O crescimento emocional define a forma como o indivíduo se adapta às diferentes situações que enfrenta ao longo do seu desenvolvimento. Verifica-se que este processo é influenciado por vários aspetos que também se vão alterando ao longo do ciclo vital.
De acordo com os estudos de Mota e Rocha (2012) o crescimento emocional está relacionado com o apoio parental recebido ao longo do processo de desenvolvimento e terá consequências no que diz respeito à aquisição de autonomia.
Juntamente com os pais, o apoio dos irmãos e posteriormente o apoio do grupo de pares, terá também grande influência no que diz respeito ao processo de crescimento emocional, principalmente na fase da adolescência (Mota, & Rocha, 2012). Estudos levados a cabo por Schoen-Ferreira, Silva e Silvares (2002) consideram, contudo, que o crescimento emocional na adolescência, se caracteriza também por um maior afastamento dos pais, que leva o indivíduo a sofrer alguns conflitos intensos e hostilidades devido ao conflito de gerações.
Em relação ao grupo de pares, devemos dar particular atenção aos pares afetivos, já que os relacionamentos amorosos serão pautados em grande proporção por questões emocionais, o que leva a concluir que serão uma poderosa alavanca para a aprendizagem acerca da tolerância e respeito pelo espaço do outro (Mota, & Rocha, 2012). Um dos campos em que este crescimento emocional se aplica mais quando falamos de relacionamentos amorosos, é a vida sexual do indivíduo (Mota, & Rocha, 2012). A par destas aprendizagens, a influência dos grupos de pares e os companheiros afetivos no crescimento emocional dos indivíduos, traduz-se no aproveitamento escolar dos mesmos (Schoen-Ferreira, Silva, & Silvares, 2002).
Parece evidente a garantia de que o crescimento emocional começa ainda na infância e vai desenvolvendo ao longo da vida do ser humano, pelo que, os contextos emocionais significativos, têm, na maioria das vezes, um papel muito importante no que diz respeito à constituição da segurança pessoal (Mota, & Rocha, 2012).
Este crescimento emocional, segundo Mota e Rocha (2012) sofre também influência do desenvolvimento físico do indivíduo e ambos estão sujeitos aos desafios que o indivíduo enfrenta quer no que concerne às provas de adaptação tanto a si mesmo, em função das mudanças pessoais, como no que concerne à necessidade de aceitação por parte dos outros.
Isto significa que o crescimento emocional, começando na infância, por influência das figuras parentais, perpetua-se ao longo da adolescência, contudo, num ângulo mais alargado, já que se lhe adiciona a importância dos pares, e desenrola-se mais amplamente na vida adulta com as oportunidades de desenvolvimento além da família, pares, relacionamentos afetivos, etc (Mota, & Rocha, 2012).
O apoio emocional que o indivíduo tem disponível dita ainda a sua capacidade de resiliência e as competências que o mesmo adquire para ultrapassar individualmente os desafios da vida adulta tais como as alterações sócio económicas e culturais, inerentes a essa nova fase de desenvolvimento (Mota, & Rocha, 2012).
Uma vez que vista a importância dos pais ao longo do desenvolvimento do indivíduo, parece evidente que, se esta influência for caracterizada pelo controlo excessivo e desvalorização de capacidades pessoais, a aquisição de competências de autonomia e de independência emocional, cai por terra, em consequência da hiper proteção exercida (Mota, & Rocha, 2012). Estes jovens não desenvolvem estratégias de coping para lidar com situações que requerem capacidade de adaptação, e, ao contrário, tornam-se mais ansiosos e imaturos (Mota, & Rocha, 2012).
Corroborando esta teoria Schoen-Ferreira, Silva e Silvares (2002) afirmam ainda que o crescimento emocional que promove as competências adaptativas gerais do indivíduo, fica comprometido quando não há o apoio necessário na aprendizagem, na motivação, na promoção da autoestima, etc, o que se traduz em insucesso escolar.
Mota e Rocha (2008, p.61, cit in Rocha, 2012, p.5) pretendem afirmar também que os contras da hiper proteção exercida por alguns pais com os seus filhos, não significam que deva haver um corte emocional na sua relação, mas sim que “…o processo de individualização coexiste com a manutenção da qualidade da relação parental, “parecendo ser este o modo mais adaptativo do sujeito psicológico se constituir enquanto entidade própria, self ou se quisermos, identidade.””
Quanto à contribuição dos irmãos para o crescimento emocional do indivíduo, Mota e Rocha (2012) compreendem que a mesma se associa à aquisição de competências de negociação, cooperação, competição, socialização e ainda de capacidade de resolução de conflitos, já que, na fase d transição em que se dá um certo afastamento dos pais, os irmãos assumem o ponto de apoio no que diz respeito aos conselhos e ao ultrapassar de dificuldades.
Posteriormente, esta fonte de apoio passa a ser exercida mais pelos pares afetivos do que pelos irmãos (Mota, & Rocha, 2012).
No geral, o crescimento emocional desenvolve-se a partir das competências de reciprocidade que, habitualmente, se transferem para os pares amorosos, aquando da fase adolescente à medida que se vai afastando um pouco dos laços familiares (Mota, & Rocha, 2012).
Conclusão
Podemos dizer que o crescimento emocional está intimamente ligado às relações estabelecidas com as figuras parentais, com as figuras fraternas e ainda com os grupos de pares, especialmente os pares afetivos. Assim, indivíduos com um bom suporte emocional irão tornar-se adultos mais autónomos e independentes, com capacidade de adaptação e de ultrapassa desafios de forma segura e confiante, mantendo o seu crescimento emocional numa linha de desenvolvimento contínuo e vital.
References:
- Mota, C.P., & Rocha, M. (2012). Adolescência e Jovem Adúlticia: Crescimento Pessoal, Separação-Individualização e o Jogo das Relações. Adolescence and Emerging Adulthood: Personal Growth, Separation-Individuation and Relational Games. [em linha] SCIELO Brasil, www.scielo.br. Psicologia: Teoria e Pesquisa. Vol.28 n.3, pp.357-366;
- Schoen-Ferreira, T.H., Silva, D.A., Farias, M.A., & Silvares, E.F.M. (2002). PERFIL E PRINCIPAIS QUEIXAS DOS CLIENTES ENCAMINHADOS AO CENTRO DE ATENDIMENTO E APOIO PSICOLÓGICO AO ADOLESCENTE (CAAA) – UNIFESP/EPM. SOCIAL-DEMOGRAPHIC PROFILE AND MAIN COMPLAINTS OF CLIENTS REFERRED TO THE CENTER OF PSYCHOLOGICAL ASSISTANCE AND AID TO ADOLESCENT – CAAA-UNIFESP/EPM. [em linha] SCIELO BRASIL – scielo.br. Psicologia em Estudo, v.7, n.2, p.73-82.