Despersonalização
A despersonalização é uma perturbação do foro mental que advém da sensação de não pertença ao próprio corpo. O indivíduo vê toda a sua vida como se estivesse fora dela, o que traz consequências para si e para tudo à sua volta.
A despersonalização começou por ser explicada por Krishaber, em 1973 pelo nome de “névropathie cérebro-cardiaque” e utilizada em contexto de psicopatologia por Dugas (Uchôa, 1959).
Cardoso (2011) define o conceito de despersonalização como um problema mental presente em algumas perturbações do foro psiquiátrico, a partir do qual, o doente se sente desintegrado de si mesmo. Uchôa (1959) assume, dentro do quadro clínico, contornos de nosologia mental devido a infeções, esquizofrenias e timopatias.
Nessas circunstâncias é como se deixasse de ter identidade própria, vendo a sua própria vida como se de uma peça de teatro ou de um filme se tratasse ou como se o seu reflexo no espelho não lhe pertencesse (Cardoso, 2011; Carvalho, 2012).
De acordo com Carvalho (2012) trata-se de uma sensação d estranheza e irrealidade vivida pela pessoa, em relação a si mesma e a tudo o que a rodeia, em crises frequentes e repetidas.
Mais do que estranheza, o indivíduo sente ainda uma enorme transformação em relação a si mesmo e ao mundo exterior, que faz com que não se identifique enquanto pessoa com personalidade própria (Uchôa, 1959).
A despersonalização expressa-se através de sintomas, dentro dos quais, a pessoa sente que a sua vida não é real e que o seu corpo e pensamento não são seus (Carvalho, 2012).
Uma das situações em que podemos encontrar mais frequentemente este tipo de perturbação é em indivíduos que fazem meditação porque, quando a mesma se faz a longo prazo, há mudanças que acontecem na vida do indivíduo e que surpreendem por, aparentemente, surgirem de repente e de forma tão fantástica que fazem com que ele fique, temporariamente, sem saber quem é (Cardoso, 2011). Chama-se a este tipo, despersonalização meditativa (Cardoso, 2011).
Por vezes a perturbação de despersonalização pode ser confundida com a esquizofrenia, com a perturbação de pânico, com a depressão ou outros tipos de perturbação mental, pelo que o diagnóstico, para ser bem realizado, deve ser complementado, ou seja, o acompanhamento deve ser feito por um médico, por um psiquiatra e por um psicólogo (Carvalho, 2012; Uchôa, 1959).
Muitos dos indivíduos sofrem de perturbação compulsiva, dependendo da personalidade, uma vez que cada caso tem os seus sintomas (Uchôa, 1959). Além disso, a despersonalização pode ainda estar associada a uma neurose em mais ou menos grave estado, traduzindo-se em ansiedade compulsiva, ou ainda, estar associada a uma psicose, pelo que a manifestação desta assume quadros de esquizofrenia e melancolia, já referidas acima (Uchôa, 1959).
Devido a todos estes sintomas, é comum também a sensação de ausência de pertença ao próprio corpo e de que o indivíduo deixou de ser ele mesmo, chegando mesmo a falar do seu comportamento e das suas atitudes como se fossem realizados por outra pessoa (Uchôa, 1959).
Para compreender um quadro clínico de despersonalização é preciso compreender se a mesma advém de uma doença, e, no caso de a mesma ser diagnosticada, o indivíduo deve ser encaminhado para a psiquiatria (Cardoso, 2011). Um sintoma padrão bastante comum da despersonalização por doença, é que a mesma advém, primeiramente, de problemas de ansiedade, além de relatos de histórico familiar (Cardoso, 2011).
Quando o quadro clínico assume contornos mais graves, a pessoa deixa de ter controlo sobre si mesma e pode chegar a cometer o suicídio por não saber aquilo que está a fazer, tornando-se inimputável (Carvalho, 2012).
Sintomas mais comuns
- Sentimento de estranheza em relação a si mesmo e aos outros
- Impressão de que as outras pessoas são estranhas ou robotizadas
- Noção de que algo se passa e que a pessoa está a ficar louca
- Sofrimento intenso
- Indiferença perante tudo o que rodeia o indivíduo
- Atitude distante
- Perda de personalidade
(Carvalho, 2012; Uchôa, 1959).
“A despersonalização surge, segundo Haug, quando há perturbação das conexões vitais” (Uchôa, 1959, p.3).
Segundo a teoria de Uchôa (1959) a despersonalização leva o indivíduo a sentir-se incompleto dentro de si mesmo, o que faz com que possamos assumir um quadro clínico de “psicastenia”.
Conclusão
Segundo a revisão da literatura, a despersonalização é caracterizada, principalmente, pelo fato de o indivíduo sentir como se não pertencesse a si mesmo enquanto pessoa, vendo-se desintegrado do seu próprio corpo. Em casos extremos, chega a adotar comportamentos de estranheza, como se não tivesse auto controlo e até mesmo ao suicídio, por não saber o que está a fazer. Por esses motivos, um diagnóstico baseado em avaliação meticulosa, é fundamental.
References:
- Cardoso, R. (2011). A despersonalização do meditador. [em linha] www.redepsi.com.br. Acedido a 12 de julho de 2016 em http://www.redepsi.com.br/2011/03/30/a-despersonaliza-o-do-meditador/;
- Carvalho, K.R. (2012). Transtorno de Despersonalização. [em linha] PORTAL EDUCAÇÃO. portaleducacao.com.br. Acedido a 12 de julho de 2016, disponível em http://www.portaleducacao.com.br/psicologia/artigos/24824/transtorno-de-despersonalizacao;
- Uchôa, D.M. (1959). PSICOPATOLOGIA DA DESPERSONALIZAÇÃO. [em linha] SCIELO scielo.br. Acedido a 12 de julho de 2016. Disponível em www.scielo.br/pdf/anp/v17n3/03.pdf.