Perturbação de oposição e desafio (POD)
A POD expressa-se, fundamentalmente, por um comportamento anormalmente agressivo e desafiador da criança/adolescente para o adulto. Para se fazer um diagnóstico correto, é importante perceber, ao pormenor, toda a sintomatologia associada.
Segundo os estudos de Homem, Gaspar, Santos, Azevedo e Canavarro (2013) e Sá, Albuquerque e Simões (2008) a POD, descrita no DSM III: Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (American Psychiatric Association, 2002), diz respeito a uma perturbação do comportamento e défice de atenção na adolescência. De referir que a partir da nova edição, DSM-IV, o conceito de POD, passou a ser assumido como Perturbação de Oposição (PO) (Homem, Gaspar, Santos, Azevedo, & Canavarro, 2013).
Homem, Gaspar, Santos, Azevedo e Canavarro (2013) consideram que, tanto a PO, juntamente com a Hiperatividade com Défice de Atenção (HDA), têm tido um crescimento exponencial, de tal forma, que se tem tornado preocupante, uma vez que se verificam problemas no desenvolvimento das crianças e dos adolescentes quando se manifestam portadores de problemas de comportamento externalizante.
Para que possamos dizer que estamos diante de uma perturbação de oposição, é necessário que se verifique, repetidamente, ao longo de pelo menos seis meses, um conjunto de sintomas (quatro, no mínimo) tais como:
- Acessos de cólera
- Discussão com adultos
- Incumprimento de regras
- Incomodar os outros
- Responsabilizar os outros pelas próprias atitudes inadequadas
- Sentir-se excessivamente ofendido com os outros
- Raiva
- Ressentimento
- Atitudes de rancor e vingança
- Impulsividade
(Borduin, Henggeler, & Marley, 1995, cit in Sá, Albuquerque, & Simões, 2008; Homem, Gaspar, Santos, Azevedo, & Canavarro, 2013).
Crianças com problemas de PO chegam aos gabinetes de psicologia, frequentemente sinalizadas como sendo indisciplinadas, pouco autorreguladas, descontroladas e com um histórico comportamental padronizado (Homem, Gaspar, Santos, Azevedo, & Canavarro, 2013).
A PO não se manifesta necessariamente em contexto escolar ou comunitário, pelo que é mais frequente de ocorrerem episódios agessivos em casa, associados a traços de HDA, problemas de aprendizagem e dificuldades de comunicação, que se tornam mais evidentes na puberdade e mais comuns em rapazes do que em raparigas (Sá, Albuquerque, & Simões, 2008).
Perturbação de comportamento, condutas antissociais e perturbações de humor com ansiedade, são alguns dos sintomas que podem trazer um diagnóstico de PO durante a infância (Homem, Gaspar, Santos, Azevedo, & Canavarro, 2013).
Quando estamos perante uma criança com antecedentes de conduta inadequada tais como violação de regras básicas de socialização, a situação é mais grave (Sá, Albuquerque, & Simões, 2008).
Habitualmente, indivíduos portadores de PO são vistos, por parte dos educadores, pais e profissionais como “mal comportados” pelo que qualquer acesso de agressividade ou desobediência, mesmo que com contornos desafiadores, é visto como normal, de acordo com a idade (normalmente pré-escolar) e não como originados por uma perturbação de comportamento externalizante (Homem, Gaspar, Santos, Azevedo, & Canavarro, 2013).
Mencionamos as características de HDA pelo fato de que a mesma, na maioria das vezes, vir associada a comportamentos de PO, principalmente na infância, além de outros défices neuropsicológicos que também lhe estão associados, embora a informação acerca dos mesmos, além de pouca, seja contraditória (Sá, Albuquerque, & Simões, 2008).
Podemos, contudo, referir dificuldades ao nível das competências orais e das capacidades executivas (Sá, Albuquerque, & Simões, 2008).
Normalmente a atenção está pouco em evidência, porém, uma vez presente, traduz-se em forma de agressividade, a hiperatividade e a impulsividade, o que acaba por se tornar confuso quando há necessidade de fazer um diagnóstico (Sá, Albuquerque, & Simões, 2008).
Uma das maiores preocupações relacionadas com as crianças e adolescentes portadores de PO é que o diagnóstico traz, agregada, a hipótese de estes indivíduos virem a ter problemas de comportamento tanto na adolescência como na idade adulta, os quais podem assumir contornos de personalidade antissocial, como alcoolismo e toxicodependência (Homem, Gaspar, Santos, Azevedo, & Canavarro, 2013). A par de todos estes problemas longitudinais, ainda na infância, estas crianças sofrem, muitas vezes, com o isolamento social, porque são rejeitadas pelos pares (Homem, Gaspar, Santos, Azevedo, & Canavarro, 2013).
Conclusão
A PO apresenta-se com um comportamento patologicamente inadequado, porque repetitivo e ao longo de toda a infância e adolescência, o que causa problemas em vários níveis, para o indivíduo. Referimo-nos a problemas de desenvolvimento, sociais, interpessoais, de autocontrolo, entre outros. Uma vez que a perturbação é facilmente confundida com a HDA, já que vem, frequentemente associada, é importante analisar os sintomas meticulosamente para se fazer um diagnóstico correto.
References:
- Homem, Tatiana Carvalho et al. Perturbações de comportamento externalizante em idade pré-escolar. O caso específico da perturbação de oposição. Aná. Psicológica [online]. 2013, vol.31, n.1 [citado 2016-07-07], pp. 31-48. Disponível em http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?pid=S0870-82312013000100003&script=sci_arttext&tlng=pt;
- Sá, Diana Sofia Ferreira de; Albuquerque, Cristina Petrucci e Simões, Mário Manuel Rodrigues. Neuropsychological assesment of the oppositional defiant disorder. , Saúde & Doenças [online]. 2008, vol.9, n.2 [citado 2016-07-07], pp.229-317. Disponível em http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?pid=S1645-00862008000200009&script=sci_arttext&tlng=en.