Transformismo

O transformismo é uma expressão de género ambígua assumida, habitualmente por homens, em atuações de espetáculos.

Transformismo

O transformismo é uma expressão de género ambígua assumida, habitualmente por homens, em atuações de espetáculos. Esta expressão assemelha-se ao travestismo, com a diferença que o transformista apenas se transforma em contexto de arte e o travesti assume a postura travestida como modelo permanente.

De acordo com Rosales e Pérez (2009) e Minternique (2012) o transformismo caracteriza-se por ser uma identidade de género algo ambígua, a qual, se manifesta pelo gosto de indivíduos do sexo masculino em usar indumentária e acessórios que os colocam com a expressão do género feminino, para fazer uma atuação num espetáculo. Por norma, estes indivíduos, fora de uma atuação assumem uma postura totalmente masculina, no entanto, assim que entram em cena para realizar o seu espetáculo, expressam-se de forma hiper efeminada que só termina assim que acaba espetáculo (Rosales, & Pérez, 2009). Esta forma de expressão querida enquanto personagem, seria excluída e discriminada em qualquer lugar fora do palco, no entanto, é em cima deste que encontra a possibilidade para expressar verbalmente pensamentos que a maioria das pessoas não é capaz de exprimir (Miternique, 2012).

Para Miternique (2012) é comum que, durante o espetáculo, o transformista assuma modos expressivos efeminados exagerados que têm uma dupla função. Falamos de, por um lado terem como objetivo focar o estigma e a discriminação em relação às diferentes formas de expressão de género, e por outro lado, promover a aceitação social face à diversidade, através de uma lógica invertida de papeis.

Esta forma de atuar, com contornos duplos de identidade de género, leva a uma certa tensão na definição destes indivíduos, uma vez que, durante o espetáculo, quanto mais assumem a expressão feminina, mais desaparecem as características masculinas (Rosales, & Pérez, 2009).

Podemos dizer que esta dupla e cruzada identidade de género se assemelha ao travestismo e a todas as formas de transexualidade, com a diferença de o transformista se transforma segundo o contexto, ou seja, todo o “boneco” se desfaz quando está fora de atuação, e o travestismo se trata de uma forma de vida expressiva, que é assumida enquanto identidade (Miternique, 2012).

Estas características mostram-se tanto internas como externas e tornam-se confusas quando tencionamos compreender traços de personalidade, por esta se mostrar antagónica (Rosales, & Pérez, 2009).

O que podemos concluir é que os indivíduos transformistas não se identificam totalmente nem com o género feminino nem com o género masculino, o que os torna não conformistas, expressando-se de forma cruzada (Rosales, & Pérez, 2009).

Esta postura faz com que os transformistas encontrem obstáculos ao nível das expetativas sociais no que diz respeito à identidade de género, principalmente no que diz respeito à sua orientação sexual e à forma como se expressam (Rosales, & Pérez, 2009).

Não podemos deixar de referir, contudo, que o transformismo engloba qualquer tipo de identidade de género e de orientação sexual, ou seja, o indivíduo transformista pode fazer atuações independentemente do seu comportamento sexual, seja ele heterossexual ou homossexual, muito embora seja mais comum que este indivíduo assuma a segunda hipótese (Miternique, 2012).

Podemos encontrar um conceito semelhante no caso da androgenia visto que os indivíduos definidos por esta identidade de género se assemelham aos dois géneros, de forma complementada (Rosales, & Pérez, 2009).

Assim o transformista, além de assumir uma identidade feminina enquanto travesti que pode identifica-lo como homossexual, também lhes traz um certo carisma junto da população masculina heterossexual, o que o permite encaixar-se nas duas formas de expressão e, por conseguinte, nas normas sociais (Rosales, & Pérez, 2009).

A respeito de normas sociais, Miternique (2012) diz que, ao nível do espetáculo, é no circo que o transformista encontra o espaço ideal para mostrar o seu carisma e ser aceite enquanto profissional, de forma normatizada, habitualmente sob o formato de musicais e paródias.

“Transformismo é o uso de roupa de outro género. Pode produzir um sentimento de distinção ou uma sensação erótica. A pessoa travestida pode identificar-se com o seu sexo e só julgando sentir o efeito do travestismo, ou pode sentir que tem uma identidade dupla, oscilante, com igual intensidade nos seus polos ou sendo um principal e outro secundário.”

(Rosales, & Pérez, 2009, p.25).

Conclusão

Podemos dizer que o transformismo se trata de mais uma entre as diferentes identidades de género queer, que se assume enquanto arte, uma vez que, habitualmente se expressa em cima do palco. Estes indivíduos aparentam não se identificar totalmente com o sexo feminino nem com o sexo masculino, o que provoca alguma confusão aos olhos alheios.

Por esses motivos, quando queremos referir ao indivíduo transformista, o conceito traz sempre a ambiguidade de papel associada a ele.

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References:

  • Miternique, Hugo Capellà. El lugar de la diferencia em Chile: circo y transformismo. El caso del Circo Timoteo. Documents d’Anàlisi Geográgica [online] 2012, vol.58/3 [cited 2016-07-11]: 351-372. Disponível em raco.cat/index.php/DocumentsAnalisi/article/…/346596;
  • Rosales, Nancy Álvarez, & Pérez, Carmen Pérez. IDENTIDAD DE GÉNERO EM TRANSFORMISTAS: UM ESTUDIO CUALITATIVO-EXPLORATORIO. Revista de Filosofia y Psicologia. [online] volumen 4, Nº20, 2009 [cited 2016-07-11]: pp. 123-152. Disponível em https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/3117385.pdf.
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