Canis lupus familiaris (Cão)
Canis lupus familiaris (Cão) | ||||||
Reino | Filo | Classe | Ordem | Família | Género | Espécie |
Animalia | Chordata | Mammalia | Carnivora | Canidae | Canis | C. lupus |
Distrib. Geográfica | Estatuto Conserv. | Habitat | Dieta | Predação | Longevidade |
Cosmopolita | – | Vivem em associação com o ser humano | Carnívoros oportunistas | – | 20 anos |
Características Físicas |
|
Anatómicas | Grande variedade de tamanhos, cores e formas |
Dimorfismo Sexual | Os machos são maiores do que as fêmeas |
Tamanho | 6,3 até 110 cm (altura ao garrote) |
Peso | 900 g até 110 kg |
O cão (Canis lupus familiaris) é um mamífero pertencente à família dos canídeos e, tal como o chacal e o coiote, ao género Canis. Descendente do lobo (Canis lupus), pensou-se inicialmente que o cão pertencia a uma espécie distinta, chamada Canis familiaris (Lineu, 1758). Estudos genéticos demonstraram no entanto que, na realidade, se trata de uma subespécie doméstica do lobo.
Origem
Até ao final do século passado, pensou-se que o cão, cuja espécie foi apelidada de Canis familiaris (Lineu, 1758) por se tratar de um canídeo doméstico, poderia descender quer do lobo (Canis lupus), do chacal (Canis aureus) ou ainda do coiote (Canis latrans). Com os avanços na área da genética e, em particular, com a sequenciação do genoma do cão, descobriu-se que os seus genes diferem dos do lobo cinzento em apenas 0,04%. Recentemente, estudos do DNA mitocondrial (transmitido pela linha materna) revelaram uma similaridade em 99,8% entre o cão e o lobo cinzento, sendo esta “apenas” de 96% entre o cão e o coiote. O cão e o lobo cinzento atual, não só descendem do mesmo ancestral, um lobo primitivo hoje extinto, como a sua proximidade genética revela que não são espécies distintas, sendo o cão uma subespécie de lobo.
Há um consenso dentro da comunidade científica quanto ao facto de o cão descender do lobo, no entanto os cientistas discordam no que toca ao momento, ao local e à forma como a domesticação do lobo ocorreu.
Anatomia e morfologia geral
Variação morfológica em cães
Os cães podem apresentar uma grande variedade de tamanhos, cores e formas. Mas todos possuem a mesma estrutura geral com um corpo dividido em vários pontos e regiões anatómicas. Os principais encontram-se representados na figura seguinte.
Morfologia externa do cão
Legenda:
1- Trufa | 8- Cauda | 15- Flanco | 22- Metacarpo |
2- Canal nasal | 9- Coxa | 16- Ventre | 23- Carpo |
3- Crânio | 10- Ponta do jarrete | 17- Peito/caixa torácica | 24- Antebraço |
4- Pescoço | 11- Jarrete | 18- Cotovelo | 25- Esterno |
5- Garrote | 12- Pata posterior | 19- Braço | 26- Garganta |
6- Dorso | 13- Perna | 20- Esporão | A- Stop |
7- Garupa | 14- Joelho | 21- Pata anterior | B- Altura no garrote |
Dentição
Os primeiros dentes do cão aparecem por volta do 20º dia de vida. A dentição de leite, constituída por 32 dentes (6 incisivos, 2 caninos, 8 pré-molares em cada maxilar), é perdida gradualmente entre os 4 e os 7 meses de idade, sendo substituída pela dentição definitiva.
O cão adulto possui 42 dentes, sendo a fórmula dentária por hemimaxilar:
I 3/3; C 1/1; PM 4/4; M 2/3
Os incisivos são pequenos e os caninos são dentes fortes com uma forma cónica. Os dentes pré-molares e molares recebem o nome de pré-carniceiros, carniceiros (4º pré-molar no maxilar superior e 1º molar no maxilar inferior) e tuberculosos.
Alimentação
Filogeneticamente, os cães são mamíferos pertencentes à ordem Carnivora. Apresentam uma elevada necessidade de proteína, um tubo digestivo relativamente curto e uma dentição adaptada à dieta carnívora, com incisivos pouco desenvolvidos e caninos grandes, aguçados e fortes. No entanto, também produzem enzimas, tais como a amílase, que permitem a digestão de vegetais.
