Conceito
De acordo com a classificação de instrumentos Hornbostel-Sachs, o piano é um cordofone de teclado, descendente do dulcimer, no que toca às suas cordas e martelos, e do cravo e do clavicórdio, em relação ao teclado.
Modo global, o piano moderno é constituído pela armação de metal, podendo ser de cauda (com as cordas em posição horizontal) ou vertical (com as cordas posicionadas verticalmente); pelo teclado, normalmente de 88 teclas; e por um conjunto de dois ou três pedais.
A invenção do primeiro instrumento é geralmente atribuída a Bartolomeo Cristofori, em Florença, acredita-se por volta de 1700. Este construiu um instrumento a que se chamou “gravicembalo col piano e forte”, ou seja, “cravo com volume de som pequeno e grande”.
Teclado
O teclado do piano tem normalmente 88 teclas que, em conjunto, compreendem uma extensão de 7 oitavas e 1/3. Cada oitava, dividida em função do temperamento igual, é constituída por 12 teclas; destas, são brancas as que correspondem à escala diatónica de Dó Maior e pretas as que correspondem aos meios-tons intercalares. Alguns modelos de piano da marca Bösendorfer, são, contudo, constituídos por 8 oitavas.
O interior
Uma armação de ferro foi introduzido por John Isaac Hawkins, por volta de 1800, com o objectivo de evitar a deformação do instrumento e manter a afinação, atendendo à totalidade da tensão das cordas do instrumento: encontra-se na ordem das dez toneladas nos pianos verticais, e na ordem das dezoito ou mais toneladas nos pianos de cauda. Inicialmente, os pianos eram armados com madeira mas, regra geral, deixavam de aguentar a afinação passados alguns anos.
Normalmente, as cordas referentes aos registos mais agudos são de aço e, no registo mais grave, são envolvidas numa corda de cobre enrolado para aumentar a sua massa em diminuir grandemente a sua flexibilidade. Estas vibram pela acção de martelos, revestidos de feltro. Depois de percutida a tecla, o martelo volta imediatamente para trás, devido a um mecanismo conhecido como escape. O piano moderno tem uma corda para algumas das notas mais graves, duas para o registo intermédio e três para o mais agudo (com base na menor sonoridade das cordas mais curtas).
Cada nota (com a excepção da zona mais aguda) possui um abafador pousado sobre as cordas (pelo efeito de gravidade nos pianos de cauda, graças a uma pequena mola nos verticais). A acção dos abafadores é comandada pelo teclado: quando se carrega numa tecla o abafador desencosta das corda respectiva para que estas possam vibrar livremente; quando se larga a tecla, ele volta a pousar sobre as cordas.
Por baixo das cordas, ou atrás no caso dos pianos verticais, encontra-se o tampo harmónico, uma placa de madeira que ocupa toda a superfície do instrumento e que é responsável pela boa amplificação de todas as frequências. Hoje em dia, praticamente todos os pianos são construídos com cordas cruzadas: em vez de estarem perpendiculares ao teclado (como no caso do seu predecessor cravo), as cordas médias e agudas desviam-se para a esquerda à medida que se afastam da máquina, enquanto as graves se desviam para a direita, passando por cima das restantes. Isto permite, para um mesmo tamanho da caixa de ressonância, um maior comprimento das cordas graves e um melhor aproveitamento do tampo harmónico.
Os pedais
Um piano possui, por norma, dois a três pedais (sendo o terceiro opcional).
O pedal esquerdo, chamado também de surdina ou una corda, actua de modo diferente no piano de cauda e no piano vertical, mas o efeito sonoro obtido é semelhante: a diminuição do volume sonoro, embora simultaneamente se verifique uma modificação do timbre.
O pedal direito, de sustentação, quando accionado faz com que os abafadores, em bloco, se levantem das cordas: assim, qualquer nota ou acorde pode ter uma certa duração, mesmo que os dedos tenham sido levantados das teclas. O recurso a este pedal permite a execução de um legato mais eficaz mas sobretudo a criação de um timbre diverso, mais encorpado: os harmónicos das cordas accionadas são também enriquecidos pelos harmónicos das cordas que vibram por simpatia, sendo o resultado uma sonoridade mais cheia.
