Conceito de Biodiversidade
Biodiversidade é o conjunto formado por grupos de sistemas vivos, diversos entre si. E o que é que se entende aqui por diverso? Um único indivíduo não pode ser considerado como biodiversidade porque ele é semelhante a outro indivíduo da mesma população, ou seja, é possível agrupá-lo a um nível superior. Mas a população ou a espécie a que ele pertence são considerados uma unidade de Biodiversidade. O habitat em que ele vive é um agrupamento diverso, com características ecológicas específicas, logo, um dado ecossistema é um agrupamento mais alargado de Biodiversidade, numa perspectiva de macro escala. Em micro escala, os genes constituintes duma população também são considerados Biodiversidade, porque são um recurso de inovação biológica se possuem formas diversas do fundo genético de outras populações.
Nas últimas décadas, este termo tem adquirido uma relevância crescente. A tomada de consciência do impacto ambiental das actividades humanas e das suas implicações na perda de Biodiversidade, e o reconhecimento dos perigos inerentes à sobre-exploração dos recursos naturais, reforçaram a necessidade de abordar os sistemas vivos duma forma integrada. Actualmente é mais do que reconhecido que as espécies estão interligadas e que a existência de uma única espécie ameaçada pode desequilibrar toda uma comunidade ecológica. Para manter uma comunidade equilibrada, com um elevado número de espécies, ou seja, com uma elevada riqueza específica, é necessário proteger e conservar também o ecossistema em que elas se inserem.
Porque é que a diversidade é importante?
Porque sem um ecossistema diverso não existem nem populações nem comunidades saudáveis. Uma população de uma dada espécie que seja considerada estável do ponto de vista da sua conservação, é composta por um elevado número de indivíduos que se reproduzem livremente entre si. Desta forma, existe diversidade genética suficiente para garantir que, caso ocorra alguma alteração ambiental de elevado impacto, como por exemplo, a introdução de um agente patogénico, um número suficiente de indivíduos irá resistir a essa perturbação e manter a viabilidade da população. Deste ponto de vista, não é equivalente uma população ter cem indivíduos com um perfil genético idêntico, ou ter cem indivíduos com perfis geneticamente diferenciados. A população com maior diversidade genética será aquela onde haverá a maior probabilidade de ocorrência de determinado gene resistente à doença, logo, aquela onde estarão os indivíduos com hipótese de sobrevivência.
Ameaças à Biodiversidade
Para que uma população se mantenha estável é necessário que o seu habitat seja preservado. Tomemos como exemplo uma população de carnívoros que ocorra numa zona florestal. Este tipo de animais precisa de grandes extensões de terreno para desempenharem as suas actividades vitais, compreendendo áreas destinadas à caça e à reprodução, sendo que, o território de caça de um carnívoro poderá atingir dezenas de quilómetros. Se uma área dessa floresta for derrubada para dar lugar a uma estrada, esta população irá ficar fragmentada, ou seja, será separada em pequenas subpopulações que passarão a estar isoladas. Frequentemente as sub-populações não estabelecem fluxo génico ou migração de genes entre si. Assim, esta fragmentação faz com que cada subpopulação contenha apenas uma amostra reduzida da diversidade genética da população de origem, acabando por haver troca de genes dentro de um fundo genético pouco diverso. Este efeito é designado por gargalo de garrafa, uma das formas de deriva genética. Serão as populações com esta tipologia que terão mais dificuldade em se adaptar a modificações no seu habitat e a alterações ambientais.
Outra ameaça actual à conservação da Biodiversidade é a introdução de espécies invasoras. Uma espécie invasora é aquela que é nativa de outra região e que encontra forma de se instalar, reproduzir e difundir no habitat onde é introduzida, competindo com os recursos disponíveis para as espécies nativas. Uma espécie invasora encontra um cenário propício à sua expansão no local onde é introduzida pois, muitas vezes, não possui nem predadores nem competidores que limitem a sua expansão. Desta forma, as espécies nativas perdem terreno para as invasoras, o que tem impacto ao nível da comunidade onde essa espécie nativa está integrada, alterando o equilíbrio ecológico daquele local. O transporte por mar de navios de carga é uma das fontes de maior introdução de espécies invasoras. Quando os barcos despejam as águas de lastro que carregam em tanques ou reservatórios, águas essas destinadas a conferir peso para manter o equilíbrio das embarcações, introduzem nos sistemas marinhos microorganismos e esporos de espécies que podem vir do outro lado do mundo. Essas espécies podem tornar-se invasoras e vir a constituir uma ameaça para a Biodiversidade local.
A Biodiversidade presta serviços ao Homem de valor incalculável
A Natureza é a maior fonte de inovação e de tecnologia que a humanidade possui ao seu dispor. Se pensarmos que sem os insectos não existiria polinização podemos logo prever, com toda a certeza, de que não existiriam árvores de fruto, e por consequência, não teríamos fruta à nossa mesa. Seria bastante dispendioso para os produtores o investimento que teriam de fazer numa polinização com o recurso a tecnologia, e isto os insectos fazem de graça! Vários outros produtos fundamentais para o Homem são sintetizados através de substâncias inventadas pela Natureza. Um bom exemplo disto é o composto utilizado em tratamento por quimioterapia, o paclitaxel (taxol). Os percursores deste composto são extraídos das agulhas de árvores do género Taxus (Teixo) que, por esta razão, têm tido elevada procura por parte da indústria farmacêutica.
A Natureza tem também um papel fundamental na manutenção das condições climáticas da Terra e na prevenção de desastres ecológicos. É um exemplo disto, o sequestro de carbono efectuado pela cobertura vegetal, quer pelas árvores nos ecossistemas terrestres, quer pelas algas nos oceanos, prevenindo o aquecimento excessivo do planeta. A vegetação ripária (vegetação ribeirinha) fornece uma protecção natural às margens dos rios, evitando que as águas inundem as margens e reduzindo a ocorrência de cheias. Estes são apenas alguns exemplos de serviços fundamentais prestados de forma gratuita pela Natureza à humanidade, para os quais o Homem ainda não encontrou alternativas eficazes e pouco dispendiosas.
Hotspots de Biodiversidade
O conceito de hotspot de Biodiversidade surgiu pela necessidade de identificar os locais do planeta com maior Biodiversidade, com maior número de espécies endémicas (espécies que só existem numa determinada zona) e com maior urgência na aplicação de medidas de conservação. Assim, um hotspot de Biodiversidade compreende um habitat único altamente ameaçado, que presta serviços e funções ecológicas irrecuperáveis e com espécies raras que só existem nesse local. A perda duma espécie endémica pode ser uma perda incalculável, já que pode representar a perda de um recurso importante insubstituível.
Por definição, um hotspot de Biodiversidade terá de ter uma elevada percentagem de plantas endémicas e 30% ou menos da vegetação original. Existem cerca de 35 áreas consideradas como hotspots, representativas de apenas 2.3% da superfície do planeta, mas albergando mais de metade das espécies de plantas endémicas existentes, e cerca de 43% das espécies endémicas de aves, mamíferos, répteis e anfíbios. Ecossistemas como as florestas tropicais (note-se que a Biodiversidade aumenta desde os pólos até à linha do equador, com excepção das regiões desérticas) e os recifes de coral são dos habitats mais ameaçados do planeta e que albergam maior diversidade de vida.
A lista de hotspots por região pode ser consultada em:
http://www.cepf.net/resources/hotspots/Pages/default.aspx
Um dos estudos mais divulgados, compreendendo uma lista de 25 hotspots:
http://www.nature.com/nature/journal/v403/n6772/full/403853a0.html