Quando falamos em solidão, temos que ter em conta que ela não escolhe sexo, classe social, e nem mesmo idade. No entanto, temos de ter em conta que, cada vez mais, a solidão é sentida, principalmente por indivíduos na terceira idade.
No âmbito da Psicologia do Desenvolvimento o envelhecimento tem sido cada vez mais investigado não mais como um período de crises, declínios e perdas, mas como uma fase de aquisições e transformações, de significados e possibilidades que conferem um novo status ao idoso nos estudos contemporâneos (Azeredo, Afonso, 2015).
Por outro lado, a ampliação da longevidade não é garantia de se viver bem, devido a algumas lacunas que isso, por vezes, acarreta (Azeredo, Afonso, 2015). Por esse motivo, são necessários investimentos em políticas que promovam, para esta população mais idosa, autonomia, participação em diversos contextos sociais, entre outros meios que proporcionam satisfação, uma vez que estimulam a atividade física, a mente e a evolução contínua (Azeredo, Afonso, 2015).
De acordo com várias pesquisas, é necessário compreender que muitas dificuldades vivenciadas pelos idosos podem advir das mudanças típicas do processo fisiológico de envelhecimento e das perdas ocorridas nessa fase (Cecília Fernandes Carmona, Vima Valeria Dias Couto, Fabio Scorsolini, 2009). Entre as vivências na velhice, são comuns as experiências de perdas que podem levar ao sentimento de solidão, sendo mesmo estas que mais contribuem para que os indivíduos experienciem a sensação quase crónica de isolamento (Carmona et al, 2014).
Aos olhos da Psicologia, podemos mesmo considerar que a solidão é uma reação emocional de insatisfação provocada pela ausência ou deficiência de relacionamentos significativos que inclui algum tipo de isolamento (Carmona et al, 2014). É definida, ainda, como um sentimento penoso e doloroso, de uma carência que faz referência aos outros (Carmona et al, 2014).
Os estudos revelam ainda que é importante lembrar a personalidade de cada idoso, o suporte social, bem como a forma como viveram a sua vida, porque estes elementos são crucialmente influenciáveis na sensação de solidão que os mesmos podem viver (Carmona et al, 2014). Estas influencias são responsáveis até mesmo pela capacidade, por parte dos idosos, de arranjar estratégias de coping para lidar com esse sentimento de solidão (Carmona et al, 2014).
Maioritariamente, verifica-se que os idosos que não conseguem superar os sentimentos de solidão são os que se encontram em risco de uma institucionalização precoce ou mesmo de tender, de forma mais acelerada, para a fragilidade, ou para a morte (Carmona et al, 2014).
Características
No idoso e sobretudo no grande idoso (com 85 ou mais anos), o corpo apresenta sinais visíveis do tempo, o que pode representar perdas muito significativas que podem favorecer o seu isolamento e/ou solidão, com maior frequência no caso dos que vivem em instituições, lares, hospitais, etc. (Carmona et al, 2014). Por outro lado, os sentimentos de solidão que atingem os idosos não são apenas apanágio dos que se encontram institucionalizados (embora pareça ser mais frequente nestes últimos, a prevalência aumenta, sobretudo, quando surgem acontecimentos de vida que se traduzem em perdas ou, quando sua capacidade de adaptação está diminuída (Carmona et al, 2014). A não compreensão destas situações por parte de quem se relaciona com o idoso pode agravar neste os sentimentos de tristeza desencadeados pelas perdas e despertar sentimentos de solidão (Carmona et al, 2014).
Por vezes, a associação desses sentimentos e o aglomerar de várias situações pode precipitar uma síndrome depressiva, que, por no idoso ter frequentes manifestações, pode passar despercebido e surgir então um quadro de maior fragilidade (Carmona et al, 2014).
Conclusão
Parece óbvio, de acordo com vários estudos, que, na sua maioria, foram realizados junto de indivíduos da terceira idade que vivem em instituições, lares ou até mesmo hospitais, são aqueles cujos sentimentos de solidão mais se agravam. Contudo, esta situação não é exclusiva desta população, pelo que, mesmo aqueles que se relacionam mais frequentemente com familiares e cuidadores, devido a incapacidade de compreensão, muitas vezes gerada em ambas as partes, pode precipitar uma situação de solidão por parte do indivíduo que se encontra na faixa etária da terceira idade.
References:
- Azeredo, Z.A.S., & Afonso, M.A.N. (2016). Solidão na perspectiva do idoso. Lonelinessfromtheperspectiveof Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Rio de Janeiro, 2016; 19(2): 313-324;
- Carmona, C.F., Couto, V.V.D., &Scorsolini-Comin, F. (2014). A EXPERIÊNCIA DE SOLIDÃO E A REDE DE APOIO SOCIAL DE IDOSAS. THE EXPERIENCE OF LONELINESS AND DE SUPPORT TO ELDERLY WOMEN. LA EXPERIENCIA DE LA SOLEDAD Y LA RED DE APOYO SOCIAL DE PERSONAS MAYORES. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 19, n. 4 p. 681-691, out/dez. 2014.