O mutualismo ou interações mutualistas são interações entre duas espécies em que ambas obtêm benefícios. Este tipo de interações envolve a troca de bens ou serviços entre as duas espécies, designadas por parceiros mutualistas. Contudo, os parceiros mutualistas não recebem necessariamente benefícios iguais. Diferentes organismos estão envolvidos no mutualismo, originando assim tipos de produtos e serviços trocados muito variáveis, tal como os mecanismos pelos quais as trocas são feitas. Salienta-se também que apesar da actividade de uma espécie beneficiar outra espécie, nenhuma das espécies possui um comportamento altruísta. Em vez disso, cada espécie procura conseguir obter o seu próprio interesse, sendo que qualquer benefício obtido pelo parceiro mutualista é uma consequência não intencional da interação. Em A Origem das Espécies (1859), Darwin reconheceu que as interações mutualistas não são altruístas “. . . I do not believe that any animal in the world performs an action for the exclusive good of another of a distinct species, yet each species tries to take advantage of the instincts of others . . .”.
Mutualismo trófico
São interações em que ambas as espécies recebem um benefício em recursos. Os organismos necessitam tanto de nutrientes como de energia para sobreviver. Em vários exemplos de mutualismo trófico, uma planta fornece a energia da fotossíntese a um parceiro mutualista. O parceiro, maioritariamente microrganismos, fornece a planta com um maior acesso a nutrientes. Exemplos incluem os líquenes (Fig 1) (uma simbiose entre um fungo e uma alga), bem como associações entre fungos e plantas micorrízicas, entre bactérias e legumes Rhizobium, e entre os corais e zooxanthellae. Outras interações tróficas envolvem espécies animais. Por exemplo, os cupins são insectos sociais que são capazes de se alimentar de madeira devido a uma comunidade de protistas e bactérias que vivem no organismo destes insectos. Neste caso, os microrganismos presentes no interior dos insectos produzem enzimas que digerem a celulose na madeira.
Mutualismo defensivo
Como o nome sugere são interações em que uma das espécies obtém alimento ou abrigo em troca de proteção do parceiro mutualista de predadores ou parasitas. Algumas espécies oferecem recompensas alimentares directas para a espécie cuja presença diminui o risco de predação. Dois exemplos bem conhecidos envolvendo formigas são associações entre formigas Pseudomyrmex e arbustos da acácia na América Central, e entre as formigas da madeira e pulgões nas florestas da Europa e América do Norte. Outros exemplos incluem espécies que recebem uma recompensa alimentar, removendo e alimentando-se dos parasitas do corpo do parceiro mutualista.
Mutualismo dispersivo
São interações em que uma espécie recebe comida em troca de transportar pólen ou sementes do seu parceiro mutualista. Uma variedade de animais, incluindo alguns insectos, pássaros e mamíferos, estão envolvidos na polinização e dispersão de sementes. As angiospermas (plantas com flores) produzem néctar de alta energia para atrair estes animais, que ficam cobertos por pólen durante a recolha do néctar. Esta interação é particularmente importante, uma vez que quase ¾ de todas angiospermas dependem desta interação para a dispersão do polén. Já as espécies dispersoras de sementes beneficiam da energia e nutrientes encontrados nas frutas, uma vez que os animais consomem os frutos, e as sementes são eliminadas nas fezes, muitas vezes longe da planta progenitora.
Mutualismo obrigatório vs facultativo
O mutualismo é obrigatório quando uma espécie depende completamente de outra espécie para a obtenção de bens ou serviços. Por exemplo, as traças da mandioca e as plantas de mandioca possuem um mutualismo obrigatórios, uma vez que as plantas não conseguem produzir sementes sem a traça, e as larvas da traça só atingem a maturidade se, durante o desenvolvimento se alimentarem das sementes de mandioca. No entanto, os parceiros de mutualismo não dependem obrigatoriamente um do outro de forma igual. Por exemplo, muitas espécies de plantas dioicas dependem totalmente de animais polinizadores para o sucesso reprodutivo, por isso a partir da perspetiva da planta, a interação é obrigatório. No entanto, as espécies de abelhas que visitam as flores podem ou não exigir pólen ou néctar destas espécies de plantas, a fim de sobreviver e se reproduzir. Desta forma, a partir da perspetiva dos polinizadores, a interação pode variar de obrigatória para facultativa.
References:
- Darwin, C. On the Origin of species, (1st ed., 1859). Complete and Unabridged Reproduction. New York, NY: CRW Publishing Limited, 2004
- Landry, C. (2010) Mighty Mutualisms: The Nature of Plant-pollinator Interactions. Nature Education Knowledge 3:37
- Ricklefs, R.E. 2001. Economy of Nature (5th ed.) W.H. Freeman and Company, New York, NY