Caracterização
Os lagos salgados formam-se em bacias hidrográficas fechadas nas quais a água desaparece principalmente através da evaporação. Nestas situações, à medida que a água evapora, os sais minerais vão se acumulando e a sua concentração vai aumentando. A química do lago é então determinada pela concentração dos sais que se acumulam e pela proporção relativa dos iões na água afluente que alimenta o lago (por exemplo, um rio ou a chuva). Entre os lagos salgados mais conhecidos encontram-se o Grande Lago Salgado de Utah nos EUA , o Mar Morto no Médio Oriente e o lago Mareotis no Egipto. A maior parte dos lagos salgados são dominados pelos aniões cloreto, carbonato e sulfato. Sódio e potássio são os catiões mais comuns, mas alguns lagos são dominados pelo magnésio ou cálcio. Estes lagos podem ter concentrações de sais muito superiores às concentrações encontradas em ambientes marinhos. Contudo, a concentração dos sais pode-se alterar à medida que o lago se torna mais salgado e certas combinações de iões precipitam primeiro do que outras. É através deste fenómeno de precipitação que, nas salinas, é possível obter diferentes sais à medida que a sua concentração aumenta através da evaporação nos tanques de evaporação. Uma característica interessante deste tipo de lagos é a formação de colunas de sal. Estas colunas são formadas pelo movimento da água salgada através de colunas de sal por ação capilar, evaporando no topo, formando-se sal. A deposição de calcário por organismos fotossintéticos reforça este processo. Este processo é responsável pela formação da paisagem invulgar em parte da costa do Lago Mono nos EUA (Fig. 1).
Adaptação dos organismos
Diferentes adaptações são necessárias para os organismos serem capazes de sobreviver em ambientes extremos de salinidade. Em ambientes com salinidade moderada, os organismos conseguem sobreviver através da excreção do sal excessivo do interior das células (organismos halófilos). Ao longo dos anos tem-se estudado a osmorregulação dos peixes e os mecanismos que permitem a várias espécies manter a concentração de sal equilibrada, sendo que apenas os organismos que são capazes resistir a altas concentrações de salinidade intracelular (acima de 10%) é que conseguem resistir em ambientes extremos de salinidade. A pressão osmótica faz com que as células entrem em colapso e com que a água se movimente do interior para o exterior das células por osmose, caso os organismos não mantenham uma concentração de iões intracelular aproximada à concentração de iões extracelular. Por exemplo, Dunaliella, uma alga verde que prospera em águas salinas, sintetiza altas concentrações de glicerol para neutralizar os efeitos do aumento da salinidade. Algumas halobactérias podem acumular uma concentração de até 5 M de KCl nas suas células. De forma geral, há uma diminuição na biodiversidade de animais e plantas à medida que a salinidade aumenta e o limite máximo de tolerância de vários organismos é excedido. Como noutros ambientes extremos, os organismos pertentes aos domínios Bacteria e Archaea dominam o ecossistema. Alguns animais, como o camarão Artemia salina consegue tolerar mais de 30% de salinidade. Contudo, a maioria das espécies desaparece em condições de salinidade moderada, presumidamente por incapacidade de osmorregulação.
Os lagos salgados são ecossistemas dinâmicos que estão dependentes de vários factores bióticos (organismos vivos) e abióticos (elementos físicos e químicos do ambiente: luz, calor, pH, salinidade, etc) que podem alterar as suas condições ecológicas e a comunidade de organismos. Uma característica dos lagos salgados prende-se com a variação da sua profundidade ao longo dos anos, uma vez que os seus níveis dependem do balanço entre evaporação e entrada de água. Em anos com uma pluviosidade elevada, a profundidade do lago aumenta até a área de superfície ser grande o suficiente para a evaporação igualar o influxo de água. Nestes casos, a salinidade diminui provocando assim efeitos ecológicos na comunidade aquática. Por exemplo, nos anos 80, um conjunto de anos com uma elevada pluviosidade provocou a inundação do Grande Lago Salgado de Utah, o que levou a mudanças nas cadeias alimentares do lago. A diminuição da salinidade permitiu que Trichocorixa verticalis, um insecto aquático predador, invadisse a zona pelágica do lago. Este predador foi o responsável pela diminuição da população do camarão de água salgada Artemia franciscana e consequentes aumentos de protozoários e três espécies de zooplâncton.
Importância da conservação
Os lagos salgados possuem valores científicos, económicos, culturais, recreativos e ecológicos. No entanto, estes lagos são muito sensíveis à diminuição do fluxo de entrada de água. A apropriação e modificação de rios de água doce em zonas secas em que este tipo de lagos se encontra, pode ter efeitos devastadores. Por exemplo, antes de 1960, o Mar de Aral na Rússia era o quarto maior lago do mundo, com uma superfície de 68.000 km2 e um volume de 1090 km3. Em 1993, a área do lago diminuiu quase metade e o volume diminuiu para 340 km3. A principal causa foram os projectos de irrigação nos rios que alimentavam este lago, tendo sido a entrada de água reduzida para 50-7 km3 por ano. O antigo leito deste lago é agora um deserto de sal e uma fonte de tempestades de areia que têm impactos negativos sobre a saúde humana. O aumento da salinidade e as inúmeras introduções de várias espécies provocaram quedas acentuadas na biodiversidade. Outros lagos salgados, como o Lago Mono, estão sujeitos a pressões semelhantes. Estes ecossistemas são únicos e devem ser conservados.
References:
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