Ao longo da sua história, desenvolveram um comportamento omnívoro oportunista, alimentando-se dos restos deixados ou oferecidos pelos seres humanos. Deste modo, e ao contrário do gato (Felis catus) que é carnívoro estrito, pode definir-se o cão como sendo carnívoro com tendência omnívora.
Reprodução
Ao contrário do lobo, que é monogâmico, o cão é um animal promíscuo, ou seja, possui vários parceiros sexuais ao longo da sua vida.
A idade da entrada na puberdade depende principalmente do peso do cão em adulto e varia entre os 6 meses nos cães de porte pequeno, e os 18 meses nas raças gigantes.
Nas fêmeas, a puberdade corresponde ao momento em que surge o primeiro cio (fase folicular do ciclo ovárico) e ocorre quando atingem cerca de 80% do seu peso em adulto.
O ciclo éstrico (ou ciclo sexual) das cadelas é do tipo monoéstrico não-sazonal, ou seja, ocorre apenas um ciclo éstrico em cada época reprodutiva independentemente da época do ano.
Em média, uma cadela entra em cio, de forma regular, a cada 6 meses. Os cios podem ser mais ou menos frequentes dependendo da raça (a cada 5 meses nas fêmeas Rottweiler ou a cada 8 meses nas de raça Labrador retriever, por exemplo) mas acontecem sempre de forma regular.
O tempo de gestação é, em média, de 63 dias e o número de crias varia consoante a raça. Uma cadela tem geralmente de 4 a 8 crias (em cada gestação) mas este valor pode subir até 10 nos cães de raça Pequinês ou ser de apenas de 3 na raça Spitz Alemão.
Sistema sensorial
Olfato
Este é o principal sentido dos cães. Permite-lhes, por exemplo, diferenciar perfeitamente cada membro de uma família pelo seu cheiro.
Os cães possuem um sistema olfativo muito desenvolvido, sendo por isso denominados macrosmáticos, com uma área cerebral dedicada ao olfato com 40 vezes mais células do que a mesma área no ser humano e uma superfície de mucosa olfativa muito extensa e provida de numerosas células recetoras. A acuidade olfativa varia conforme a raça do cão. Encontramos, por exemplo, 200 cm2 de mucosa olfativa com 220 milhares de células recetoras nos cães de raça Labrador retriever e 85,5 cm2 de mucosa olfativa com 147 milhares de células recetoras nos Fox Terrier.
Audição
A audição dos cães também é muito desenvolvida. São capazes de ouvir sons numa gama de frequências que vai dos 40 Hz até aos 60 000 Hz. Ao contrário do ser humano, são sensíveis a ultrassons (frequências superiores a 16 000 Hz).
Visão
A acuidade visual (capacidade de focar) dos cães é um pouco inferior à do ser humano. No entanto, possuem uma visão noturna muito superior devido à presença de uma película fluorescente na retina, chamada Tapetum lucidum, que amplifica a luz.
Têm uma visão dicromática, ao contrário da do ser humano que é tricromática. Possuem cones sensíveis ao amarelo e ao azul e são pouco sensíveis ao vermelho e ao verde.
Paladar
Ao contrário do olfato e da audição, o paladar dos cães é menos desenvolvido do que no ser humano. Possuem à volta de 1700 papilas gustativas enquanto no Homem são 9000. Estas são estimuladas principalmente pelos aminoácidos (constituintes das proteínas).
Tato
O tato é pouco desenvolvido nos cães, porém é importante nos primeiros dias de vida assim como na relação afetiva com outros animais e com o ser humano.
References:
- Case, L. (2013). The Dog. Arnes, AI: Wiley.
- Evans, H. and De Lahunta, A. (2013). Miller’s Anatomy of the Dog. London: Elsevier Health Sciences.
- Galibert, F., Quignon, P., Hitte, C. and André, C. (2011). Toward understanding dog evolutionary and domestication history. Comptes Rendus Biologies, 334(3), pp.190-196.
- Wayne, R. and Ostrander, E. (2007). Lessons learned from the dog genome. Trends in Genetics, 23(11), pp.557-567.