegrativa da segunda infância, da perturbação do espectro do autismo, uma vez que, no caso da segunda, os sintomas não se apresentam tão óbvios nos primeiros dois a três anos de vida.
É necessário compreender que este tipo de perturbação não tem, ainda, tratamento e que, uma vez estando perturbações do foro neurológico associadas a esta, tais como a epilepsia, é necessário que o acompanhamento da criança seja feito de forma multidisciplinar (Mercadante, Gaag, & Schwartzman, 2006).
Isto significa que é importante intervir, não só, junto da criança, mas também, junto dos pais, ou seja, será necessário fazer acompanhamento psicoeducacioal aos pais, devido à condição associada à perturbação, já que estamos perante uma patologia cujos sintomas apresentam atraso mental profundo (Mercadante, Gaag, & Schwartzman, 2006).
Uma das situações que são mais frequentes de acontecer, é o facto de, sendo a perturbação desintegrativa da segunda infância, semelhante à perturbação do espectro autista, os pais comecem a frequentar espaços orientados para o acompanhamento de crianças autistas, começando a sentir-se frustrados quando, devido às diferenças que as separam, não começam a observar resultados junto dos filhos (Mercadante, Gaag, & Schwartzman, 2006).
Conclusão
A perturbação desintegrativa da segunda infância caracteriza-se, à semelhança do que acontece no caso da perturbação do espetro do autismo, pelas limitações no que diz respeito ao desenvolvimento da criança nos vários níveis, nos primeiros anos de vida. No entanto, no caso da perturbação do espetro autista, os sinais associados à patologia, não se mostram tao óbvios nos primeiros anos de vida, ao contrário da perturbação desintegrativa em que se notam limitações ao nível do desenvolvimento a partir logo dos primeiros anos.
Verifica-se ainda que crianças diagnosticadas com perturbação desintegrativa, não demonstram respostas positivas quando submetidas a intervenção, o que faz com que a mesma deva ser necessariamente contínua, já que não existe cura para a patologia e é necessário haver um acompanhamento adequado para com os pais. É ainda importante lembrar que a intervenção nestes quadros clínicos deve ser sempre multidisciplinar.
References:
- AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION DSM.IV-TR (2002). MANUAL DE DIAGNÓSTICO E ESTTÍSTICA DAS PERTURBAÇÕES MENTAIS. 4ª ED. Lisboa: CLIMEPSI EDITORES;
- Mercadante, Marcos T, Van Der Gaag, Rutger J, & Schwartzman, Jose S. (2006). Transtornos invasivos do desenvolvimento não autísticos: síndrome de Rett, transtorno desintegrativo da infância e transtornos invasivos do desenvolvimento sem outra especificação. Revista Brasileira de Psiquiatria, 28 (Suppl. 1), s12-s20. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-44462006000500003&script=sci_arttext&tlng=pt.