Hermafroditismo
O hermafroditismo diz respeito à condição de nascer com ambos os sexos, masculino e feminino. Esta condição fisiológica dá origem a muitas especulações, cuja causa já foi descoberta, só que o seu tratamento envolve sérios problemas biológicos.
A partir de uma revisão da literatura sobre a intersexualidade, verificam-se várias discussões clínicas sobre casos de ambiguidade da genitália externa ou interna, diagnosticados como pseudo-hermafroditismo masculino, pseudo-hermafroditismo feminino e hermafroditismo verdadeiro (Santos, & Araujo, 2003). Questoes levantadas acerca do desenvolvimento psicológico, quanto à definição da identidade de género e à teoria dos papeis fazem com que a decisão sobre a definição do sexo do indivíduo fique sujeita a acompanhamento pelos profissionais que integram a equipa de saúde (Santos, & Araujo, 2003).
O hermafroditismo verdadeiro pode causar, ou não, uma genitália ambígua e o seu diagnóstico exige um exame histológico do tecido ovariano, folículos ou corpora albicantia e testicular, túbulos seminíferos, espermatogónias, espermatozóides (Damiani, Guedes, Damiani, Setian, Maciel-Guerra, Mello, & Guerra-Junior, 2005).
A simples presença de estroma fibroso não caracteriza o ovário, assim como o encontro somente de células de Leydig não configura um testículo (Damiani et al, 2005). Desde a descrição do primeiro caso por Salen em 1899, pouco mais de 700 casos já foram publicados na literatura médica (Damini, et al, 2005). No entanto, é possível que muitos não sejam diagnosticados, particularmente quando a constituição é cromossómica já que em pseudo-hermafroditas masculinos não se realiza sistematicamente o estudo histológico das gónadas (Damini, et al, 2005). A gónada mais frequentemente encontrada é o ovotéstis, seguida de ovário e testículo, sendo mais comum que as gónadas com predomínio de tecido testicular ocorram no lado direito e aquelas com predomínio ovariano no lado esquerdo (Damini, et al, 2005). A associação gonadal mais descrita na literatura é ovotéstis com ovário, seguida de dois ovotéstis e de ovário com testículo (Damini, et al, 2005).
Atualmente, as condições intersexuais são classificadas de acordo com os critérios anatómicos, histológicos, citológicos e psiquiátricos (Damini, et al, 2005). Assim, o hermafroditismo verdadeiro é uma condição muito rara, que corresponde à diferenciação gonádica incompleta, que leva à presença de tecidos ovariano e testicular reunidos no mesmo indivíduo (Damini, et al, 2005). Em geral, a genitália externa é ambígua, com características morfológicas predominantes do tipo masculino, o que conduz à determinação do sexo como masculino (Damini, et al, 2005).
A genitália interna pode conter útero, trompas, epidídimo e ductos deferentes (Damini, et al, 2005).
Esses indivíduos são estéreis e na puberdade podem apresentar desenvolvimento das mamas e menstruação (Speroff, Glass, & Kase, 1995, cit in Damini et al, 2005).
Já os casos de pseudo-hermafroditismo possuem tecido gonadal de apenas um sexo, isto é, pseudohermafroditismo masculino que corresponde aos indivíduos incompletamente masculinizados que possuem sexo genético, e natureza testicular das gónadas (Santos, & Araujo, 2003). Contudo, a genitália externa não está normalmente formada e, assim como a genitália interna, pode ser ambígua ou feminina (Santos, & Araujo, 2003).
Meios de tratamento
Uma intervenção médica com respetivo acompanhamento no ambito da psicologia clínica, é, normalmente, o meio de tratamento mais adotado e adequado para estes casos ( Santos, Araujo, 2003). Justifica-se pelo interesse preventivo e a cirurgia realizada nos primeiros anos de vida parece responder aos impasses da conduta médica (Santos, & Araujo, 2003).
Alguns autores referem que os dois tipos de intervenção em conjunto, para o tratamento da intersexualidade, parecendo antagónicos, estão focados na decisão de quando intervir para a definição do sexo (Santos, & Araujo, 2003). Do ponto de vista clínico, parece redutor o caráter prescritível de ambas, no entanto o trabalho em equipa das duas especialidades justifica-se pela necessidade de auxílio mútuo de que os dois tipos de profissionais precisam (Santos, & Araujo, 2003). Nesse sentido, tanto uma quanto a outra parecem limitadas quanto à discussão da identidade de género, tal como vem sendo objeto de estudo por parte das teorias do desenvolvimento humano em psicologia ( Santos, & Araujo, 2003). Compreender os fatores que influenciam a escolha de uma identidade masculina ou feminina, identificando determinantes biológicos e ambientais sobre o comportamento sexual e o género, permanece no topo da lista das agendas de trabalho para os pesquisadores em psicologia (Hurtig,1992, cit in Santos, & Araujo, 2003).
Conclusão
De acordo com os fatos, o hermafroditismo é uma caraterística biológica que junta os dois sexos na mesma pessoa. Com o avançar da ciência já é possível que o indivíduo escolha um dos sexos. O procedimento cirúrgico acarreta a junção do acompanhamento psicológico e o avançar do tempo após o nascimento, no sentido de fazer uma decisão responsável e segura para a saúde e a qualidade de vida do indivíduo.
References:
- Damiani, D., Guedes, D.R., Damiani, D., Setian, N., Maciel-Guerra, A.T., Mello, M.P., & Guerra-Júnior, G. (2005). Hermafroditismo Verdadeiro: Experiência Com 36 Casos. [em linha]. SCIELO Brasil, scielo.br. Arquivo Brasileiro Endocrinol Metab vol 49 nº1. Acedido a 5 de junho de 2016 em http://www.scielo.br/pdf/abem/v49n1/a09v49n1.pdf;
- Santos, M.M., R., & Araujo, T.C.C.F. (2003). A Clínica da Interssexualidade e Seus Desafios para os Profissionais de Saúde. [em linha] SCIELO Brasil, scielo.br. PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 23(3), 26-33. Acedido a 5 de junho de 2016 em http://www.scielo.br/pdf/pcp/v23n3/v23n3a05.pdf.