Conceito de Etnia
Etnia é um conceito diretamente associado à raça, que distingue diferentes grupos maioritários ou minoritários. Estas diferenças traduzem-se em características educacionais, sociais, culturais, etc.
Não existe muita informação acerca das diferenças sócio psicológicas respeitantes às minorias étnicas, quando comparadas com as maiorias, exceto que as mesmas sentem necessidade de lutar mais pelos seus direitos evidenciando-se para conseguir autonomia e compreensão pela sua diferença (Filho, Beldarrain-Durandegui, & Scardua, 2013).
Contudo, estudos levados a cabo por Cunha e Santos (2014) demonstram que o interesse das ciências sociais e humanas em investigar o tema das etnias e raças interculturais, já vem desde os tempos da II Guerra Mundial e do Holocausto.
Os judeus são tradicionalmente um grupo étnico e religioso que se manteve ao longo da história, mesmo quando fazem misturas conjugais, pelo que mantêm uma postura diferente no seu ambiente familiar, assumindo-se mais individualistas, autónomos e independentes (Filho, Beldarrain-Durandegui, & Scardua, 2013).
Assim, pesquisas sobre estereótipos, atitudes e caráter nacional, foram levantadas pela ciência aquando do início da Guerra Fria e da descolonização de países africanos e asiáticos, especialmente nos Estados Unidos da América (EUA) e África, que perduram até hoje (Cunha, & Santos, 2014).
Várias pesquisas de autores como Filho, Beldarrain-Durandegui e Scardua (2013) evidenciam a associação que se faz, no caso dos indivíduos afro-brasileiros, à miscigenação, principalmente porque, nos grupos mais populares, estas etnias são dominantes.
Depois da II Guerra Mundial, a psicologia e as outras ciências sociais e humanas ainda procuraram extinguir a ideia de raça e etnia, tirando a mesma do plano de categoria científica, definindo o ser humano através de questões ambientais, sociais, económicas e educacionais, independentemente da etnia/raça do indivíduo, com o objetivo de acabar com a ideia de que a genética era determinada por essa questão (Cunha, & Santos, 2014).
Hoje sabe-se, segundo Filho, Beldarrain-Durandegui e Scardua (2013) que as diferentes etnias influenciam ainda a educação passada de geração em geração e que ainda se traduz nas representações que cada indivíduo faz na sua infância. Por exemplo, os brancos cristãos têm por costume assumir posturas de paternalismo e maternalismo autoritários com os seus educandos, ou seja, adotam uma postura mais patriarca (Filho, Beldarrain-Durandegui, & Scardua, 2013).
Habitualmente, estas características étnicas e raciais levam a diferentes estratégias no que concerne aos modelos educativos (Filho, Beldarrain-Durandegui, & Scardua, 2013).
Nestes contextos, grupos de etnias de classe média branca, morena e negra, são educadores mais rígidos com os seus educandos, exercendo o poder do controlo, ao passo que os grupos étnicos judeus usam mais estratégias individuais e suaves, valorizando as relações interpessoais (Filho, Beldarrain-Durandegui, & Scardua, 2013).
Etnia advém da raça, que, pelo que, de acordo com Cunha e Santos (2014, p.1) se trata de um “…conjunto de indivíduos que histórica ou mitologicamente têm um mesmo ancestral, uma língua em comum, mesma religião e cultura, e compartilham o mesmo território”.
Estas teorias definem ainda a cor que classifica o indivíduo através do sangue, de acordo com os seus ancestrais e que é a característica mais comum da etnia e da raça (Cunha, & Santos, 2014).
Alguns estudos debruçados sobre o estudo das etnias, consideram por isso pertinente viajarmos ancestralmente, até aos tempos da escravatura, no sentido de compreender a fundo as consequências que a mesma teve no que respeita às influencias acerca da raça e da etnia (Cunha, & Santos, 2014).
Também o Projeto Unesco, no âmbito de compreender as atitudes face à etnia e à raça, elaborou um estudo junto de grupos de alunos de diferentes etnias acerca da intimidade, aproximação/rejeição com base na cor da pele, e ainda, as influencias familiares acerca dos preconceitos (Cunha, & Santos, 2014).
“Quando dois grupos raciais vivem na mesma sociedade, quase nunca eles têm os mesmos direitos e as mesmas oportunidades… o grupo dominante tende [então] a atriuir tais características indesejáveis ao grupo dominado e a justificar, através delas, a situação de inferioridade em que coloca este último.” (Leite, 1966, pp.112-113, cit in Cunha, & Santos, 2014).
Conclusão
Quando nos referimos à etnia não podemos deixar de falar da raça, uma vez que uma está associada à outra. As diferenças étnicas e inter-raciais ditam muito do comportamento adotado de cultura para cultura e que se traduz na educação e dinâmica familiar de cada uma. Por se traduzirem em contextos diferentes, caracterizam-se também por diferenças entre maiorias e minorias.
Assim, verificamos essencialmente diferenças ao nível da rigidez e autoritarismo em determinados grupos étnicos, opostas à flexibilidade e educação baseada mais nas relações interpessoais, em outros grupos étnicos.
References:
- Cunha, R.R.T., & Santos, A.O. (2014). Aniela Meyer Ginsberg e os estudos de raça/etnia e intercultura no Brasil. Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. Volume 25 | número 3 | 317-329. Acedido a 30 de junho de 2016 em scielo.br/pdf/pusp/v25n3/0103-6564-pusp-25-03-0317.pdf;
- Filho, E.S., Beldarrain-Durandegui, A., & Scardua, A. (2013). A INFÂNCIA SEGUNDO FAMILLIARES E EDUCADORES – ETNIA E CLASSE SOCIAL. CHILDHOOD ACCORDING TO RELATIVES AND EDUCATORS – ETHNICITY AND SOCIAL CLASS. Psicologia & Sociedade; 25(1): 123-133, 2013. Acedido a 30 de junho de 2016 em http://www.ufrgs.br/seerpsicsoc/ojs2/index.php/seerpsicsoc/article/view/3537/2154.