Síndrome de Peter Pan
A Síndrome de Peter Pan é uma patologia do foro psicológico, que se exprime através de atitudes de criança numa pessoa adulta. Esta síndrome não é considerada como uma doença, pois não é referenciada nos manuais de transtornos mentais.
Este tema vem ganhando evidência, principalmente, pelo fato de ser algo recente, oriundo do século XXI, e que está ligado a um comportamento que não se observava nas décadas passadas, ou, que pelo menos, não se mostrava tão intensamente (Barbosa, & Pessoa, 2011).
Despertou-se o interesse sobre essa tendência, pelo fato de envolver o modo de agir dos indivíduos e pelos seus hábitos de consumo (Barbosa, & Pessoa, 2011).
A Síndrome de Peter Pan manifesta-se em pessoas que, embora já estejam crescidas, que trabalham, que são casadas e têm filhos, mas não querem deixar a criança interior morrer (Barbosa, & Pessoa, 2011). Elas gostam de brincar, agir e se vestir como crianças e são denominadas como Kidults – palavra proveniente da junção de duas palavras em inglês: Kid – criança e Adult – adulto (Barbosa, & Pessoa, 2011). Referimo-nos a Kidults quando falamos de pessoas com 25 anos ou mais, que vivem as suas vidas com comportamentos infantis (Barbosa, & Pessoa, 2011). Colecionam coisas do seu tempo de criança e até se vestem com acessórios que remetam para a infantilidade (Barbosa, & Pessoa, 2011).
Alguns estudos sobre a síndrome foram realizados em indivíduos com 12 anos ou mais de escolaridade, ou seja, com habilitações ao nível do ensino secundário ou do ensino superior (Cobo, & Saboia, 2010).
Sintomas tipicos da Síndrome de Peter Pan
A decisão de morar com os pais pode variar de justificativas e explicações que envolvem desde questões financeiras, desemprego, custo habitacional, às questões psicológicas (comodismo, a chamada Síndrome de Peter Pan) e mesmo sociodemográficas (queda da taxa de fecundidade, aumento da idade ao casar, aumento do número de divórcios e separações conjugais), envolvendo diferentes graus de dependência económica e familiar (Cobo, & Saboia, 2010). Porém, a questão central que recai sobre a opção de morar com os pais é feita de forma voluntária, ao considerar que a maioria possui condições económicas de se sustentar e seguir de forma independente (Cobo, & Saboia, 2010). De uma certa forma esse comportamento vai de encontro a uma série de transformações importantes ocorridas durante o período de transição, como os novos valores pelo movimento feminista, e especialmente, as mudanças nas relações de género, quando o esperado seria cada vez mais vontade de libertação dos laços parentais (Cobo, & Saboia, 2010).
Gastaud (2007) fala ainda das queixas somáticas depois de cerca de dez meses de tratamento, quando se trata de uma fobia escolar manifestada na Síndrome de Peter Pan, numa altura em que o indivíduo já deveria conseguir ficar na escola.
A opção por não crescer
Tal como se observa na síndrome, na famosa história de Peter Pan enfoca-se o drama do crescimento (Gastaud, 2007). Wendy representa, simbolicamente, o papel de mãe na história, fechando o terceiro vértice de uma triangulação edipiana, cujo autor optou por não aprofundar no enredo, falando do mesmo apenas com a finalidade de mostrar o lado da sexualidade infantil que também faz parte desta história (Gastaud, 2007).
A opção por focar apenas sutilmente a sexualidade, na história de Peter Pan, poderá prender-se precisamente com a opção do menino em não crescer (Gastaud, 2007).
Remetendo a questão para o âmbito da psicologia, muitas vezes, o indivíduo deixa-se envolver pelo contexto ao qual pertence e a uma necessidade primeiramente individual, que, gradualmente, passa a pertencer a todo o grupo (Barbosa, & Pessoa, 2011). Isso ocorre quando a identificação a um determinado contexto se dá através, por exemplo, de algo, dentro desse contexto com que o indivíduo pode identificar-se (Barbosa, & Pessoa, 2011).
Para Kiley (1987, cit in Barbosa, & Pessoa, 2011) muitas vezes o indivíduo mantem a sua zona de conforto devido à influência dos meios de comunicação social que promovem o comportamento estandardizado em que todos agem da mesma forma.
Conclusão
A revisão bibliográfica sobre a Síndrome de Peter Pan, permite concluir que se trata de uma patologia caracterizada por comportamentos infantis, de um indivíduo que se entrega a um mundo de fantasia, recusando-se a evoluir psicologicamente, por uma questão de conforto. Comportamentos infantis como vestir roupas dos tempos de criança ou manter a decoração lúdica do quarto, em casa dos pais, são alguns dos sintomas que podemos observar. No entanto, convém salientar que o Síndrome de Peter Pan não é considerada uma doença, o que significa que não pressupõe a necessidade de acompanhamento psicoterapêutico.
References:
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Barbosa, J.C.L., & Pessoa, H.D. (2011). O FENÔMENO DOS KIDULTS NA PUBLICIDADE. Revista da Ciência da ADMINISTRAÇÃO.v.4, Dez.2011. ISNN 1982-2065;
- Cobo, B., & Saboia, A.L. (2010). A “geração canguru” no Brasil. XVII Enconro Nacional de Estudos Populacionais, AEP. Caxambú MG-Brasil, de 20 a 24 de setembro de 2010. Acedido a 16 de junho de 2016 em www.abep.nepo.unicamp.br/encontro2010/docs_pdf/tema_12/abep2010_2645.pdf;
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Gastaud, M.B. (2007). Infância, Vida, Morte e Separação: Peter Pan na Cotidianidade. Infancy, Life, Death and Separation: Peter Pan in day-by-day. Contemporânea – Psicanálise e Transdisciplinaridade, Porto Alegre, no3, Jul/Ago/Set 2007. Acedido a 16 de junho de 2016 em http://docplayer.com.br/9789377-Infancia-vida-morte-e-separacao-peter-pan-na-cotidianidade-infancy-life-death-and-separation-peter-pan-in-day-by-day.html.