Esta pequena revisão da literatura pretende perceber quais são os factores que propiciam o Divórcio, características do mesmo mediante diferentes culturas e de que forma os filhos são afectados, tanto do ponto de vista familiar como do ponto de vista social, aquando da quebra dos laços entre os progenitores.
Palavras-chave: família; divórcio; relações sociais
Alguns factores que podem propiciar o Divórcio
O Divórcio além de ter vindo a aumentar ao longo dos anos, provoca consequências imediatas ao nível das relações Familiares, uma vez que o afecto, o amor, os valores, a cultura, a mentalidade, entre outras sofrem alterações com a quebra dos laços (Torres, s.d.). Uma das características que se encontram, frequentemente, nas situações de Dovórcio, é o facto de os conjugues levarem altas expectativas para o casamento e que, durante o mesmo, não são contempladas. Este facto permite compreender que nem sempre o Divórcio se relaciona com a ideia de que os sentimentos mudaram, mas sim com a necessidade de procurar novas formas de felicidade (Torres, s.d.).
No entanto, existem outras características da Sociedade que podem propiciar a quebra nas ligações Familiares e, consequentemente, o Divórcio, tais como a emancipação da mulher na vida activa, que a levou a procurar a independência e a autonomia, embora se vejam ainda muitas desigualdades entre os sexos no mundo do trabalho (Torres s.d.). Estas desigualdades nem sempre permitem a autonomia feminina, uma vez que ainda se verifica que, face ao desemprego, o sexo feminino continua na linha da frente, o que o coloca em maior desvantagem, num mundo onde a conjuntura já por si, não é a mais favorável (Torres, s.d.).
Estas desigualdades levam-nos a assistir a diferenças sociais, mesmo em Famílias onde ambos os membros do casal trabalham fora de casa (Torres, s.d.).
Características Familiares, causas e consequências do Divórcio em diferentes países
Pegando no que dizem os estudos acerca da relação do Divórcio com a vida activa por parte das mulheres, podemos verificar, por exemplo, que, em França, o Divórcio acontece mais frequentemente em Famílias onde as mulheres têm vida laboral activa, e em Genebra, o facto de as mesmas trabalharem fora de casa torna-se mesmo num facilitador para o mesmo devido às suas possibilidades de se sustentarem a si e às suas Famílias, o que também faz com que haja mais iniciativa por parte das destas para o Divórcio do que por parte das não activas (Torres, s.d.). No caso português, podemos constatar o mesmo fenómeno a acontecer pelas mesmas razões (Torres, s.d.).
Apesar destes dados, a autora quer deixar claro que o Divórcio não é, automaticamente, uma consequência da entrada da mulher na vida activa, mas sim que, o facto de esta se emancipar no campo laboral, levou a mudanças ao nível das relações familiares existentes bem como nos papeis conjugais que existiam outrora, já que a responsabilidade por parte do homem de sustentar a família, ficou mais aliviada nestes casos (Torres, s.d.).
Contudo, é preciso ser realista e perceber que o facto de a mulher estar no activo, nem sempre significa que esta tenha autonomia em relação ao homem, uma vez que, devido a condições de trabalho muitas vezes precárias, o acto de trabalhar fora, permite apenas que esta contribua para ajudar nas despesas e, nestes casos, situações de Divórcio, ficam, frequentemente, fora de questão (Torres, s.d.).
As classes sociais e o Divórcio
Outro factor que também influencia a afluência ou não afluência de Divórcios, é a classe social, uma vez que, em classes sociais mais altas, o casamento é, bastantes vezes, visto como uma forma de aumentar o capital Familiar e de manter os investimentos (Torres, s.d.). Nas classes sociais mais baixas, o casamento é, frequentemente, a forma que os conjugues encontram para garantirem o seu sustento dentro dos níveis de sobrevivência, levando a colocar o Divórcio fora de questão por esse mesmo motivo (Torres, s.d.).
Em termos estatísticos, verifica-se, em Portugal, que as mulheres divorciadas têm, em maior número, cargos superiores nas empresas onde trabalham e profissões mais liberais, tal como se verifica em outros países (Torres, s.d.).
O Divórcio e as suas consequências nas relações sociais dos filhos
Morgado, Dias e Paixão (2013) focam a importância da Família no que concerne ao desenvolvimento e à socialização dos adolescentes de acordo com as relações estabelecidas com os pais, principalmente devido ao crescente aumento do número de Divórcios que leva a mudanças na estrutura Familiar e à construção de novas Famílias.
Os estudos das autoras demonstram que diferentes relações entre os adolescentes e as Famílias levam a diferenças na sua socialização, isto é, por exemplo, adolescentes que têm uma boa relação com o progenitor do sexo masculino, tendem para adoptar maior consideração em relação às relações sociais que estabelecem (Morgado, Dias, & Paixão, 2013). No que diz respeito à relação com a mãe, os estudos indicam que em Famílias onde se promove o respeito entre a mãe e os filhos, este será levado também para fora de casa, principalmente quando se trata de questões como a tolerância e a dominância, a aceitação ou a rejeição etc (Morgado, Dias, & Paixão, 2013).
O mais importante a reter é a necessidade de os filhos compreenderem que o Divórcio não deve ter consequências negativas na relação entre eles e os pais e muito menos deverá ter as mesmas no que concerne às suas relações sociais, uma vez que há a crença errada de que filhos de pais divorciados tendem para crescer e se desenvolver desajustadamente em contextos sociais (Morgado, Dias, & Paixão, 2013).
Conclusão
De acordo com a revisão da literatura acima descrita, podemos compreender que o Divórcio tem várias características que lhe são inerentes, não podendo negligenciar nenhuma delas quando queremos compreender o processo. Compreendemos que está, com bastante frequência, ligado à autonomia ou ausência dela por parte de um dos conjugues, principalmente no caso da mulher, devido às desigualdades que conhecemos no que concerne ao mercado de trabalho em função do sexo e que as classes sociais têm também um enorme peso no que diz respeito à pratica ou não prática do mesmo. O foco de maior importância quando abordamos o tema, é o cuidado a ter com as consequências que este pode ter para os filhos do casal, uma vez que a relação criada entre pais e filhos influencia a forma como estes vivenciam as suas relações Familiares e Sociais.
References:
- Morgado, A. M., Dias, M. L. V., & Paixão, M.P. (2013). O desenvolvimento da socialização e o papel da família. Análise Psicológica. 2, 129-144. Acedido a 15 de Dezembro de 2015 em http://www.scielo.mec.pt/pdf/aps/v31n2/v31n2a02.pdf
- Torres, A. (1987). MULHERES, DIVÓRCIO E MUDANÇA SOCIAL. DIVÓRCIO: TENDÊNCIAS ACTUAIS. Nº 2. Disponível em http://sociologiapp.iscte.pt/pdfs/38/427.pdf