A doença bipolar na criança e no adolescente é marcada por contornos mistos, crónicos e episódicos. Por esse motivo verifica-se que o tratamento da mesma deve ser realizado de forma combinada (farmacológico e terapêutico).
A revisão bibliográfica levada a cabo por Rohde e Tramontina (2005) permite compreender que os estudos focados na doença bipolar das crianças e adolescentes, têm maior incidência nos Estados Unidos da América (EUA).
Estudos levados a cabo por Lima (2004) demonstraram que a doença bipolar na criança, bem como a depressão, se relacionam com fatores genéticos, temperamento, história de vida pessoal e escolar, abuso sexual e questões neurobiológicas, que levam à necessidade de acompanhamento psicológico combinado com fármacos.
Em muitos casos, a doença bipolar na infância e na adolescência, chega mesmo a levar a hospitalizações repetidas e ao suicídio, frequentemente provenientes do historial de abuso sexual ou do consumo de substâncias (Rohde, & Tramontina, 2005).
Devido ao transtorno depressivo, a criança ou adolescente sofre de sintomas como a mania, que devido aos seus contornos, afeta a performance escolar e que pode desenvolver para diferentes graus do transtorno bipolar, tais como:
- Perturbação bipolar mista: mistura de mania com depressão, na qual a criança tem pelo menos uma crise diária alternada com mania;
- Perturbação bipolar depressiva: crise de depressão com uma ou mais crises prévias de mania;
- Ciclotimia: várias crises de hipomania ao longo de um ano com humor depressivo ou perda de interesse/prazer, mas que não chega a preencher todos os critérios associados à depressão maior;
- Perturbação bipolar não especificada: traços maníacos ou de depressão sem características das outras perturbações bipolares específicas.
(Lima, 2004).
Segundo Leibenufpt et al., (2003) verifica-se ainda que a perturbação bipolar na criança e no adolescente pode ser observada em quatro diferentes formas, de acordo com o fenótipo:
- Sintomatologia completa – grandiosidade e/ou euforia (mais estreito);
- Sintomatologia maníaca e crises claras entre um a três dias (intermediário);
- Crises claras de irritabilidade e mania sem euforia (intermediário);
- Sintomatologia crónica (sem intervalo) sem características maníacas mas com grave irritabilidade e hiperexcitabilidade (amplo).
(Leibenufpt et al., 2003, cit in Rohde, & Tramontina, 2005, p. 2).
Rohde e Tramontina (2005) em concordância com a descrição dos sintomas acima referidos, mencionam que, no caso dos adolescentes, a mania se manifesta de diferentes formas e que na fase pré púbere, o humor irritável se traduz em explosões de afeto com contornos de euforia.
Estes indivíduos têm habitualmente irregularidades de humor, com o aumento de traços de irritabilidade, são agressivos, quer com eles mesmos quer com os outros, são distraídos, fantasiosos, ansiosos, entre outros traços (Lima, 2004).
Rohde e Tramontina (2005) focam os traços de ansiedade associados ao comportamento disruptivo, além de um desenvolvimento emocional afetado devido às incertezas decorrentes da doença.
Depressão e mania momentâneas, são características da doença, principalmente nas crianças em idade pré púbere (Rohde, & Tramontina, 2005).
Um dos transtornos mais comuns é a Perturbação de Hiperatividade com Défice de Atenção (PHDA), o que, por vezes, dificulta o diagnóstico da doença bipolar, devido aos seus contornos semelhantes (Lima, 2004; Rohde, & Tramontina, 2005).
Verifica-se ainda que a bipolaridade na idade adulta, advém muitas vezes de transtornos de humor depressivo, na infância e na adolescência (Lima, 2004).
Tratamento
A intervenção junto de crianças e adolescentes com a doença bipolar, faz-se principalmente com reposição de serotonina, embora seja necessário, antes de iniciar este tratamento, fazer um controlo prévio de sintomas de mania, uma vez que a indução de serotonina traz efeitos secundários de episódios de crise maníaca (Rohde, & Tramontina, 2005).
Outro tipo de fármaco também possível de administrar a crianças e adolescentes com doença bipolar, será um antipsicótico especifico para atuar ao nível da estabilização de variações de humor (Rohde, & Tramontina, 2005).
A par de todo este tratamento farmacológico é imprescindível que o profissional responsável pelo tratamento da criança ou adolescente, fale com ele e com a família sobre os efeitos da medicação prescrita e se mantenha informado sobre os avanços quer do tratamento quer da doença (Rohde, & Tramontina, 2005).
Devido à irregularidade de crises e ao caráter crónico da doença, é necessário ter a noção de que, embora de forma atenuada, o indivíduo terá sempre leves sintomas da doença, mesmo com tratamento farmacológico, pelo que a combinação com a terapia cognitivo-comportamental e psicossocial, devem ser colocadas em prática (Rohde, & Tramontina, 2005).
Conclusão
A doença bipolar tanto na criança como no adolescente vem acompanhada de outros tipos de perturbação como a depressão, a ansiedade, a mania, a PHDA, etc. Devido à mistura de sintomas, é necessário o tratamento multifacetado, numa combinação de psicofármacos e terapia quer cognitivo-comportamental, quer psicossocial, tanto para estabilizar as alterações de humor como para que o indivíduo desenvolva competências que lhe permitam ter uma qualidade de vida mais estável.
É ainda necessário compreender que, além de a doença estar normalmente associada a um historial de vida traumático, ela nunca irá extinguir-se por completo, mas sim, atenuar, mesmo na vida adulta.
References:
- Lima, D. (2004). Depressão e doença bipolar na infância e na adolescência. Bipolar disorder and depression in childhood and adolescence. Pediatr 80(2supl): s11-20. Acedido a 12 de abril d 2016 em http://www.jped.com.br/conteudo/04-80-S11/port_print.htm
- Rohde, L.A., & Tramontina, S. (2005). O tratamento farmacológico do transtorno bipolar na infância e adolescência. Pharmacological Treatment of Juvenile Bipolar Disorder. Psiq.Clín. 32, supl 1; 117-127. Acedido a 13 de abril de 2016 em http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/19903/000458543.pdf?sequence=1