Ambiente familiar
O ambiente familiar diz respeito às práticas familiares usadas pela família e que geram consequências no desenvolvimento dos membros.
No que diz respeito ao ambiente familiar, vários estudos indicam a importância do mesmo no que concerne ao desenvolvimento saudável do indivíduo, de vários pontos de vista, sendo eles a qualidade do cuidado físico e afetivo-social e estabilidade sócio económica e social (Andrade, Santos, Bastos, Pedromônico, Almeida-Filho, & Barreto, 2005).
Os mesmos estudos referem as desigualdades em alguns países como é o caso do Brasil, onde se observam consequências significativas provenientes dessas desigualdades de oportunidades (Andrade et al, 2005).
Uma das muitas razões para que as famílias vivam em condições precárias é o facto de, em vários casos, a mulher, que também é mãe, fica sozinha com a responsabilidade dos cuidados acerca dos filhos e acaba por ter de depender de outros membros da família para a ajudar com as despesas da casa, que, muitas vezes não chegam para dar resposta às necessidades dos filhos (Andrade et al, 2005).
De referir, no que concerne ao envolvimento da mãe em relação quer às responsabilidades quer à educação dos filhos, que a mesma gera um impacto significativo no ambiente familiar, e é com esta que as crianças, na maioria dos casos, procuram obter respostas às suas questões (Cruvinel, & Borucho, 2009). Compreende-se assim a forte relação existente entre as atitudes tidas em família e o desenvolvimento das crianças (Cruvinel, & Borucho, 2009).
O ambiente familiar é importante para o indivíduo no sentido da sua influência sobre o desenvolvimento do mesmo, uma vez que a interação entre os vários membros da família é a primeira base de comunicação que se recebe (Andrade et al, 2005).
A percepção acerca do que nos rodeia, a forma como controlamos o nosso comportamento, os meios que utilizamos para adquirir conhecimento e competências, como construímos relações e como adaptamos o nosso espaço físico e social, são competências e meios de adaptação que nos são incutidos, em primeira instância, no nosso ambiente familiar (Andrade et al, 2005).
No caso específico das crianças, é no ambiente familiar que se promove a primeira percepção da proteção contra situações de risco ao desenvolvimento (Andrade et al, 2009). Assim podemos compreender que ambientes familiares frágeis, com baixo nível sócio económico (NSE) pobreza de vínculos afetivos entre os membros, entre outros problemas, podem ser prejudiciais ao desenvolvimento e saúde das crianças (Andrade et al, 2005).
Nestas situações em que as crianças acabam por desenvolver atitudes associadas ao comportamento desviante, é comum que os pais não tenham a noção de que podem estar perante uma depressão infantil, porque têm dificuldade em aceitar a hipótese de uma criança poder ter uma depressão (Cruvinel, & Borucho, 2009).
Problemas de linguagem, de memória, dificuldades na construção de relações interpessoais e até mesmo a escolaridade da mãe, podem ser significativos preditores do desenvolvimento das crianças uma vez que mexem com todo o ambiente familiar através da educação que a criança recebe (Andrade et al, 2005).
Estas variáveis estão associadas à questão emocional, pelo que se verifica que a saúde mental do indivíduo se relaciona direta e significativamente com o ambiente familiar (Cruvinel, & Borucho, 2009).
A par destes problemas, os estudos levados a cabo por Cruvinel e Borucho (2009) demonstram que no ambiente familiar, que se mostra um forte indicador da tendência para criar sintomas de depressão na criança, principalmente quando o mesmo é caracteristicamente hostil, são recorrentes altos índices de agressividade por parte dos pais, em que imperam métodos disciplinares marcados pela punição e até mesmo rejeição dos pais em relação às crianças (Cruvinel, & Borucho, 2009).
De acordo com Cruvinel e Borucho (2009) a análise dos estudos facilmente nos permite concluir que, por outro lado, um ambiente familiar protetor, em que impera a partilha de atividades interativas e conjuntas, nas quais, todos os membros da família participam, podemos encontrar crianças cujo desenvolvimento é muito mais saudável e com muito menos tendência para sintomatologia do foro depressivo.
Conclusão
O conjunto de estudos realizados acerca do ambiente familiar permite-nos concluir a clara evidencia da influência direta do mesmo desenvolvimento e na saúde mental das crianças inseridas nele. Podemos verificar que, se por um lado, um ambiente familiar hostil e marcado pela rigidez e agressividade, leva a problemas quer de desenvolvimento quer de aprendizagem. Já no caso de um ambiente familiar favorável em que há uma participação interativa de todos os membros, há maior sentimento de segurança e proteção, razão pela qual o indivíduo corre menos risco de desenvolver problemas ao nível da sua saúde mental.
References:
- Andrade, Susanne, Anjos, Santos, Darci Neves, Bastos, Ana Cecília, Pedromônico, Márcia Regina Marcondes, Almeida-Filho, Naomar de, & Barreto, Maurício L. (2005). Ambiente familiar e desenvolvimento cognitivo infantil: uma abordagem epidemiológica. Revista Saúde Pública 2005; 39(4): 606-11;
- Cruvinel, Miriam, & Borucho, Evely. (2009). Sintomas de depressão infantil e ambiente familiar. Psicologia em Pesquisa, 31(1), 87-100. Recuperado em 02 de outubro de 2016 de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1982-12472009000100008.