Raça

Introdução a certos conteúdos presentes no conceito de raça.

Conceito de Raça

Na sociologia, o conceito de raça é um sistema de estratificações baseado na diferença física, isto é, fenotípica, vista como essencial e permanente. Estas diferenças podem ser reais ou imaginadas. Embora alguns indivíduos se identifiquem em termos raciais, a noção de raça revela-se fundamental quando se assume como um sistema de categorização externamente imposto. O facto de o conceito ser imposto externamente, é o que o separa do conceito de etnicidade.

 

A História da Ideia de Raça

A humanidade desde sempre encontrou modos de estratificar e diferenciar grupos de acordo com práticas e costumes, mas o conceito de “raça” emergiu recentemente, se for considerada a longa história do ser humano. Inúmeros historiadores da ideia de raça acreditam que o conceito surgiu com o advento da modernidade, sendo a consequência particular de dois desenvolvimentos categóricos na sociedade europeia: em primeiro lugar, o desenvolvimento da ética capitalista, cujos proponentes culpavam os grupos que demonstravam não progredirem; em segundo lugar, a experiência britânica de colonização da Irlanda, que lançou as bases para as experiências futuras coloniais e raciais.

Outros analistas apontaram o papel importante do pensamento cristão para o desenvolvimento das conceções raciais. Particularmente, estes analistas apontaram o mito bíblico de Cam, que relata como os descendentes de Noé foram condenados à servidão por Cam ter visto a nudez do pai. Esta história foi utilizada por autoridades religiosas cristãs para justificaram a escravização dos africanos negros, uma vez que estes eram vistos como os descendentes raciais de Cam.

Com a aurora do Iluminismo e do pensamento científico, os métodos científicos foram orientados para a compreensão das diferenças raciais para se justificarem as hierarquias em voga. Um dos primeiros projetos foi o desenvolvimento de taxonomias raciais, primeiramente avançado por Lineu em 1758, e seguido por homens de ciência europeus, que aprofundaram os esquemas de classificação de acordo com o número e variedade de raças humanas: se inicialmente tal esquema se concebia numa estrutura tripartida, contendo a raça africana, a europeia e mongol, subsequentemente abrangeria mais de trinta espécies. Não era invulgar para os taxonomistas raciais dividirem os europeus em quatro grupos raciais (nórdicos, alpinos, mediterrâneos e eslavos), sendo as taxonomias habitualmente baseadas em ideias físicas, mas também incluindo atributos que hoje não julgamos como biológicos, como a indumentária e o comportamento cultural.

Consoante o método científico foi progredindo, também os cientistas que estudavam a variedade humana revelaram a insuficiência de uma categorização racial baseada em superstições e crenças. Em vez disso, conceberam cuidadosamente técnicas científicas e experiências para medirem o grau de diferença racial e inferioridade. Uma das primeiras técnicas, denominada craniometria, envolvia a medição da cabeça e outras dimensões pertencentes a esta parte do corpo. No entanto, em finais do século XIX, estas técnicas foram desacreditadas. Depois do teste do QI ter sindo inventado em 1905, este foi utilizado para expor as diferenças raciais, uma vez que conheceu o sucesso em produzir resultados que alinhavam com as expectativas das pessoas sobre a conexão entre raça e inteligência.

Ao passo que inúmeros cientistas sociais e biólogos não acreditam na existência de evidências biológicas ou genéticas para a suposta diferença racial, alguns geneticistas viraram a sua atenção para a genética populacional para procurarem padrões de expressão genética entre grupos raciais.

 

Contexto Internacional

 A imagem contemporânea sobre as diferenças raciais varia de acordo com o contexto nacional e cultural, uma vez que a conceção das linhas que dividem os grupos raciais diverge radicalmente. Por exemplo, nos Estados Unidos da América o conceito de “raça” tem sido tradicionalmente percecionado por um prisma que generaliza qualquer manifestação fenotípica, uma vez que um indivíduo que evidencie ancestralidade negra (mesmo que seja branco) é considerado negro. Esta ideologia racial está intimamente relacionada com a história cultural e legal americana contra a miscigenação ou relações inter-raciais. Contudo, o casamento multirracial e os nascimentos resultantes, atenuaram as barreiras prévias.

Nem todas as nações e sociedades aderem a um sistema de classificação racial tão rígido como o americano. Em inúmeras sociedades caribenhas da América latina, existem gradações raciais entre o branco e o negro: os indivíduos situam-se neste esquema conforme a classe, educação, cor da pele, e não só pela ancestralidade. Nestes países a miscigenação não é considerada como um grande problema social. De facto, no Brasil, as uniões multirraciais foram consideradas como um contributo único para a identidade do povo brasileiro. Contudo, é importante recordar que as misturas raciais e a menor rigidez no desenho das linhas raciais, não significa que o conceito não seja menos importante na regulação das oportunidades que estes indivíduos possam ter, como as chances laborais, educativas, e mesmo amorosas.

Outra variação na conceção da diferença racial surgiu durante o apartheid sul-africano, predicada numa restrição da mistura de raças. No entanto, em vez de se generalizarem como negros os indivíduos detentores de tais características fenotípicas, neste contexto surgiu a categoria racial de “cor”, criada para classificar os que nem eram negros nem brancos.

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References:

Gilroy, P. (2000), Against Race: Imaging Political Culture Beyond the Color Line, Cambrige, Belknap.

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