A auto-estima no adolescente é desencadeada por vários fatores tais como os resultados escolares, o comportamento e a relação com a família e a escola. Desta forma, veremos nas linhas abaixo como se desenvolve todo este processo.
A auto-estima do adolescente é influenciada por vários fatores, predominantemente pela relação que ele tem com os pais, os professores e os amigos, o que leva as suas atitudes a associar-se diretamente a estes fatores, segundo os estudos de Marriel, Assis, Avanci e Oliveira (2006).
Para Senos e Diniz (1998) é importante perceber que a construção da auto-estima dos adolescentes deve ser analisada de acordo com a percepção que eles têm acerca das suas competências escolares e de acordo com o ambiente em que as mesmas se desenvolvem. Isto significa que a percepção académica de um aluno com baixo rendimento, num ambiente em que, no geral, os alunos obtêm baixos rendimentos académicos, não é igual à de um aluno com baixo rendimento académico, que está inserido numa comunidade escolar em que, no geral, os rendimentos dos alunos são mais altos (Senos, & Diniz, 1998).
Assim, é na adolescência que o jovem tem a necessidade de se afirmar e de ser aceite no seu grupo, altura em que se afasta um pouco da família, no sentido de desenvolver as suas competências sociais, partilhar experiências, viver novas emoções, descobrir a sua identidade sexual, etc (Senos, & Diniz, 1998).
O que acontece, principalmente no meio escolar é que os adolescentes com maiores taxas de baixa auto-estima, têm relações mais conflituosas e são mais facilmente alvos de violência pelo que o foco de intervenção nestes adolescentes deve ser maior (Marriel, Assis, Avanci, & Oliveira, 2006; Senos, & Diniz, 1998).
Pegando na questão dos comportamentos violentos, encontramos ainda as pesquisas de Bandeira e Hutz (2010) que encontram uma relação inversa entre auto-estima e bullying, especialmente em adolescentes do sexo feminino, o que significa que, quanto mais episódios de vitimização por bullying, mais desfavorável é a auto-estima destas adolescentes, o que não se mostra de forma tão acentuada no caso dos rapazes.
Por outro lado, observa-se ainda que os comportamentos de bullying são mais comuns no caso dos rapazes do que no caso das raparigas, ao mesmo tempo que a auto-estima dos rapazes é, geralmente, mais elevada do que a das raparigas (Bandeira, & Hutz, 2010).
De acordo com Senos e Diniz (1998) o fenómeno dos comportamentos violentos entre os adolescentes com baixos resultados escolares, deve-se à tentativa de inverter os valores da escola e evitar comparações que os possam colocar em situações desfavoráveis perante os seus colegas, com o intuito de manter a sua auto-estima em alta.
Desta forma, os alunos com resultados mais fracos, acabam por tomar uma atitude de indisciplina que parece promover de uma forma paradoxal, a sua auto-estima e evitar que tenham de enfrentar a fragilidade que os resultados menos bons podem trazer (Senos, & Diniz, 1998).
“…os alunos com resultados escolares baixos lutam activamente por uma identidade social positiva.”
(Senos, & Diniz, 1998, p.3).
Por outro lado, uma vez trabalhada a auto-estima, é possível diminuir a dificuldade de adaptação do adolescente à escola além de ainda melhorar a sua relação com a família, ao mesmo tempo que promove o respeito entre toda a comunidade escolar (Marriel, Assis, Avanci, & Oliveira, 2006). A par disso, é preciso ter em conta que nem sempre a auto-estima de um adolescente está relacionada com o seu aproveitamento escolar, pelo que, em alguns jovens, a auto percepção de fracasso geral, leva-os a ter comportamentos violentos, a desvalorizar-se e a desencadear a possibilidade de pertença a grupos de risco (Senos, & Diniz, 1998).
Bandeira e Hutz (2010) referem que, de acordo com os seus estudos, os comportamentos violentos manifestam-se com diferentes contornos entre rapazes e raparigas, já que, no caso das raparigas, quando há expressão de comportamentos desajustados, estes assumem a forma de mentiras e de falatório, embora haja maior tendência para comportamentos positivos em relação a indivíduos vítimas de violência relacionada com bullying. Quanto aos rapazes, os comportamentos são mais agressivos, chegam mesmo à violência física e ao insulto (Bandeira, & Hutz, 2010).
Conclusão
Podemos dizer que a auto-estima dos adolescentes se relaciona, geralmente, com a performance escolar e com os comportamentos adotados no mesmo meio, pelo que, aqueles que têm bons resultados escolares, tendem para manter bons níveis de auto-estima. No caso dos adolescentes cujo resultado escolar não é aquele que seria desejado, ocorrem mais comportamentos inadequados violentos, que chegam a assumir contornos de bullying, mais observados entre os rapazes do que entre as raparigas. Por outro lado não podemos assumir os resultados escolares como únicos responsáveis pela construção da auto-estima, uma vez que, quando o adolescente tem má percepção de si mesmo, no seu todo, a mesma estará comprometida, independentemente dos resultados escolares.
References:
- Bandeira, C.M., & Hutz, C.S. (2010). As implicações do bullying na autoestima de adolescentes. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional. Volume 14, Número 1.
- Marriel, L.C., Assis, S.G., Avanci, J.Q., & Oliveira, R.V.C. (2006). VIOLÊNCIA ESCOLAR E AUTO-ESTIMA DE ADOLESCENTES. Cadernos de Pesquisa, v.36, n.127, p.35-50.
- Senos, J., & Diniz, T. (1998). Auto-estima, resultados escolares e indisciplina. Estudo exploratório numa amostra de adolescentes. Análise Psicológica. 2 (xvi): 267-276.