Transexualidade

A transexualidade visa a incongruência entre o sexo biológico do indivíduo e o género de identificação sexual a que ele corresponde.

Transexualidade

A transexualidade visa a incongruência entre o sexo biológico do indivíduo e o género de identificação sexual a que ele corresponde. Assim, é importante compreender de forma clara, todos os fatores associados ao processo da mudança de sexo.

 Os estudos de Arán (2006) demonstram que a transexualidade se caracteriza pela ausência de identificação com o sexo anatómico sem perturbação mental.

Segundo Arán (2006) e Arán, Zaidhaft e Murta (2008) a transexualidade visa ainda a procura de integração entre o corpo e a identidade sexual psíquica do indivíduo, depois de uma intervenção psiquiátrica de um mínimo de dois anos d acompanhamento.

 A primeira intervenção cirúrgica foi feita num jovem transexual chamado George Jorgensen, por Christian Hamburger, na Dinamarca, em 1952, posteriormente identificada como transexualismo por Harry Benjamim (1966-1999) (Arán, Zaidhaft, & Murta, 2008).

Mais tarde, Harry Benjamim foi mais longe, quando defendeu que não existe diferença exata entre género masculino e género feminino, propondo que o sexo é composto por fatores cromossomáticos, genéticos, anatómicos/morfológicos, genitais, legais, germinais, endócrinos – hormonais – psicológicos e sociais (Ará, Zaidhaft, & Murta, 2008).

O que o autor diz é que aquilo que distingue o género masculino do género feminino, é a maior quantidade de fatores de um dos tipos, além do meio e do comportamento, pelo que, mesmo os diferentes tipos de sexo podem ser alterados com tratamentos hormonais e cirúrgicos (Arán, Zaidhaft, & Murta, 2008).

De acordo com a teoria de Robert Stoller (1982) o transexualismo tem três características distintas:

  1. Sentimento claro de identidade com o sexo oposto;
  2. Repulsa pela genitália com que nasceu, sem qualquer instinto libidinal;
  3. Relação simbiótica com o progenitor do sexo oposto que pode chegar a ser psicótica.

(Stoller, s.d., cit in Arán, 2006; Stoller, 1982, cit in Arán, Zaidhaft, & Murta, 2008).

No entanto, alguns obstáculos do ponto de vista médico e legal, foram aparecendo no que concerne ao processo de tratamento no âmbito da transexualidade, não permitida em todos os países devido à necessidade de mudar legalmente de sexo (Arán, 2006; Arán, Zaidhaft, & Murta, 2008).

Alguns estudos no início dos anos 70 sugeriam que a transexualidade se tratava de uma doença psiquiátrica denominada como “disforia de género” desencadeada pela incongruência entre o sexo biológico e a identidade do indivíduo, que só seria possível de tratar através de intervenção cirúrgica e tratamento hormonal (Arán, Zaidhaft, & Murta, 2008).

Mais tarde, nos anos 2000, definiu-se géneros inteligíveis como os que encontram uma congruência entre sexo e género, comportamento sexual e desejo pelo que, quando o desenvolvimento sexual do indivíduo não acontecia desta forma, era definido como patológico por não se adaptar às normas (Arán, 2006).

De acordo com esta teoria é possível perceber que sexo e género não são a mesma coisa à luz da literatura, uma vez que o primeiro é uma questão biológica e o segundo uma questão cultural (Arán, 2006; Arán, Zaidhaft, & Murta, 2008).

“A certeza quanto ao pertencimento ao género oposto, a qual às vezes se expressa pela crença numa identidade fixa, se repete no cotidiano do atendimento a pacientes transexuais.” (Arán, Zaidhaft, & Murta, 2008, p.5).

No que diz respeito a fatores de ordem psicológica e cultural Arán, Zaidhaft e Murta (2008) referem que o indivíduo transexual começa habitualmente a sentir-se diferente desde a infância e que é a partir da adolescência que costuma entrar em conflito com o próprio corpo.

“Eu nasci uma mulher, eu só percebi que não era uma mulher quando vi uma mulher pelada na minha frente (…)” (P, s.d., cit in Arán, Zaidhaft, & Murta, 2008, p. 6).

Comumente, a prioridade do indivíduo transexual, mais do que ter relações sexuais é obter a identidade do género com que se identifica pelo desejo de ser visto como tal, o que não se trata de homossexualidade ou travestismo, uma vez que pretende identificar-se como heterossexual, embora se opte, neste caso pelo conceito da diversidade de desejo (Arán, Zaidhaft, & Murta, 2008).

Os autores focam a importância do estado psicológico destes indivíduos, devido ao intenso sofrimento a que estão sujeitos devido à incongruência entre a sua natureza biológica e a sua natureza psíquica e de identidade sexual, que os leva a estar em situação de grande vulnerabilidade devido aos procedimentos implicados na transformação (Arán, 2006; Arán, Zaidhaft, & Murta, 2008).

Conclusão

Verificamos que se trata de um processo complexo e moroso quando falamos de transexualidade, uma vez que estamos perante a incongruência entre o sexo do indivíduo e o género sexual com que ele se identifica. Ele nasce biologicamente com uma genitália com a qual não se identifica em termos socioculturais e psicológicos, pelo que entra em conflito com o seu próprio corpo, desencadeando um intenso sofrimento. Tendo em conta que existem vários fatores associados a todo o processo, como a psicoterapia, as questões legais, a cultura, etc, é preciso distinguir da forma mais exata possível, se estamos realmente perante um caso de transexualidade, em que há repulsa e conflito em relação ao seu próprio corpo, ou se, uma vez submetido a intervenção psiquiátrica, o indivíduo não demonstra estes sintomas.

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References:

  • Arán, M. (2006). A TRANSEXUALIDADE E A GRAMÁTICA NORMATIVA DO SISTEMA SEXO-GÊNERO. Agora. V IX, nº1, 49-63. Acedido a 24 de março de 2016 em http://www.scielo.br/pdf/agora/v9n1/a04v9n1.pdf
  • Arán, M., Zaidhaft, S., & Murta, D. (2008). TRANSEXUALIDADE: CORPO, SUBJETIVIDADE E SAÚDE COLETIVA. Psicologia e Sociedade. 20 (1): 70-79. Acedido a 24 de março de 2016 em http://www.scielo.br/pdf/psoc/v20n1/a08v20n1.pdf
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