Pretendemos compreender como surge a depressão, de acordo com os fatores que a condicionam e com as formas de tratamento disponíveis para tratamento.
De acordo com o DSM-IV, (APA, 1995), a depressão apresenta-se por meio do transtorno do humor ou afetivo, como por exemplo, o episódio depressivo major (adultos) que acarreta, pelo menos, cinco dos seguintes sintomas: humor deprimido/irritável; diminuição do interesse/prazer; aumento/perda drástica de peso; insónia/hipersónia; agitação/atraso psicomotor; cansaço; sentimento exagerado de inutilidade/culpa; dificuldade de pensamento/concentração; ideias/tentativas/planos suicidas; humor depressivo (sempre presente) (APA, 1995, cit in Monteiro, & age, 2007).
Soares e Teixeira (2007) falam ainda da sensação de tristeza, baixa auto-estima, negativismo, desespero, etc, devido à presença do humor depressivo proveniente de situações desconfortáveis tais como a frustração ou mesmo a perda.
Do ponto de vista das ciências biológicas a depressão era interpretada como proveniente de sintomas hereditários, o que remetia para a necessidade de fazer um tratamento farmacológico, à base de antidepressivos, e, variavelmente, de psicoterapia cognitiva, que a medicina entendia como sendo eficaz (Rodrigues, 2000, cit in Monteiro, & Lage, 2007).
Para Soares e Teixeira (2007) a endorfina também influencia a existência ou não de perturbação depressiva, uma vez que a atividade física estimula naturalmente a sensação de euforia. Falamos de neurotransmissores como a noradernalina e serotonina, que, uma vez libertas, aliviam os sintomas (Soares, & Teixeira, 2007).
Abreu (2006) refere que vários modelos teóricos mostram algumas características das pessoas com depressão tais como queixas, choro em demasia, irritação e críticas extremistas, devido a demasiados reforços negativos e baixo teor de reforços positivos.
No que diz respeito a algumas das formas de tratamento, sabe-se que a introdução do reforço positivo em determinado comportamento tem o efeito antidepressivo no indivíduo, contudo, quando o mesmo tem comportamentos e reações de evitamento e isolamento, é difícil conseguir introduzir esta estratégia (Abreu, 2006).
Esta dificuldade em aceitar o reforço positivo, pelo indivíduo com depressão, deve-se, muitas vezes, à perda do entusiasmo por coisas que antes gostava de fazer, deixar de ter acesso aos estímulos reforçadores (por exemplo, com uma mudança de casa, perder a capacidade para dar a resposta aos estímulos em questão), ou ainda não ter essa capacidade (Abreu, 2006).
Monteiro e Lage (2007) indicam, segundo a literatura, que a depressão se trata de uma sensação de desamparo vivida pelo indivíduo no que concerne à capacidade psíquica para lidar com o mal-estar.
Por vezes, a depressão é desencadeada pelo fato de o indivíduo se ocupar a fazer as atividades que lhe proporcionam prazer, por um breve período de tempo, o que leva à necessidade de registar estas atividades ao longo do dia e a classifica-las qualitativamente de acordo com o estado de humor correspondente, no sentido de as utilizar como antidepressivo psíquico (Abreu, 2006).
Para além do registo de tarefas diárias promotoras de bem-estar, o indivíduo deve ainda fazer psicoterapia e tratamento farmacológico, bem como o exercício físico já anteriormente mencionado que reduz a sensação de ansiedade, tensão e depressão (Soares, & Teixeira, 2007).
O que acontece frequentemente, segundo a revisão bibliográfica de Monteiro e Lage (2007) é que o estado de depressão leva o sujeito a sentir-se incapaz de realizar determinadas atividades necessárias para a sua adaptação à sociedade, porque vê as situações menos boas como a falta de emprego e o avanço da tecnologia como impossíveis de dar resposta (Monteiro, & Lage, 2007).
Influencias do desenvolvimento humano na depressão
Segundo o modelo de Beck, os comportamentos depressivos tinham origem nos primeiros anos de vida pelo que os mesmos eram vividos em experiências interpretadas e sentidas como negativas, que influenciariam a tendência a um perfil depressivo (Abreu, 2006).
Monteiro e Lage (2007) referem ainda que a depressão acarreta traços de neurose episódica, proveniente do próprio desenvolvimento humano.
Sensação de infelicidade depressiva à luz da psicanálise (a noção de felicidade fica distorcida de modo a ser vista apenas como o evitar da infelicidade)
- Sensação corporal de dor devido ao estado de fragilidade;
- Interpretação do mundo externo como ameaçador devido às guerras e à força da natureza;
- Deceção devido a relacionamentos afetivos fracassados com outros seres humanos.
(Monteiro, & Lage, 2007, p.9).
Apesar de toda a sintomatologia apresentada, é preciso compreender que nem sempre comportamentos de tristeza ou mudanças de comportamento significam que o indivíduo sofre de perturbação depressiva, uma vez que, os mesmos podem ser ultrapassados após um determinado período de tempo quando a libido é direcionada para outros estímulos (Monteiro, & Lage, 2007).
Conclusão
Pode dizer-se que a depressão é uma perturbação do foro psíquico e físico, uma vez que, para além de sintomas de tristeza, baixa auto-estima, frustração, sentimentos de culpa, fadiga, etc, ela também acarreta fatores hereditários. Por todos estes motivos, o indivíduo perde, habitualmente, a capacidade e a vontade de exercer atividades que anteriormente lhe proporcionavam prazer, durante um período de tempo patologicamente prolongado.
Assim, as formas mais comuns de tratamento da depressão são combinações de tratamento farmacológico com tratamento psicoterapêutico.
References:
- Abreu, P.R. (2006). Terapia analítico-comportamental da depressão: uma antiga ou uma nova ciência aplicada? Behavioral-analytical therapy of depression: Na old or a new applied science? Rev Psiq.Clín. 33(6); 322-328;
- Monteiro, K.C.C., & Lage, A.M.V. (2007). Depressão – Uma “Psicopatologia” Classificada nos Manuais de Psiquiatria. Depression: A psychopathology classified in psychiatry manuals. PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO. 27(1), 106-119. Acedido a 4 de abril de 2016 em http://www.scielo.br/pdf/pcp/v27n1/v27n1a09.pdf
- Costa, R.A., Soares, L.R., Teixeira, J.A. C. (2007). Benefícios da atividade física e do exercício físico na depressão. Revista do Departamento de Psicologia. V19, nº1, p.269-296. Acedido a 4 de abril de 2016 em http://www.scielo.br/pdf/rdpsi/v19n1/22.pdf