Trissomia 21 – afetividade
A afetividade na trissomia 21 acarreta a manifestação de comportamentos psico afetivos em indivíduos portadores da deficiência. Nesse sentido importa realizar algumas questões especificas a ter em conta neste processo.
Os estudos levados a cabo por Esteves (2013) permitiram compreender que o desenvolvimento dos indivíduos portadores de trissomia 21 ganha bastante relevo a partir da puberdade e estende-se até à adultícia. Da mesma forma que outros jovens da mesma idade, estes também desenvolvem aptidões afetivas e sociais tais como as emoções e interesses que se manifestam na sexualidade (Esteves, 2013).
Corroborando as mesmas ideias Gonçalves (2012), já anteriormente nos explicava que que, tal como no caso dos jovens sem qualquer tipo de deficiência psíquica, física ou psicomotora, os jovens portadores de trissomia 21 também apresentam pulsões e comportamentos associados ao campo afetivo, pelo que aquilo que está, realmente, comprometido é o campo intelectual. Entendemos, de acordo com Gonçalves (2012) que o campo intelectual compreende o raciocínio lógico, as normas, a teoria e a ética, o que leva a que, frequentemente, devido a estas limitações, o jovem se veja em situações que lhe geram algum constrangimento (Gonçalves, 2012).
É, contudo, importante que, embora de forma controlada, se permita e promova a independência destes jovens no sentido de assegurar a sua autoestima, a sua identidade e a compreensão de que a trissomia 21 não é um fator impeditivo à concretização de objetivos de vida (Esteves, 2013).
Não nos podemos esquecer que, do ponto de vista clínico, a afetividade de indivíduos portadores de trissomia 21 enfrenta algumas limitações, principalmente devido ao olhar dos pais destes indivíduos que temem a exposição a abusos por parte de terceiros devido à incapacidade intelectual inerente à deficiência (violação, gravidez involuntária, etc) (Esteves, 2013; Gonçalves, 2012). Para contornar estes obstáculos, uma das estratégias mais seguras é um controlo e cuidado reforçados, que garantam, o máximo possível, a segurança dos jovens deficientes (Esteves, 2013).
Para além destas limitações, a lei portuguesa não permite o casamento entre dois indivíduos portadores de trissomia 21 porque não lhes reconhece capacidade de responsabilidade para assumir tal compromisso (Gonçalves, 2012).
Um dos pontos com mais relevância no que concerne aos cuidados a ter em relação ao campo afetivo é que o mesmo se manifesta, nestes indivíduos, em larga escala, ao nível da sexualidade, aquando do desenvolvimento do corpo (Esteves, 2013).
A estes factos, para Esteves (2013) estão ligadas questões como as relações com pares, a socialização, a autoestima, a construção da identidade corporal e até a auto aceitação com a presença dos afetos, estão abarcadas na sexualidade. Isto significa que, na maioria das vezes, o indivíduo manifesta a sua sexualidade através de demonstrações de afeto (Esteves, 2013).
Falamos aqui da curiosidade relacionada com o corpo, a identificação sexual com pares, traduzida na forma de vestir, nos hábitos, nos interesses, etc, e ainda nas relações psico afetivas como os primeiros namoros (Gonçalves, 2012).
Em portadores de trissomia 21, a vertente afetiva assume contornos especiais uma vez que há a crença de que, associar afetividade à vida do indivíduo, inclui a sexualidade que é vista como uma limitação para os mesmos (Esteves, 2013).
Muitas vezes, devido a estas limitações já impostas à priori, os indivíduos manifestam depressão, isolam-se, têm baixa autoestima e sentem-se inseguros (Esteves, 2013).
Adultícia com trissomia 21
O campo afetivo em adultos com trissomia 21 abarca questões ligadas à qualidade de vida, a qual, é conseguida através de conquistas como independência, capacidades linguísticas, noção dos seus próprios limites, entre outras (Esteves, 2013).
Para que estes indivíduos possam viver a sua afetividade com a legitimidade que lhes deve ser concedida por direito, é necessário, devido às suas limitações, que haja certos cuidados a ter, tais como apostar incisivamente em programas de educação sexual, de forma aberta, no sentido de esclarecer qualquer questão, em relação à qual, ainda se sintam pouco à vontade (Gonçalves, 2012).
Nesse sentido, é imperativo que a afetividade do portador de trissomia 21 seja tratada com a sensibilidade que lhe é merecida (Gonçalves, 2012).
Conclusão
No que diz respeito à afetividade de indivíduos com trissomia 21, entendemos que a mesma deve ser analisada com a máxima sensibilidade, já que estes jovens, apesar de terem a capacidade intelectual comprometida, manifestam ainda comportamentos afetivos de interesse interpessoal. Isto significa que é importante não colocar obstáculos em relação às realizações psicoafetivas destes jovens, mas sim, intervir com os mesmos e com as suas famílias de acordo com programas de educação afetivo sexual, para que se lhes possa proporcionar a o direito à afetividade que lhes é legítimo.
References:
- Esteves, V. (2013). O esquema corporal e o desenvolvimento afetivo-sexual em adolescentes e adultos com Trissomia 21. Dissertação apresentada à Universidade de Lisboa Faculdade de Motricidade Humana. Lisboa;
- Franco, J.R. (2012). SEXUALIDADE NAS NEE – TRISSOMIA 21: PERSPETIVAS DOS DOCENTES DO ENSINO REGULAR DO 1º, 2º e 3º CICLO. Dissertação apresentada à Escola Superior de Educação Almeida Garrett. Lisboa.