Identificação trangénero infantil
A identificação trangénero infantil diz respeito à não identificação da criança com o sexo com que nasceu. A mesma poderá começar a expressar-se com mais evidência na adolescência, pelo que, na maioria das vezes, mesmo que os sinais se tornem menos evidentes, o indivíduo acaba por se assumir como homossexual.
Segundo Olson, Forbes e Belzer (2011) indivíduos trangénero são aqueles cuja identificação de género não está de acordo com o seu sexo biológico de nascença, seja ele feminino, masculino, ou nenhum dos dois. Para as autoras, esta identificação começa a desenvolver-se ainda na infância, em alguns casos, nas idades mais precoces, embora, na maioria deles, a noção consciente da condição acerca da identificação de género destes indivíduos, se mostre mais evidente na adolescência (Olson, Forbes, & Belzer, 2011).
De acordo com estudos realizados por Kenedy (2012) a procura da compreensão em relação ao tema da identificação de género na infância, associa-se às consequências que estas crianças sofrem pela sua condição tal como supressão, ocultação, estigmatização, medo, isolamento, dúvida e repressão, o que afeta o seu desenvolvimento global.
Kenedy (2012) refere que, na maioria dos casos, as crianças têm a noção da sua condição, numa idade ainda bastante precoce, contudo, reprimem-se a si mesmas pelo medo das pressões provenientes da sociedade e da cultura.
Em termos da informação disponível sobre o assunto, verifica-se bastante escassez, sendo que aquela que se pode encontrar, é elaborada por profissionais da área da saúde mental e sempre sujeita a constantes validações por meio de questionários, pelo que se entende a mesma como uma desordem de identidade de género (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2000, p.535, cit in Kenedy, 2012).
É preciso compreender que a maioria dos estudos acerca da identificação de género infantil, é feito com crianças que foram levadas para tratamento pelos pais devido ao seu comportamento fora do comum, em relação ao que é socialmente aceitável, o que faz com que a validação possa estar condicionada (Kenedy, 2012).
Em muitos destes casos, as crianças com identificação trangénero na infância, embora não continuem a adotar condutas associadas a esta condição na vida adulta, acabam por se assumir como homossexuais ou bissexuais na adolescência ou na adultícia (Olson, Ferbes. & Belzer, 2011).
No que concerne à definição do DSM-5, alguns profissionais consideram que a identificação trangénero se assemelha à homossexualidade, pelo que os mesmos defendem que nenhuma das duas deve constar do mesmo enquanto disfunção ou perturbação (Olson, Ferbes. & Belzer, 2011).
Em outras circunstâncias, indivíduos que, na infância, adotaram um comportamento cross-género e consequências negativas no que concerne à sua identidade, enquanto filhos, prevalecem como trangénero, depois de adultos Olson, Ferbes. & Belzer, 2011).
De acordo com Kenedy (2012) contudo, e partindo da informação que existe disponível, quando abordamos o tema do ponto de vista psiquiátrico, são poucas as crianças em situação de identificação transgénero, tendo sido, todos os casos, de crianças do sexo masculino e observadas em contexto escolar.
Apesar da escassez de estudos, Kenedy (2012) indica que, de acordo com a Comissão de Igualdade de Oportunidades e das agências trangénero, a idade mais precoce em que se pode observar a presença de identificação trangénero infantil, é a partir dos 16 anos.
Contudo, trata-se de uma condição que, na maioria das vezes, não se consegue evidenciar antes do fim da adolescência do indivíduo (Kenedy, 2012).
Jay Stewart (2009, cit in Kenedy, 2012) indica ainda que existem dois tipos de crianças trangénero, sendo elas as aparentes e as não aparentes, sendo que as primeiras são identificadas por, pelo menos, um adulto e as segundas, habitualmente não são reconhecidas como trans por nenhum adulto.
Em termos psiquiátricos, a identificação trangénero, outrora considerada como uma disfunção de identificação de género, em idades precoces, de acordo com o DSM-5, e segundo profissionais da área, deve deixar de ser considerada como uma disfunção, tendo em conta a estigmatização e todas as outras consequências negativas que estes indivíduos enfrentam, as quais, acarretam altos riscos para os mesmos (Olson, Ferbes. & Belzer, 2011).
Conclusão
A identificação trangénero na infância, diz respeito à não identificação com o sexo biológico de nascença, podendo identificar-se com o oposto ou com nenhum.
Tendo em conta que os estudos são escassos acerca do tema e que, a maioria dos casos é encaminhada para profissionais de saúde, por parte dos pais da criança, não se pode precisar exatamente a idade mais precoce em que a mesma se expressa, pelo que, segundo os dados existentes na literatura, na maioria das vezes começa a fazer-se notar a partir dos 16 anos.
References:
- Kenedy, N. (2012). Crianças Trangênero: mais do que um desafio teórico. Disponível em https://periodicos.ufrn.br/cronos/article/viewFile/2151/pdf;
- Olson, J., Forbes, C., & Belzer, M. (2011). Tradução do Protocolo Olson, Forbes, Belzer. Gestão do Adolescente Trangênero. Arch Pediatr Med 2011; 165 (2):. 171-176. Doi: 10: 1001/archpdiatrics, 2010.275.