Anamnese

A anamnese apresenta como finalidade a recolha da história de vida do indivíduo. Esta é realizada no âmbito da entrevista clínica com o psicólogo.

Conceito de Anamnese

A anamnese apresenta como finalidade a recolha da história de vida do indivíduo. Esta é realizada no âmbito da entrevista clínica com o psicólogo, sendo importante para a compreensão do funcionamento atual do paciente, inclusivamente das queixas ou dificuldades que apresenta.

Na realização da anamnese em Psicologia são relevantes os domínios cognitivo, emocional e social ao nível individual e da rede de suporte nuclear ou alargada, sendo fundamental atender à narrativa que o indivíduo elabora sobre os diferentes momentos da sua vida. Neste sentido, são considerados os diferentes estádios do ciclo de vida desde a história pré-natal (particularmente para crianças e adolescentes) ao momento presente.

Na avaliação e intervenção com crianças e adolescentes, a anamnese é realizada junto dos pais ou cuidadores, não obstante ser crucial conhecer a experiência da criança ou adolescente até ao momento presente bem como as dificuldades experienciadas.

Domínios e estádios

A interação que o psicólogo clínico estabelece com o indivíduo deve ser orientada de forma semiestruturada, isto é, atendendo a um conjunto de aspetos fulcrais orientadores, que constituem marcos ou acontecimentos significativos do desenvolvimento, a par de alguma flexibilidade que permita ao profissional integrar  conteúdos que o indivíduo considere pertinentes na sua história.

É frequente que o indivíduo não tenha recordação da sua história desde a infância até ao momento presente, contudo o modo como este a experiência ou narra poderá afigurar-se informativo para a compreensão do funcionamento do paciente (e.g. distanciamento emocional). Paralelamente, mediante o estádio de vida e queixa do paciente, determinados conteúdos revelar-se-ão mais importantes do que outros, sendo necessário adaptar o guião da entrevista, bem como a linguagem utilizada (e.g. atender a conceitos demasiado técnicos; para as crianças ou mesmo adultos, tornar concretas questões mais abstractas).

De um modo geral, revelam-se pertinentes os seguintes domínios/tarefas de desenvolvimento nos respetivos estádios:

Pré-parto: Circunstâncias económicas e sociais; relação mãe-pai; estilo de vida da mãe (hábitos de alimentação, sono, atividade física, tabágicos); rede de suporte social; estado de saúde da mãe; natureza da inseminação (natural, in vitro; gravidez planeada/não planeada).

Gestação: Estilo de vida da mãe (hábitos de sono, alimentação, atividade física, tabágicos); acompanhamento médico (periodicidade; local); duração e experiência da gestação (manifestações físicas, psicológicas); experiência do parto (assistência; tipo de parto; complicações ou intervenções).

Pós-parto: Estado de saúde do recém-nascido; experiência da mãe e do pai na adaptação à parentalidade; rede de suporte social – que apoio e como foi recebido pelos pais; hábitos de sono do recém-nascido; hábitos de alimentação (natural, artificial ou mista).

Primeira infância: Estilo de vida da criança (hábitos de alimentação; intolerâncias alimentares; hábitos de sono; desenvolvimento físico e psicomotor (sentar, gatinhar, andar, controlo dos esfíncteres); desenvolvimento cognitivo (primeiras palavras, dificuldades na linguagem); desenvolvimento psicossocial (reacção a estranhos, expressões faciais, vinculação e comunicação com os cuidadores, família alargada e outros); adaptação da criança à creche/jardim de infância.

Segunda infância: Estilo de vida da criança (hábitos de alimentação; hábitos de sono); desenvolvimento físico e psicomotor (motricidade fina nas tarefas do quotidiano, como atar os sapatos, vestir-se ou alimentar-se sozinho); desenvolvimento cognitivo (noção de causa-efeito e de irreversibilidade; centração/descentração; compreensão do vocabulário, distinção entre fantasia e realidade); desenvolvimento psicossocial (consciência das suas emoções e dos outros, relacionamento com os cuidadores, família nuclear, alargada, grupo de pares e professor); adaptação à escola primária; actividades/brincadeiras de que mais gosta – sozinho, acompanhado e que brincadeiras; actividades extra-escolares.

Terceira infância: Estilo de vida (hábitos alimentares, de sono e actividade física), desenvolvimento físico (crescimento em altura, peso, destreza e actividade física), desenvolvimento cognitivo (leitura, escrita, número, pensamento lógico e raciocínio, aprendizagens escolares no geral); desenvolvimento psicossocial (uso das emoções na relação com os outros, nomeadamente com os cuidadores, família restrita e grupo de pares – regulação emocional; brincadeiras e actividades preferidas); adaptação ao primeiro ciclo de escolaridade, relação com os professores, matérias/disciplinas que mais e menos gosta.

Adolescência: Estilo de vida (hábitos de alimentação, sono e actividade física, hábitos tabágicos ou outros); desenvolvimento físico e psicomotor (início da puberdade/maturação do corpo, crescimento em peso e altura); desenvolvimento cognitivo (raciocínio abstrato, hipotético-dedutivo, raciocínio moral); desenvolvimento psicossocial (desenvolvimento da identidade, autonomia, estratégias de autorregulação, tolerância à frustração e autoestima).

Idade adulta: Estilo de vida (hábitos de alimentação, sono, actividade física, tabágicos ou outros); funcionamento cognitivo (raciocínio, pensamento alternativo ou rigidez/flexibilidade de pensamentos, pensamento consequencial – consequências de uma acção, crenças sobre si e sobre os outros); funcionamento psicossocial (rede de suporte social – relacionamentos interpessoais; experiência e expressão emocional, autoestima/autocrítica); ocupacional (percurso escolar/académico e profissional).

Idade adulta avançada: Estilo de vida (hábitos de alimentação, sono, actividade física e tabágicos); funcionamento físico e psicomotor (realização das actividades instrumentais da vida diária como tomar banho, alimentar-se e vestir-se sozinho); funcionamento cognitivo (perdas cognitivas ao nível da memória, concentração ou outras, estimulação cognitiva do meio – o que consegue realizar com e sem ajuda); desenvolvimento psicossocial (rede de suporte social, atividades que gosta de realizar, autoestima e adaptação à reforma e às perdas inerentes ao envelhecimento).

Em todos os estádios do ciclo de vida é importante considerar aqueles que poderão ser acontecimentos de vida significativos, positivos ou negativos, tais como o nascimento de irmãos, separação ou divórcio dos pais, mudanças de contexto socioeconómico, habitação ou localidade, doença ou morte de outro emocionalmente significativo (e.g. familiar, amigo, animal de estimação). Paralelamente, para a compreensão do funcionamento do indivíduo é importante conhecer quais os recursos ou estratégias ensaiadas ao longo do desenvolvimento para lidar com as dificuldades ou desafios experienciados.

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References:

Dobson, K. (2010). Handbook of Cognitive-Behavioral Therapies. New York: The Guilford Press.

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