Saúde no travestismo

A saúde no travestismo diz respeito às respostas acerca dos cuidados de saúde de que a população travesti dispõe.

Saúde no travestismo

A saúde no travestismo diz respeito às respostas acerca dos cuidados de saúde de que a população travesti dispõe. Nesse sentido, verificam-se bastantes falhas, pelo que as respostas encontradas pelas travestis, limitam-se à questão das doenças sexualmente transmissíveis (DST) e ao consumo de drogas.

 

Segundo a definição da Organização Mundial de Saúde (OMS) o travestismo é uma doença da família das parafilias, cuja forma como se exprime diz respeito ao costume de vestir roupas associadas ao sexo oposto para satisfação sexual própria e pela vontade de se assemelhar a ao sexo oposto (Lionço, 2009). De acordo com estes pressupostos, do ponto de vista da saúde, podemos dizer que o travestismo se trata de uma patologia com contornos pervertidos expressando-se por meio de comportamento desviante (Lionço, 2009).

As pesquisas levadas a cabo por Amaral, Silva, Cruz e Toneli (2014) demonstram que a uma grande parte da literatura associada ao travestismo em termos de saúde, diz respeito a vários tópicos: a dualidade saúde versus doença tendo por base ambas as vertentes, juntamente com a síndrome da imunodeficiência adquirida (HIV) e as DST em geral, os cuidados de saúde, o risco e a vulnerabilidade destas populações.

Nesse sentido, levantam-se programas patrocinados por agências de saúde que têm como objetivo promover a prevenção de DST bem como o consumo de substâncias ilícitas junto de populações travestidas, prostituídas, transexuais e militantes Lésbicas Gays Bisexuais e Trangénero/Transexuais (LGBT) (Amaral, Silva, Cruz, & Toneli, 2014).

Os profissionais responsáveis pelo atendimento e cuidados de saúde junto das populações travestidas são, habitualmente, educadores sociais e ou colaboradores em projetos criados pelos governos (Amaral, Silva, Cruz, & Toneli, 2014).

Como já foi referido anteriormente, a intervenção junto das travestis é, na maioria dos casos, relacionada com a prevenção e os cuidados paliativos, os quais, são, muitas vezes, sinónimo de HIV, e na ótica governamental, quase sempre acerca do consumo de drogas, criminalidade, HIV e DST (Amaral, Silva, Cruz, & Toneli, 2014).

No entanto, existem desvantagens sobre a questão da prevenção de DST e consumo de substâncias, associadas às travestis, no sentido em que o foco de intervenção é de tal forma concentrado apenas nestas questões, que as mesmas acabam por ver os cuidados de saúde gerais, de que necessitam, totalmente negligenciados (Amaral, Silva, Cruz, & Toneli, 2014).

Para Lionço (2009) a forma descuidada como se lida com as travestis, ao nível dos cuidados de saúde e uma vez que as mesmas não pretendem a intervenção cirúrgica, para a mudança oficial de sexo, tal como no caso da população transexual, leva a que as mesmas acabem por enveredar pela automedicação, ou seja, injetam silicone industrial para moldar o corpo.

A esse respeito, muitos trabalhos demonstram a evidencia do preconceito e da discriminação para com as travestis, no Programa Saúde da Família, por exemplo, cuja falta de cuidado e atitudes menos adequadas para com as pacientes, provém, muitas vezes, dos próprios profissionais de saúde, além dos outros pacientes (Amaral, Silva, Cruz, & Toneli, 2014).

Como tal, parece óbvia a necessidade de capacitar os profissionais, de formação adequada, no que concerne à população travestida, no sentido de assegurar as respostas adequadas às suas necessidades em cuidados de saúde (Amaral, Silva, Cruz, & Toneli, 2014).

A questão da falta de formação dos profissionais de saúde para intervir junto das travestis deve-se mesmo ao facto de as mesmas não pretenderem a intervenção cirúrgica da genitália, uma vez que elas se identificam com o seu corpo, embora pretendam identificar-se com o sexo oposto, ao contrário do que acontece com as transexuais, junto das quais, os profissionais já têm a formação necessária para poder intervir (Lionço, 2009). Esta falha no sistema de saúde acaba por deixar as travestis de parte, pelo que, em termos médicos, a única resposta que encontram é o tratamento à base de hormonas (Lionço, 2009).

“Do ponto de vista médico, a afirmação de sentimento de pertencimento a um determinado gênero – masculino ou feminino – em desacordo com a atribuição do sexo de nascimento, encontra como medida terapêutica, a readequação cirúrgica da genitália para corresponder à identidade de gênero, compreendida como estruturante…”

(Lionço, 2009).

Conclusão

Verifica-se que, no âmbito da saúde, o travestismo é uma expressão de género cujos cuidados caem por terra, já que são associados exclusivamente às DST e ao consumo de substâncias ilícitas. Esta atitude face ao travestismo negligencia os cuidados de saúde gerais, junto destas populações que vivem a discriminação e o preconceito junto dos profissionais de saúde, porque estes não têm a formação necessária para intervir junto destas populações.

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References:

  • Amaral, Marília dos Santos, Silva, Talita Caetano, Cruz, Karla de Oliveira, & Toneli, Maria Juracy Filgueiras. (2014). “Do travestismo às travestilidades”: uma revisão do discurso acadêmico no Brasil entre 2001-2010. Psicologia & Sociedade, 26(2), 301-311. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-71822014000200007;
  • Lionço, Tatiana. (2009). Atenção integral à saúde e diversidade sexual no Processo Transexualizador do SUS: avanços, impasses, desafios. Physis: Revista de Saúde Coletiva, 19(1), 43-63. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312009000100004.
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