Travestismo

O travestismo assume, habitualmente, contornos bastante vastos e complexos para o indivíduo, tanto pessoal como socialmente.

Travestismo

O travestismo assume, habitualmente, contornos bastante vastos e complexos para o indivíduo, tanto pessoal como socialmente. Por isso é importante compreender em que consiste esta forma de expressão e o processo de mudança a ela inerente.

Segundo os estudos de Azevedo, Scorsolini-Comin e Spizzirri (2015), o conceito de travestismo diz respeito aos indivíduos que se identificam com o código de género contrário ao seu sexo biológico e que, por esse motivo, se apresentam de acordo com a sua identificação, recorrendo a técnicas como próteses, alterações hormonais e cirurgias de mudança de sexo.

Este tipo de modificações que procuram chegar o mais perto possível da imagem do género oposto, são denominados como body building e body modification (Próchno, Nascimento, & Romera, 2009).

Prochno, Nascimento e Romera (2009) dizem ainda que a literatura científica se debruça, essencialmente, sobre o feminismo que os homens procuram e que se expressa pelo travestismo, pelo transexualismo, pela castração ou drag queen, contudo, de forma confusa.

Amaral, Silva, Cruz e Toneli (2014) referem que o estudo desta forma de expressão de género,vem sendo estudada cada vez mais, desde os anos 90, do ponto de vista do travesti e das “travestilidades”, tanto no campo das ciências sociais como no campo da antropologia.

Para Azevedo, Scorsolini-Comin e Spizzirri (2015) a diversidade sexual no âmbito dos movimentos Gay. Lésbica, Bissexual, Travesti, Transexual e Transgénero (LGBT), deve-se ao interesse, cada vez maior, da ciência, em estudar as suas diferentes formas queer de se expressar pela sua complexidade.

Estes movimentos levaram a que a identidade de género deixasse de ser vista como uma forma natural de se apresentar, para se tornar numa forma de expressão de género, subjetiva e diversificada, o que pôs fim ao conceito exclusivamente normativo, de género masculino versus feminino (Azevedo, Scorsolini-Comin, & Spizzirri, 2015.)

“…a travesti não apenas rompe com padrões heteronormativos e com a masculinidade, mas cria um novo feminino, um feminino próprio da travesti.”

(Azevedo Jr, 2002, cit in Azevedo, Scorsolini-Cormin, & Spizzirri, 2015, p.9).

Algumas pesquisas indicam ainda que, à luz do DSM-IV o travestismo e o transexualismo se tratam de perturbações de identidade de género, o que leva à necessidade de um acompanhamento interdisciplinar bastante complexo antes e depois da cirurgia de mudança de sexo devido a questões sócioemocionais e legais (Próchno, Nascimento, & Romera, 2009).

Outras ainda, maioritariamente realizadas através de visitas a bairros, pensões e territórios de prostituição de várias capitais brasileiras, principalmente a partir dos anos 2000, visaram compreender melhor as experiências corporais, políticas e sociais, destes indivíduos influenciadas pelo, cada vez maior interesse sobre o tema na comunidade Lésbica, Gay, Bissexual, Travesti e Transexual (LGBT) (Amaral, Silva, Cruz, & Toneli, 2014).

A esmagadora maioria dos estudos sobre o travestismo ganhou importância no sentido da intervenção ao nível da saúde e dos cuidados paliativos, uma vez que tanto os profissionais como os governos associam o mesmo às Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) (Amaral, Silva, Cruz, & Toneli, 2014).

Este foco de interesse insere-se, de acordo com Azevedo, Scorsolini-Comin e Spizzirri (2015) na questão do uso de preservativos, do consumo de álcool e drogas, das perturbações mentais e de personalidade.

Além disso, devido às preocupantes discriminações homofóbicas, transfóbicas, e de identidade, de que estes indivíduos são alvo, verifica-se a necessidade de debruçar mais sobre o estudo das suas experiências de vida, no sentido de compreender o seu comportamento, as suas necessidades, a sua expressão social, afetiva e sexual (Azevedo, Scorsolini-Comin, & Spizzirri, 2015).

Juntando a todos estes problemas, os indivíduos que se assumem como travestis enfrentam, frequentemente, as atitudes de rejeição por parte da família e dos amigos, a dificuldade em encontrar emprego, o preconceito social e complicações na saúde devido às hormonas femininas (Azevedo, Scorsolini-Comin, & Spizzirri, 2015).

Pelos estudos de Azevedo, Scorsolini-Comin e Spizzirri (2015) compreende-se que o estudo do travestismo está demasiado voltado para as questões da saúde, mas negligencia o desenvolvimento vital do indivíduo que se assume como travesti, o que os leva a ficar limitados ao diagnóstico e à patologização da postura travesti, ao invés de abarcar a mesma, dentro da sociedade.

Conclusão

A literatura aponta para uma vasta complexidade de questões sobre o travestismo, uma vez que se trata de uma expressão de género forma da normativa, ou seja, oposta à do sexo biológico do indivíduo. Devido aos obstáculos relacionados com questões normativas que interferem com a atitude da sociedade para com o travesti, seja do ponto de vista do preconceito, da discriminação ou até mesmo da legislação, é necessário que o processo de mudança a que o indivíduo que se assume como travesti, vai enfrentar, seja devidamente acompanhado por uma equipa de profissionais, multidisciplinar, responsável.

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References:

  • Amaral, M. S., Silva, T. C., Cruz, K. O., & Toneli, M. J. F. (2014). “Do travestismo às travestilidades”: Uma revisão do discurso acadêmico no Brasil entre 2001-2010. Psicologia e Sociedade, 26(2), 301-311.
  • Azevedo, R.N., Scorsolini-Comin, F., & Spizzirri, G. (2015). “TEM QUE NASCER JÁ COM AQUELE DOM”: VIVÊNCIAS DE UMA JOVEM TRAVESTI. “You have to be born with that gift”: Experiences of a Young Travesti. “Tiene que haber nacido con ese don”: Experiencias de un Joven Travesti. [em linha]. PEPSIC – PERIÓDICOS ELETRÔNICOS EM PSICOLOGIA, www,pepsic.bvsalud.org/scielo. Revista da Abordagem Gestáltica – Phenomenological Studies – XXI(2): 202-212. Acedido a 4 de maio de 2016 em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-68672015000200009
  • Próchno, C.C.S.C, Nascimento, M.J.C., & Romera, M.L.C. (2009). Body building, travestismo e feminilidade. Body building, travestism and feminility. Estudos de Psicologia., 26(2) | 237-245.

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