Bullying Homofóbico

Bullying Homofóbico e LGBT. Em que consiste?

Esta revisão da literatura pretende compreender em que consiste o Bullying Homofóbico e em que medida ele traz consequências negativas para toda a comunidade (vítimas, pares, professores, pais, educadores). A partir da mesma, podemos perceber como a sociedade e os meios de comunicação influenciam este flagelo, as respostas que já existem por parte das instituições e aquilo que ainda é preciso fazer. Por fim, pretendemos saber de que tipo de vítimas estamos a falar, e a reacção das mesmas às constantes agressões de que são alvo.

Palavras-chave: Bullying; Homofobia; Adolescência; Educação

Bullying

Segundo Souza, Silva e Faro (2015) o Bullying caracteriza-se por atitudes repetitivas de abuso físico ou psicológico entre agressor/es e vítima/s que provoca sofrimento ao/s agredido/s, tornando-se num problema social e de saúde para o mesmo.

Mishna, Newman, Daley e Solmon (2009) dizem que abrange uma grande parte da população além das crianças e jovens, e que, no caso de vítimas gays e lésbicas, precisa de análise jurídica, uma vez que vem aumentando, e em diferentes contextos.

O Frances McClelland Institute Children, Youth, and Families (s.d.) começa por distinguir os indivíduos Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trangéneros (LGBT) e Andrógenos de acordo com as suas diferença. A saber:

  • Lésbica – mulher cuja orientação sexual se caracteriza pela atracção sexual e emocional por outra mulher;
  • Gay – pessoa cuja orientação sexual se caracteriza pela atracção sexual e emocional pelo mesmo sexo, referindo-se, tradicionalment a homens;
  • Bissexual – pessoa cuja orientação e comportamento sexual se caracteriza por incluir ambos os sexos. Este termo é também identificado sexualmente por pessoas que se sentem sexual e emocionalmente atraídas por pessoas dos dois géneros;
  • Trangénero – o termo “guarda-chuva” caracteriza-se pela descrição de pessoas cuja expressão de género é não-conformista e/ou cuja identidade de género é diferente do sexo com que nasceram;
  • Andrógeno – pessoa que se caracteriza pela ausência de expressão de qualquer um dos géneros e/ou comportamentos e que não se identifica com as expectativas tradicionais da sociedade. Pode ou não ser LGBT.

Bullying Homofóbico

O Bullying, pode relacionar-se com diferentes preconceitos como o Religioso, o Racial, o Cultural ou ainda o Homofóbico, no qual nos focaremos e que nos leva a entender que, além do ensino, é urgente que as escolas se foquem também no incentivo ao respeito pela diferença (Souza, Silva, & Faro, 2015).

Garcia (2009) corrobora estas ideias, ao defender que a Homofobia está ligada a vários contextos do dia a dia do indivíduo, porque se associam ao poder em função do género e da sexualidade, bem como a várias formas de controlo como a raça, etnia e idade.

Consideramos Bullying Homofóbico quando a agressão repetitiva do agressor em relação à vítima se baseia nos trejeitos e insultos relacionados com a orientação sexual, sendo mais comum nos rapazes do que nas raparigas e que não é apenas exercido contra indivíduos homossexuais, mas sim, contra todos os indivíduos (Garcia, 2009; Souza, Silva, & Faro, 2015).

Segundo Mishna, Newman, Daley, e Solmon (2009), as agressões à população lésbica e gay podem acontecer em qualquer contexto (escola, ambiente familiar, locais públicos, etc) e por qualquer pessoa, (pares, família, professores, orientadores, religiosos, polícia, etc), mas principalmente na escola e durante as actividades pedagógicas.

Em contexto familiar, o Bullying Homofóbico, caracteriza-se por comentários como “Meu Deus, viste aquele gay? Vai para o inferno!”, conotando a homossexualidade como algo negativo (Mishna, Newman, Daley, & Solmon, 2009). Na mesma linha teórica, Russell et al. (2011) caracterizam o Bullying Homofóbico como rotineiro nas escolas, chegando a fazer parte do estilo de comunicação quotidiano, com expressões como “Que coisa tão gay!”, entre os adolescentes.

