Com esta pequena abordagem sobre a Depressão Infantil, pretendemos saber em que consiste, em que idades surge, e como surge. Que factores têm influência sobre a mesma, se é viável algum tipo de intervenção e ainda, se a mesma tem, realmente, resultados positivos para o desenvolvimento positivo da criança.
A Depressão na Infância
De acordo com Barbosa, Dias, Gaião e Lourenzo (1996) a Depressão Infantil pode ter como origem outro tipo de doenças que afectaram a criança ao longo do ciclo vital. Alterações corporais, cirurgias, doenças crónicas ou outras, são algumas das doenças que podem despoletar um quadro depressivo, muitas vezes, causado por longos períodos de internamento que desencadeiam ansiedade e depressão (Barbosa, Dias, Gaião, & Lourenzo, 1996). A par destes factores, a escola também é um forte indicador de quadro depressivo que se manifesta no baixo rendimento escolar dos alunos, contudo, verifica-se que, como a Depressão pode estar presente em qualquer fase de desenvolvimento, ela pode despoletar em qualquer contexto em que a criança vive e que se prende com o seu desenvolvimento infanto-juvenil (Barbosa, Dias, Gaião, & Lourenzo, 1996).
Cruvinel e Boruchowitch (2003) definem a Depressão Infantil segundo um conjunto de comportamentos que vão deixando de corresponder ao padrão normal, manifestados em sintomas como a ausência de contacto social, o interesse nas actividades e nas pessoas e maior frequência de estado de tristeza e choro (Cruvinel, & Boruchowitch, 2003). O DSM IV (1994) citado por Cruvinel e Boruchowittch (2003) define a Depressão na Infância como um quadro em que a criança apresenta humor deprimido quase todo o dia, desinteresse nas actividades diárias, perturbações de sono, falta de apetite, falta de energia, mudanças na actividade motora, baixa auto-estima, problemas de concentração e ideias ou tentativas de suicídio. Contudo, é preciso ter em conta a fase de desenvolvimento da criança, porque pode apresentar sintomas de irritação em vez de tristeza, ou baixo rendimento devido às dificuldades de concentração, e na adolescência, é comum que se encontrem sintomas de tédio (DSM IV, 1996, citado por Curvinel, & Boruchowitch, 2003). Uma outra realidade é que vários autores afirmam diferentes origens para a Depressão Infantil, como bioquímica e genética, ou seja, herdada pelos pais, origens na aprendizagem e nas interacções ambientais; mudanças no comportamento social, nos interesses por atividades interpessoais, aumento de fuga a situações que provoquem tristeza ou vontade de chorar; mudanças cognitivas, isto é, aparecimento de pensamentos negativos constantes; falhas no processo de luto ou perda, que resultam da quebra de auto-estima e empobrecem o ego do indivíduo (Curvinel, & Boruchowitch, 2003). As autoras consideram que todas estas teorias se complementam e que, raramente um quadro depressivo na infância aparece isolado, sendo um conjunto de factores sócio-familiares psicológicos, cognitivos e biológicos articulados entre si (Curvinel, & Boruchowitch, 2003).
De referir que a maioria dos estudos demonstra que os sintomas de Depressão Infantil se desenvolvem mais frequentemente entre o início da idade escolar e o meio da adolescência, ou seja, entre os seis e os quinze anos de idade (Curvinel, & Boruchowitch, 2003).
A maior dificuldade encontrada acerca deste tema é que a maioria dos pais, professores e educadores ainda não está familiarizada com o mesmo, o que prejudica as crianças e pode provocar traumas emocionais futuros (Curvinel, & Boruchowitch, 2003). Por este motivo, é necessário providenciar e promover mais informações para a comunidade educativa no que concerne a este tipo de perturbação na infância, porque, como em qualquer outro tipo de perturbação, quanto mais precoce for o diagnóstico, mais eficaz será a fase de intervenção (Curvinel, & Boruchowitch, 2003).
Conclusão
Mediante as linhas acima descritas, podemos perceber que a Depressão Infantil pode surgir em qualquer idade e fase de desenvolvimento (com maior incidência no intervalo entre o início da idade escolar e o meio da adolescência) e que a mesma pode ter vários factores que a influenciam como causas biológicas, psicológicas e sócio-familiares. Históricos de internamento prolongado podem contribuir bastante para um quadro depressivo constante. Contudo, a par disso, verificamos também que os factores genéticos também podem estar subjacentes, bem como factores cognitivos ou ainda comportamentos inadaptados por parte da criança, como dificuldades de interacção com os outros e episódios de tristeza e choro constantes. A maior dificuldade verificada, de acordo com a literatura, é a falta de informação por parte dos pais, professores e educadores, o que pode levar a diagnósticos e intervenção tardios, ou seja, é preciso inverter este quadro, uma vez que, quanto mais cedo estas crianças e adolescentes forem correctamente diagnosticados, maiores as chances de a intervenção ser eficaz e se traduzir em progressos futuros.
References:
- Barbosa, G.A., Dias, M.R., Gaião, A.A., & Lorenzo, W.C.G. (1996). Depressão infantil: um estudo de prevalência com o CDI. Infanto-Ver.Neuropsiq. da Inf. e Adol., 4 (3), 36-40.
- Cruvinel, M., & Boruchowitch, E. (2003). DEPRESSÃO INFANTIL: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A PRATICA EDUCACIONAL. Psicologia Escolar e Educacional. Vol.7, nº1, 77-84.