Dificuldades de aprendizagem
Dificuldades de aprendizagem dizem respeito às limitações sentidas pelos alunos em assimilar os conteúdos aprendidos no meio escolar. Estas podem ser de ordem processual ou ambiental.
“Consideram-se dificuldades de aprendizagem aquelas apresentadas ou só percebidas no momento de ingresso da criança no ensino formal” (Santos, & Marturano, 1999).
Capellini e Conrado (2009) consideram as dificuldades de aprendizagem como obstáculos sentidos pelos alunos, em idade escolar, à aquisição dos conhecimentos exigidos em sala de aula, podendo estas ser ou não passageiras. Por vezes, a dificuldade leva os mesmos ao abandono escolar precoce, à reprovação ou à procura de apoio extra curricular (Capelli, & Conrado, 2009).
Além destas consequências, encontram-se ainda outras de ordem psicológica, já encontradas por Santos e Marturano (1999), anteriormente, que relatavam algumas características na personalidade destas crianças, originadas pelas dificuldades de aprendizagem, tais como a vulnerabilidade psicossocial, a baixa autoestima e sentimentos de inferioridade.
Em estudos realizados no ano de 1994, verificaram-se muitos casos de crianças que não terminaram o ensino obrigatório e, em anos mais recentes, uma percentagem bastante significativa apresentava resultados escolares considerados bastante problemáticos, muitas vezes havendo elevados desfasamentos entre a idade e o ano escolar (Capelli, & Conrado, 2009).
Nestes casos, às dificuldades de aprendizagem também se associavam questões comportamentais prejudiciais, inadaptação ao meio escolar, problemas de ordem emocional, entre outros, todos contribuindo para o insucesso destes alunos (Santos, & Marturano, 1999).
Na grande maioria das vezes, as dificuldades de aprendizagem são detetadas, principalmente, nas habilidades de leitura, as quais, levam os professores a terem de fazer um diagnóstico, à posteriori, no sentido de compreender a origem das mesmas e os sinais dados pelos alunos aquando da aprendizagem, para que se possa articular um plano de recuperação que vá ao encontro das necessidades dos alunos (Capelli, & Conrado, 2009).
Maioritariamente, as mesmas focam-se nas habilidades de escrita, leitura e cálculo (Capelli, & Conrado, 2009).
Contudo, nem sempre as dificuldades são apenas de ordem processual em relação à aquisição dos conteúdos, uma vez que, em muitas situações os alunos não tem o ambiente adequado para promover a sua adaptação aos programas letivos (Santos, & Marturano, 1999). Encontram-se aqui relatos de ambiente empobrecido e outros fatores de risco no seio familiar que, muitas vezes, aumentam a probabilidade de adotar estilos de comportamento desviante, o qual, por sua vez, afeta, significativa e negativamente as competências de aprendizagem necessárias ao aproveitamento (Santos, & Marturano, 1999). Na adolescência, o grau de gravidade das variáveis que aumentam a probabilidade das dificuldades, é bastante mais significativo (Santos, & Marturano, 1999).
Assim existem diferentes origens no que concerne à dificuldade de aquisição dos conteúdos, pelo que, no que concerne às que se associam a processos de assimilação, encontramos algumas características individuais que demonstram como algumas alterações de ordem fonológica e no processamento do léxico, fazem com que os mesmos adquiram as competências exigidas de uma forma diferente (Capelli, & Conrado, 2009).
Deste modo, Capelli e Conrado (2009) concluem que muitas dificuldades de aprendizagem estão diretamente ligadas ao facto de estes alunos, embora totalmente aptos para aprender, processam todo o conteúdo letivo de forma especificamente diferente, o que afeta o ritmo de aprendizagem, quando comparados com os outros alunos cujo processo de aquisição dos conteúdos se dá de forma mais ou menos padronizada.
Por exemplo, quando uma criança apresenta dificuldades no processo de leitura, encontram-se especificidades na sua forma de compreender a fonologia das palavras pelo que o armazenamento de informação, associado à memória de trabalho, se mostra mais limitado (Capelli, & Conrado, 2009).
A capacidade de leitura dá-se através da ligação ente a memória fonológica e a memória lexical, ou seja, juntando fonemas e grafemas para que se construa a linguagem (Capelli, & Conrado, 2009).
Por outro lado, Santos e Marturano (1999) já indicavam, nos seus estudos, que, ao abordar as dificuldades de aprendizagem, era necessário ter em atenção, também, as especificidades dos alunos, individualmente, tendo também em conta o tipo de sistema educativo, as características inerentes ao aluno e ainda o ambiente no qual ele estuda.
Conclusão
Podemos encontrar diferentes razões que levam às dificuldades de aprendizagem sentidas por uma grande percentagem de alunos. Se, por um lado, encontramos especificidades no processo de aquisição de conteúdo e de conhecimentos, por parte dos alunos, que os levam a aprender de uma forma diferente daquela que está padronizada e regulamentada para toda a comunidade escolar, por outro existem ambientes menos adequados à promoção da aprendizagem. Assim é importante perceber, não só, a forma como o aluno processa a informação na aula, mas também, se o ambiente envolvente promove ou se, pelo contrário, dificulta a oportunidade que este tem para poder desenvolver as suas competências académicas.
References:
- Capellini, Simone Aparecida, & Conrado, Talita Laura Braz Capano. (2009). DESEMPENHO D ESCOLARES COM E SEM DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM DE ENSINO PARTICULAR EM HABILIDADE FONOLÓGICA, NOMEAÇÃO RÁPIDA, LEITURA E ESCRITA. Rev CEFAC, SÃO PAULO. 2009;
- Santos, L.C., & Marturano, E.M. (1999). CRIANÇAS COM DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM: UM ESTUDO DE SEGUIMENTO. Psicologia Reflexao e Crítica, año/vol.12, número 002. Universidad Federal do Rio Grande do Sul. Puerto Alegre, Brasil.