A Homofobia, é, frequentemente, normalizada pela sociedade, devido ao mito de que a comunidade gay e lésbica deve compreender a discriminação (Mishna, Newman, Daley, & Solmon, 2009).

Nas escolas, devido à falta de estrutura para a implementação de medidas que exijam a tolerância e o respeito mútuo, há carência de respostas para os indivíduos gays e lésbicas, quer por parte dos professores quer por parte dos alunos (Mishna, Newman, Daley, & Solmon, 2009).

Vários estudos demonstram que os professores têm sérias dificuldades em abordar o assunto devido à reacção discriminatória dos alunos, ao medo de o seu profissionalismo ser colocado em causa e à falta de material didático adequado (Garcia, 2009).

António Pinto, Pereira, Farcas e Moleiro (2012) acrescentam ainda que na maioria das vezes, quando se observa uma situação de Bullying Homofóbico numa escola, ninguém faz nada e, muitas vezes, o agressor é incentivado a continuar sem sofrer consequências pelos seus actos, perpetuando o comportamento agressivo com os jovens LGBT, pelo facto de não corresponderem a heteronormatividade (António, Pinto, Pereira, Farcas, & Moleiro, 2012).

Quanto às consequências sofridas pela comunidade gay, no que concerne ao Bullying, caracterizam-se, de acordo com Mishna, Newman, Daley e Solmon (2009), e Garcia (2009), por serem psicológicas, académicas e sociais, tais como, baixa auto-estima, ansiedade, depressão e, em casos extremos, suicídio. Na mesma linha de ideias o Frances McClelland Intitute Children, Youth and Families (s.d.) associa o Bullying junto de adolescentes LGBT ao seu estado de saúde na fase adulta e mostra como as suas tentativas de se defenderem do Bullying, se traduzem em mais Bullying. Estes jovens sentem-se isolados pela escola e pelos pais, o que os leva a acreditar que ser diferente é mau, chegando mesmo ao abandono escolar devido à exclusão de que são alvos por parte de toda a comunidade escolar (pais, professores, pares, educadores, etc.) (Mishna, Newman, Daley, & Solmon, 2009). O consumo de drogas é, também, bastante frequente, bem como a fuga de casa e o suicídio causado por muitos anos de perseguição e comentários homofóbicos como “isso é tão gay” ou “és mesmo bicha”, o que os faz sentir que, em qualquer contexto, seja em casa ou na escola, estão sozinhos (Mishna, Newman, Daley, & Solmon, 2009). O Frances McClealland Institute – Children, Youth, and Families (s.d.) refere a influência do Bullying Homofóbico sobre os quadros de depressão encontrados nestes jovens.

Por outro lado, quando estes jovens têm o devido apoio por parte da família, o seu sucesso académico dispara, contudo, este flagelo é influenciado, em grande parte aos meios de comunicação que promovem o incentivo à violência devido à heteronormatividade e à ideia da “família perfeita” (Mishna, Newman, Daley, & Solmon, 2009).

Garcia (2009), vai ao encontro desta mesma teoria, caracterizando as escolas como instituições heterossexistas, pelo que é necessário explorar o tema da Homofobia do ponto de vista reflexivo e interdisciplinar.

Estas situações levam os jovens e as jovens gays e lésbicas a sentir necessidade de um espaço comunitário que possam frequentar sem se sentirem agredidos e onde possam ser eles mesmos, e onde haja tolerância zero em relação ao Bullying Homofóbico (Mishna, Newman, Daley, & Solmon, 2009).

