Sapal de Castro Marim

Localização

A Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António está localizada no Sotavento Algarvio, junto à foz do Rio Guadiana, pertencendo à bacia hidrográfica deste rio. Abrange os concelhos de Castro Marim e Vila Real de Santo António, correspondendo a uma área de cerca de 2312 ha. A Reserva está limitada a Este pelo Rio Guadiana, a Sul pela linha de caminho-de-ferro, pela estrada nacional 125 e por Vila Real de Santo António, a Oeste pelas estradas nacionais 125-6 e 122 e a Norte pela estrada secundária de acesso à sede da Reserva e ao Posto Fiscal da Rocha.

Mapa do Sapal de Castro Marim. Fonte: ICNF

Mapa do Sapal de Castro Marim.
Fonte: ICNF

Valores Naturais – características biológicas

Habitats

A Reserva Natural é maioritariamente ocupada pelas zonas húmidas de sapais, salinas e esteiros, que formam uma vasta planície da qual emergem algumas colinas onde se pratica agricultura de sequeiro.

As zonas húmidas representam cerca de 66% da área total da Reserva (aproximadamente 2000 hectares), enquanto a área agrícola ocupa 32% e as áreas florestais menos de 2%.

A sul, no cordão dunar, já fora dos limites da Reserva, encontra-se uma vasta mata dominada pelo Pinheiro-bravo (Pinus pinaster).

Sapal. Fonte: ICNF

Sapal. Fonte: ICNF

O sapal é o habitat mais representativo da Reserva Natural. Os sapais desenvolvem-se nas margens dos estuários, possuindo características intermédias entre os ecossistemas aquáticos e terrestres. Nos sapais são depositados enormes quantidades de matéria orgânica e nutrientes minerais arrastados diariamente pelas marés e cursos de água, sendo por isso extremamente importantes para a alimentação e reprodução de muitas espécies faunísticas.

Flora

A vegetação típica de sapal está bem adaptada ao encharcamento periódico pela água das marés, e possui características halófilas, ou seja, dispõe de adaptações morfológicas e fisiológicas a altos teores de sais.

Existem cerca de 462 espécies de plantas na Reserva, destacando-se o endemismo lusitânico (apenas existe naturalmente em Portugal continental) Picris algarbiensis; Limonium diffusum e Beta macrocarpa. As espécies referidas anteriormente encontram-se com estatuto de conservação de vulnerável a ameaçado.

No sapal, poderemos encontrar a Morraça  (Spartina marítima), Sal-vegetal (Sarcocornia perennis), Gramata-branca (Halimione portulacoides), Spartina (Spartina versicolor), Salicórnia (Arthrocnemum macrostachyum) e a Barrilha ou Valverde-dos-sapais  (Suaeda vera).

Salicórnia(Arthrocnemum macrostachyum). Fonte: Valter Jacinto.

Salicórnia (Arthrocnemum macrostachyum). Fonte: Valter Jacinto.

Nas zonas de floresta, encontram-se sobretudo montados de sobro (Quercus suber) e Pinheiro-bravo (Pinus pinaster) ou Pinheiro-manso (Pinus pinea). Também poderemos encontrar, em zonas de mato, o Sargaço (Cistus monspeliensis) e o Tojo do sul (Genista hirsuta).

Fauna

Ocorrem regularmente na área da Reserva 169 espécies de aves, na sua maioria aves aquáticas.

A zona húmida alberga uma comunidade de aves aquáticas de reconhecida importância internacional, muitas delas de estatuto raro ou vulnerável.

As limícolas são o grupo de aves mais abundante na Reserva Natural no Inverno e nas migrações pré e pós-nupciais.

Podemos observar, no sapal, as seguintes espécies de aves: Galeirões (Fulica atra), Patos Reais (Anas platyrhynchos), Frisadas (Anas strepera), Zarros (Aythya ferina), Mergulhões (Podiceps sp.) e Garça-branca (Egretta garzetta).

O Zarro não nidifica em Portugal. As Frisadas são mais comuns em zonas interiores. Os Galeirões são muito territoriais. Existem cerca de dez espécies de Anatídeos onde o Pato-real é o único residente, e alguns encontram-se em estatuto de elevada conservação. Algumas espécies são residentes mas a maioria são migradoras.

Nas salinas, para além das aves anteriormente referidas, também podemos encontrar: Flamingos (Phoenicopterus ruber); Pernilongo (Himantopus himantopus); Alfaiates (Recurvirostra avosetta); Calhandrinha das Marismas (ou do Sapal) (Calandrella rufescens); Rabilongo (Clamator glandarius); Andorinha-do-mar-anã (Sterna albifrons); Pilrito das areias (Calidris alba) e o Pilrito comum (Calidris alpina) e Cegonha-branca (Ciconia ciconia).

Pernilongo(Himantopus himantopus). Fonte: Agostinho Gomes.

Pernilongo (Himantopus himantopus). Fonte: Agostinho Gomes.

Os Flamingos há mais de duzentos anos que não se reproduziam em Portugal contudo foram encontrados dois ninhos na Lagoa dos Salgados (em 2010). Alimentam-se de uma espécie de crustáceo, a Artémia, que lhes confere a cor rosa das penas. Pernilongo é o símbolo desta Reserva visto que em Castro Marim pode ser observado durante todo o ano devido às condições favoráveis que aí encontram. Os Alfaiates possuem um bico muito característico. A Calhandrinha das Marismas é uma ave estepária que se encontra ameaçada, com uma população única em Castro Marim. A Andorinha-do-mar-anã encontra-se ameaçada. Diferenciam-se as duas espécies de Pilrito através da coloração das penas do peito, que é mais esbranquiçada no Pilrito das areias.

Valores Culturais

Esta paisagem foi modelada pela população desde tempos remotos: ao longo dos séculos, nos sapais salgados esculpiu as salinas (que ocupam cerca de 30% da área da Reserva), nos esteiros ou no alto das colinas instalou engenhos de moagem, nas encostas dominadas pela antiga floresta mediterrânea plantou alfarrobeiras, figueiras e cultivou cereais.

As salinas são um importante habitat para as aves aquáticas, usando-as como local de repouso, alimentação e nidificação.

Classificação

Como esta Reserva foi a primeira a ser criada em Portugal (27 de Março de 1975) teve um papel importante para a criação de outras Reservas e Parques Naturais que hoje existem em território Nacional e que têm o mesmo objetivo de preservar a diversidade animal, vegetal e cultural.

É cada vez mais importante a criação de Reservas Naturais e de Parques para a conservação da fauna e flora locais, e das atividades ancestrais, com o objetivo de conservar, preservar e dar a conhecer os benefícios da manutenção do equilíbrio entre a comunidade e a natureza.

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References:

  • Lavinas, C. (2005). Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António, uma contribuição para a sua gestão. Instituto da Conservação da Natureza / Centro de Zonas Húmidas.
  • Xavier, A.; Henriques, P.C. (2006) Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António. ICN.
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