Psicopatologia na criança
Psicopatologia na criança refere-se a quadros de doença psíquica como ansiedade, depressão, perturbação do sono, entre outros. Estes costumam ser comumente observados em crianças hospitalizadas, principalmente, durante longos períodos de tempo.
Segundo Baldini e Krebs (1999) uma das condicionantes mais significativas no que concerne ao desenvolvimento de uma psicopatologia na criança, é a hospitalização, já que a situação em si, provoca grandes alterações ao nível emocional.
Para Barros (1998) o foco da psicopatologia na criança hospitalizada, é, essencialmente, a forma como a situação tem repercussões no comportamento da mesma.
Em grande parte dos casos é mesmo importante intervir do ponto de vista psicoterapêutico junto de crianças em estado de internamento, no sentido de amenizar um pouco o sofrimento causado por todo o contexto (Baldini, & Krebs, 1999). Nesse caso, é ainda importante ter em conta a fase de desenvolvimento em que a mesma se encontra, uma vez que a variável idade faz diferença no momento de avaliar a sua adaptação psíquica às circunstâncias (Baldini, & Krebs, 1999).
Dependendo então da fase de desenvolvimento, a criança poderá ser mais ou menos suscetível a problemas psicofísicos como irritabilidade, perturbação do sono e apetite, stresse, entre outros (Baldini, & Krebs, 1999).
É ainda frequente assistir-se a uma regressão de comportamento psicopatológica, manifestada por ansiedade de separação, sucção do polegar, discurso infantilizado, enurese, encoprese, depressão, entre outras (Baldini, & Krebs, 1999; Barros, 1998). Em casos mais graves, pode mesmo levar à morte (Baldini, & Krebs, 1999). O quadro regressivo é ainda observado em certas situações pós hospitalização em que a criança se mostra mais carente e mais mimada, o que leva à necessidade de ter maior atenção e cuidados por parte dos pais, como por exemplo, retrocesso nos hábitos de autonomia e higiene pessoal (Barros, 1998).
Barros (1998) dá especial destaque à evolução do quadro de ansiedade, já que não é pouco comum que a mesma se observe, tanto na criança como nos pais.
Algumas crianças têm ainda a agravante de esconder alguns sintomas ou exagerar nas queixas, o que dificulta bastante o diagnóstico e respetiva avaliação/intervenção (Barros, 1998).
Sentimento de insegurança, fobias, alucinações, histeria, hipocondria, etc, são algumas vertentes de psicopatologia mais relatadas em crianças hospitalizadas (Baldini, & Krebs, 1999).
Baldini e Krebs (1999) ressalvam que, quando uma criança se encontra sob stresse físico, psicológico e social, a vulnerabilidade em relação aos sintomas psicopatológicos acima descritos, é muito maior.
Normalmente, a sintomatologia do foro psicopatológico começa por se apresentar através do comportamento passivo, seguido da ansiedade, até que se transforma em egocentrismo (Baldini, & Krebs, 1999).
De referir que a psicopatologia é mais comum de ser desenvolvida em crianças cujo internamento se torna prolongado, devido à gravidade, já que crianças internadas por breves períodos de tempo não chegam a passar por todo o contexto de intervenção agressiva que estas crianças passam (Baldini, & Krebs, 1999).
“… as crianças com doenças de alto risco, internações prolongadas ou de repetição e aquelas com ansiedade e distúrbios de humor pré-existentes apresentam maior risco de traumas psicológicos e/ou problemas comportamentais, tornando necessária a intervenção psiquiátrica” (Baldini, & Krebs, 1999, p.183).
Além do internamento prolongado, Barros (1998) indica que o ambiente contextual também influencia significativamente o estado de psicopatologia, tendo em conta os recursos existentes, ou seja, quando a criança tem poucos recursos, há uma maior probabilidade de consequências psicopatológicas relacionadas, frequentemente, com ansiedade. Em termos gerais, variáveis familiares como família carenciada ou cujos elementos também são portadores de psicopatologia, e ainda quando a relação entre os pais e a criança já não é a mais funcional, as hipóteses de a criança desenvolver um quadro psicopatológico, é bastante maior (Barros, 1998).
De um modo geral Barros (1998) defende que a criança com quadro psicopatológico de ansiedade apresenta perturbação do comportamento associada ao choro, às birras, alteração do sono, etc, pelo que é necessário fazer um avaliação completa, levantando informação acerca de fobias, depressão, etc. Muitas vezes assiste-se ainda a problemas de ordem escolar, principalmente baixo rendimento e dificuldades de aprendizagem (Barros, 1998).
Conclusão
A psicopatologia na criança observa-se, em grande parte dos casos, quando a mesma se encontra em situação de internamento, principalmente, quando prolongado. Por vezes é necessário introduzir no internamento a vertente psicoterapêutica, precisamente devido à evolução de quadros de psicopatologia, para que se possa fazer uma análise, diagnóstico e intervenção junto da criança e amenizar problemas de ordem psíquica como a ansiedade associada ao medo, insegurança, perturbação alimentar e do sono, etc.
References:
- Baldini, Sonia Maria, & Krebs, Vera Lúcia Jornada. (1999). A criança hospitalizada. Pediatria (São Paulo), 21(3): 182-190, 1999;
- Barros, Luísa. (1998). As consequências psicológicas da hospitalização infantil: Prevenção e controlo. Análise Psicológica, 16(1), 11-28. Recuperado em 14 de dezembro de 2016 de http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?pid=S0870-82311998000100003&script=sci_arttext&tlng=en