Verifica-se ainda, por vezes, a existência de um terceiro pedal, no meio, cuja função não é sempre a mesma:
- Em alguns pianos existe o dito pedal sostenuto, que torna possível, por exemplo, prolongar uma nota grave enquanto se utilizam ambas as mãos no registo médio e agudo. Enquanto estiver em baixo, mantém levantados apenas os abafadores que já se encontravam desencostados das cordas quando carregamos neste pedal; este tipo de pedal é frequente sobretudo nos pianos construídos nos Estados Unidos e no Canadá.
- Normalmente, os pianos verticais vêm munidos de um pedal de estudo, com um entalhe que permite prendê-lo em baixo. Este pedal comanda uma cortina de feltro grosso que se intercala entre os martelos e as cordas. O volume de som fica assim substancialmente reduzido. Não tendo qualquer interesse musical, é um recurso útil de estudo ou mesmo em contexto doméstico.
- Embora raro, alguns pianos verticais possuem um pedal “pseudo-sostenuto”: igual ao do pedal direito mas actua apenas sobre as três oitavas mais graves, aproximadamente; também este não tem grande interesse musical.
Desenvolvimento inicial
O inventor do primeiro piano foi o construtor de instrumentos italiano Bartolomeu Cristofori, empregado na corte de Ferdinando Médici, em Florença, que em 1700 (a referência a este instrumento surge num inventário da família Médici) terá então construído um instrumento nomeado à época de “gravicembalo col piano e col forte”, ou seja, “cravo com piano e forte”. Em 1726, os seus pianos eram já consideravelmente desenvolvidos mas não sofriam de aceitação generalizada. Esta deveu-se a compositores, assim como os aperfeiçoamentos seriam depois, ao impulso dos compositores. No século XVIII, nomeadamente a partir de 1770, Mozart foi um dos maiores responsáveis pela sua difusão, ao compor estritamente para piano.
A invenção de Cristofori foi continuada na Alemanha. Logo em 1711, o escritor Scipione Maffei havia visitado a oficina do construtor italiano, tendo escrito um artigo sobre este piano primitivo. Foi este artigo que, em 1725, surgiu traduzido em alemão na «Critica Musica», de Mattheson, e inspirou Gottfried Silbermann e outros a produzir instrumentos similares.
Silbermann foi o primeiro, em 1726, ao fabricar dois pianos que depois submeteu à apreciação de J.S.Bach. A opinião desfavorável do músico poderá ter levado às várias alterações ao instrumento e é certo que, em 1746, Bach tocou publicamente nos pianos de Silbermann.
Todos estes pianos tinham o formato de um cravo, similar portanto ao piano de cauda moderno. O primeiro piano em forma de clavicórdio foi construído por Frederici de Gera mas seguido de perto por Johann Zumpe, um dos alunos de Silbermann. Zumpe seguiu para Londres, onde introduziu um modelo de piano simples, de caixa rectangular, o dito piano de mesa. Não obstante a economia do instrumento, foi o ímpeto de Johann Christian Bach e de Clementi que difundiu o seu uso. Ainda em Inglaterra, o instrumento continuou a ser alvo de alterações, especialmente com John Broadwood, que aperfeiçoou uma mecânica que ficaria conhecida como a mecânica inglesa, e da qual derivam os pianos actuais. Broadwood usava cordas mais pesadas e mais tensas, o que implicava uma caixa de estrutura mais sólida.
Na Alemanha, o piano seguia o seu curso próprio. Johann Andreas Stein foi o responsável, em 1700, pelo desenvolvimento de uma mecânica que viria a ser conhecida como a vienense ou alemã, que em termos sonoros era responsável por dar uma certa leveza ao toque adicional do piano de cauda. Numa carta ao pai, em 1777, o compositor austríaco Mozart, notório apreciador do trabalho de Stein, enunciava as vantagens destes pianos: “os seus instrumentos têm sobre outros a esplêndida vantagem de serem feitos com mecanismo de escape. Apenas um em cada cem construtores se incomoda com isto. Mas sem um mecanismo de escape é impossível evitar ruídos e vibrações após uma nota ser percutida. Quando se toca, os martelos voltam atrás imediatamente após terem batido nas cordas, quer a tecla seja mantida em baixo, quer seja solta”.