É neste sentido que Milher-Hochberg, (s.d.) refere as práticas utilizadas nas escolas no que concerne ao apoio a jovens LGBT que passam por estratégias como:

  • Promover a colaboração de todos os estudantes nas actividades comunitárias;
  • Providenciar apoio jurídico e orientadores aos jovens LGBT;
  • Dar formação aos professores e ao pessoal ao nível dos cuidados comportamentais a adoptar;
  • Envolver os estudantes em medidas anti bullying;
  • Ensinar aos alunos o que fazer em caso de testemunhar uma situação de bullying;
  • Confrontar os agressores em privado, uma vez que, quando confrontados em frente dos colegas, tendem para manter os comportamentos de violência;
  • Criar alianças gay-hetero, promovendo a igualdade;
  • Proteger a privacidade dos estudantes;

(Milher-Hochberg, s.d., p.3).

Reduzir as agressões à comunidade LGBT nas escolas, promoverá a saúde dos alunos e a saúde pública em geral (Russell et al. 2011).

Conclusão

Em jeito de conclusão, percebemos que o Bullying Homofóbico é exercido por parte dos agressores não só contra indivíduos LGBT mas contra toda a comunidade escolar, independentemente da orientação sexual. Concluímos ainda que a comunidade ainda não está preparada para dar resposta a estes indivíduos devido às influencias dos meios de comunicação e à heteronormatividade que impera até hoje. Podemos observar que os indivíduos carecem de apoio tanto por parte da família, que ainda não está preparada para tal, como por parte da escola onde os professores temem a reacção dos alunos e não dispõem de materiais adequados para abordar o tema, provocando consequências negativas na prestação dos alunos LGBT. Por outro lado, verifica-se que, quando há apoios e respostas por parte das instituições e das famílias, o sucesso destes alunos dispara.

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References:

 

  • António, R., Pinto, T. Pereira, C. Farcas, D., & Moleiro, C (2012). BULLYING HOMOFÓBICO NO CONTEXTO ESCOLAR EM PORTUGAL. PSICOLOGIA, Vol. XXVI, pp. 17-32. Acedida 20 de Novembro 2015 em http://www.scielo.mec.pt/pdf/psi/v26n1/v26n1a02.pdf
  • Frances McClelland Institute, Children, Youth and Families (s.d.). How School Bullying Impacts Lesbian, Gay, Bissexual, and Trangender (LGBT) Young Adults. [em linha]. The University of Arizona. Acedido Novembro, 13, 2015 em https://mcclellandinstitute.arizona.edu/ sites/mcclellandinstitute.arizona.edu/files/ ResearchLink_Vol.%204%20No.%201_Bullying.pdf
  • Garcia, M.R.V. (2009). HOMOFOIA E HETEROSSEXISMO NAS ESCOLAS: DISCUSSÃO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA NO BRASIL E NO MUNDO. IV CONGRESSO NACIONAL DE PSICOLOGIA ESCOLAR E EDUCACIONAL, ABRAPEE. Construindo a Prática Profissional na Educação para Todos. São Paulo – SP. Jul 2009;
  • Milher-Hochberg, E. (s.d.) Bullying and LGBT Students. [em linha]. Center for Mental Health in Schools at UCLA. Acedido em 13 de Novembro de 2015, em http://smhp.psych.ucla.edu/pdfdocs/bullyinglgbt.pdf
  • Mishna, F., Newman, P.A. Daley, A. & Solmon, S. (2009). Bullying of Lesbian and Gay Youth: A Qualitative Investigation. The British Journal of Social Work. Disponível em http://bjsw.oxfordjournals.org/ content/39/8/1598.full.pdf+html
  • Russell, S.T. et al (2011). Lesbian, Gay, Bisexual, and Transgender Adolescent Sschool Victimization: Implications for Young Adult health and Adjustment. Journal of School Health.
  • Souza, J.M., Silva, J.P., & Faro, A. (2015). Bullying e Homofobia: Aproximações Teóricas e Empíricas. Revista Quadrimestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, S.P., Vol. 19, 289-297. Acedida 12 de Novembro, 2015 em http://www.scielo.br/ pdf/pee/v19n2/2175-3539-pee-19-02-00289.pdf
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