Vulnerabilidade afetiva
A vulnerabilidade afetiva dá-se por ausência de proteção, segurança, carinho e amor, habitualmente dos pais para com os filhos. Estes casos podem trazer consequências nefastas ao nível do desenvolvimento saudável dos indivíduos.
De acordo com os estudos de Antoni e Koller (2000) a vulnerabilidade afetiva está relacionada com a forma como as famílias se estruturam internamente.
Nesse sentido, os trabalhos de Costa e Rossetti-Ferreira (2009) conceituam a afetividade como algo que é do direito de qualquer indivíduo, no seu seio familiar, uma vez que os vínculos afetivos inerentes às relações com os pais são absolutamente indispensáveis ao desenvolvimento saudável dos filhos. Em simultâneo, crianças que, por motivos de ausência de vínculo com os seus progenitores, são institucionalizadas, ficam prejudicadas a esse respeito, o que as coloca numa situação de vulnerabilidade afetiva significativa e prejudicial (Costa, & Rosseti-Ferreira, 2009).
De uma forma geral, na maioria das culturas, o papel do afeto, da proteção, da orientação e da estimulação, é da responsabilidade da mãe, cabendo, ainda assim, a ambos os progenitores, o sustento da família, que engloba a administração de tarefas do lar, como estipular as regras, construir os valores, educar e responsabilizar-se pela autoridade (Antoni, & Koller, 2000).
Em algumas situações, contudo, já se assiste a ambientes em que a mãe impõe mais regras e monitoriza mais significativamente o comportamento e o pai fica com a tarefa de promover afeto e acarinhar (Antoni, & Koller, 2000).
No entanto, em outros casos, devido a uma reestruturação da família, por motivo de divórcio ou de morte, por exemplo, o indivíduo fica em situação de vulnerabilidade afetiva porque, habitualmente, convive muito mais com um progenitor do que com o outro, ou, no caso de perda por morte, dá-se um corte nos laços afetivos (Antoni, & Koller, 2000).
Quando tudo isto falha, uma vez em situação de vulnerabilidade afetiva, a criança acaba por desenvolver problemas de personalidade já que não tem a noção da proteção, afeto e segurança que seria de esperar que sentisse, por parte dos pais, ou do progenitor tutelar (Costa, & Rossetti-Ferreira, 2009). Graves perturbações psíquicas são comumente relatadas nestes casos devido aos estragos provocados pelas oscilações presentes aquando do crescimento da criança (Costa, & Rossetti-Ferreira, 2009).
Famílias em que se deu um divórcio por motivos de violência doméstica, acabam por trazer consequências de vulnerabilidade neste sentido, uma vez que, não só, na maioria das vezes, os filhos não convivem com o progenitor que não ficou com a tutela dos mesmos, como não têm uma boa relação (Antoni, & Koller, 2000). Existem ainda relatos de filhos que, além de todos os fatores anteriormente mencionados que os colocam em situação de vulnerabilidade por responsabilidade do progenitor que saiu do vínculo familiar, ainda sofrem com a ausência de suporte, apoio e afeto por parte do outro progenitor (Antoni, & Koller, 2000).
Na mesma linha teórica, outros estudos mostram as consequências nefastas de uma relação entre mãe e filho/a, que, apresentando-se inexistente, leva a uma total disfunção do desenvolvimento da criança (Costa, & Rossetti-Ferreira, 2009). De referir aqui que, esta relação, é altamente importante que se estabeleça nos primeiros tempos de vida da criança, contudo, muitas vezes, mesmo quando existe, mostra-se inadequada (Costa, & Rossetti-Ferreira, 2009).
Falamos aqui de filhos cujos pais são separados e que, uma vez a viver com a mãe, e tendo um mau relacionamento com o pai, a mesma não cuida devidamente destes (Antoni, & Koller, 2000). Estes indivíduos, por questões associadas a toda esta vulnerabilidade a que são expostos, perdem a confiança e o à vontade para se comunicar com o progenitor que ficou com a sua guarda, entrando num quadro de ausência de diálogo ou mesmo de violência (Antoni, & Koller, 2000). Quanto mais precocemente o indivíduo é colocado em situação de vulnerabilidade, mais dificuldades tem em criar vínculos afetivos ao longo do seu desenvolvimento e, principalmente, na idade adulta (Costa, & Rossetti-Ferreira, 2009).
Segundo os estudos de Bowlby, são evidentes as marcas deixadas por relações negativas entre mães e filhos que se traduzem na institucionalização destes e levam, inevitavelmente, à vulnerabilidade afetiva dos mesmos (Costa, & Rossetti-Ferreira, 2009).
“… desenvolvimento e manutenção, quando não ocorre na família de origem, necessita de proteção do Estado, no sentido de assegurar essa possibilidade às crianças e adolescentes.”
(Costa, & Rossetti-Ferreira, 2009, p. 115).
Conclusão
Mediante os dados da literatura podemos concluir que, na maioria dos casos, a vulnerabilidade afetiva é proveniente de falhas ao nível dos cuidados parentais. Isto significa que atitudes como afeto, carinho, proteção, segurança, diálogo, entre outras necessidades, são inexistentes no seio destas famílias, o que leva os filhos a não construir vínculos afetivos saudáveis. Muitas destas situações acabam por levar à institucionalização das crianças e por trazer graves consequências no desenvolvimento e na personalidade.
References:
- Antoni, C., & Koller, S.H. (2000). A visão de família entre as adolescentes que sofreram violência intrafamiliar. Estudos de Psicologia 2000, 5(2), 347-381;
- Costa, N.R.A., & Rosseti-Ferreira, M.C. (2009). Acolhimento Familiar: Uma Alternativa de Proteção para Crianças e Adolescentes. Psicologia: Reflexão e Crítica, v.22, n.1, p.111-118, 2009. Disponível em http://www.producao.usp.br/handle/BDPI/6696.