Até ao final do século XVIII, co-existiram, portanto, três tipos de mecânicas, a simples (que se encontra nos pianos primitivos), a dupla ou inglesa e a vienense. Colocando a primeira de lado, as outras duas originaram instrumentos notáveis. Por volta de 1810, o pianoforte vienense era artisticamente superior ao seu contemporâneo inglês, em grande parte por se ter começado a aperfeiçoar mais cedo. No entanto, a mecânica corrente dos pianos é baseada na mecânica inglesa.
O aperfeiçoamento do século XIX
Em 1818, Sebastien Érard completou o fabrico do duplo escape, cuja patente foi registada em 1821. Este mecanismo permitia a repetição rápida da mesma nota, como Liszt facilmente percebeu, tendo sido um dos primeiros a explorá-lo. Em 1826, Henri Pape revestiu os martelos a feltro, substituindo o couro que até então havia sido usado.
Em 1825, nos Estados Unidos, Alpheus Babcock introduziu o quadro de ferro e o sistema de cordas cruzadas, que passam umas por cima das outras em dois planos paralelos. Em 1855, e já com uma extensão de sete oitavas, o piano apresentado numa exposição da Steinway & Sons, em Nova Iorque, apresentava já a configuração actual. Mais tarde, em 1880, foram acrescentadas três notas no extremo agudo, e desde então o piano passou a ter este mesmo âmbito. Modo geral, claro, dado que por exemplo a Bösendorfer constrói alguns modelos com oito oitavas completas. Saliente-se, ainda, que em 1860, os pianos rectangulares foram finalmente substituídos pelos pianos verticais, adequados para uso doméstico. Este tinha sido inventado por Hawkins, em Filadélfia, no ano de 1800, e aperfeiçoado por Robert Wornun, em Londres, em 1829. O modelo vertical actual é baseado no piano de Wornun.
O piano foi o instrumento predilecto do romantismo e também por isso muitos compositores acabaram por ter uma influência decisiva no seu desenvolvimento. Beethoven, nos seus últimos anos de vida, completamente surdo, tocava de forma muito enérgica e dinâmica, o que automaticamente exigia pianos mais sólidos, baseados na mecânica inglesa. Liszt, em certa medida, foi seu continuador, pois embora abordasse o piano com um certo lirismo, também o fazia energicamente, procurando rivalizar Paganini em termos de virtuosismo. Aliás, o pianista sentava-se bastante alto, de modo a projectar todo o peso dos braços e do corpo no teclado.
Já Chopin, na linha de Hummel, discípulo de Mozart (que o próprio Chopin admirava de forma manifesta) preferia muitas vezes um piano de mesa a um piano de cauda, no fundo, um instrumento mais suave. Não à toa, Hummel atribuía a existência destas duas escolas às duas mecânicas existentes, a vienense e a inglesa.
Estilos à parte, todos estes, e outros como Schubert, Schumann ou Mendelssohn, seguiram Beethoven pois este foi o primeiro a aproveitar totalmente as potencialidades do pedal de sustentação. As obras escritas no romantismo seriam impensáveis sem o recurso ao pedal.
Entre os maiores compositores-pianistas nascidos no século XIX, que transitaram depois para o período contemporâneo, destacam-se Debussy e Ravel (que continuaram o caminho de experimentalismo harmónico aberto por Liszt), Stravinsky, Busoni, Rachmaninoff e Bartók. Outros grandes pianistas do período foram Büllow, Thalberg e Rubinstein.
O experimentalismo do século XX
O século XX assistiu ao desenvolvimento de virtuosos do instrumentistas soberbos, como Arthur Rubinstein, Arrau, Horowitz, entre tantos outros. O piano, como o conhecemos hoje, estava já configurado, mas à semelhança da própria época, marcada por experimentalismos vários, também vários compositores experimentaram o instrumento, modificando-o:
- John Cage, por exemplo, inventou o piano preparado, um piano no qual as cordas são preparadas de várias maneiras com o objectivo de produzirem sonoridades diversas.
- Moór criou o piano acoplador, em 1921, com dois manuais sendo o superior afinado uma oitava acima;
- Com base numa investigação de W. Nerst, em 1931, surgiu o piano neo-bechstein, em que as cordas são postas em vibração por martelos, mas a força de impulsão é muito pequena, e sem caixa de ressonância, pelo que as vibrações são amplificadas com o auxílio de um altifalante; o volume ou timbre são controlados por um pedal que afecta o altifalante.