Violência emocional
A violência emocional envolve, habitualmente o vínculo afetivo e expressa-se sobre a forma de agressão psicológica contra a vítima.
Segundo os estudos de Antoni e Koller (2001) a violência emocional é caracterizada pelo abuso emocional ou psicológico que priva a pessoa de poder amar e ser amada.
De acordo com Garbin, Queiroz, Rovida e Saliba (2012) a importância de intervir ao nível deste tipo de violência, deve-se ao facto de que, de entre todos os tipos, na maioria dos casos, a emocional é aquela que mais prevalece, tal como indica este e muitos outros estudos.
Habitualmente, tal como em outros tipos de violência, a emocional é exercida pelos pais ou responsáveis e afeta o desenvolvimento psicológico e intelectual do indivíduo, ainda durante a infância, uma vez que está, na maioria dos casos, envolvido um forte vínculo afetivo entre ambos (Garbin, Queiroz, Rovida, & Saliba, 2012). Devido ao envolvimento da carga afetiva, principalmente quando a vítima é uma criança, é mais complicado perceber sinais de violência emocional, uma vez que, por medo, a mesma procura esconder a situação (Garbin, Queiroz, Rovida, & Saliba, 2012). Além disso, a violência emocional não deixa marcas físicas, torna-se mais complicado detectar este tipo de violência a olho nu, o que leva à necessidade de atenção redobrada ao comportamento da vítima (Garbin, Queiroz, Rovida, & Saliba, 2012).
Num caso de violência sexual contra uma menina, por exemplo, são recorrentes atitudes hostis e agressivas que podem levar a mesma a ficar com a autoimagem e com a autoestima comprometidas (Antoni, & Koller, 2001). De referir que, na maioria dos casos de violência emocional, a mesma vem acompanhada de outros tipos de violência, principalmente física, uma vez que, quando alguém fica exposto à violência física, a agressão vem acompanhada de humilhações, rejeições, isolamento, terrorismo, entre outras formas de agredir (Antoni, & Koller, 2001).
Tal como a violência física se associa à violência emocional, também outros tipos de violência estão associados a esta, como já referimos acima pelo que, um dos casos mais frequentes é o da negligência (Antoni, & Koller, 2001). Esta diz respeito à escassez de alimento e consequente desnutrição, ausência de estímulos que promovam a integridade emocional, intelectual, social, física e moral, e, em casos ainda mais extremos, o abandono total (Antoni, & Koller, 2001).
Algumas pesquisas demonstram ainda a maior probabilidade de violência emocional em famílias de nível sócio económico (NSE) baixo, onde, em muitos casos, a responsabilidade financeira está maioritariamente a cargo das mulheres, a tendência para a maternidade precoce é mais elevada e, na maioria das situações, vivem, pelo menos, três gerações na mesma (Garbin, Queiroz, Rovida, & Saliba, 2012). A par disso, vem a necessidade de todos os membros da família terem a necessidade de ingressar mais cedo no mercado de trabalho, devido ao NSE baixo (Garbin, Queiroz, Rovida, & Saliba, 2012).
Por consequência de todas estas dificuldades associadas ao NSE a família vive num contexto de grande pobreza, constantemente submetida a altos níveis de stresse devido à procura sistemática por meios de sobrevivência e acabam por surgir problemas emocionais entre os membros (Garbin, Queiroz, Rovida, & Saliba, 2012).
Em algumas situações, chega mesmo a haver rejeição oficial, quando os membros da família declaram mesmo ausência de interesse em manter por perto dos familiares com quem exercem violência, frequentemente verificado em casos de violência emocional contra crianças (Antoni, & Koller, 2001).
De referir ainda que a violência emocional está presente, maioritariamente em famílias monoparentais e com baixo nível de escolaridade (Garbin, Queiroz, Rovida, & Saliba, 2012).
Tendo em conta que falamos de uma forma de violência, Antoni e Koller (2001) referem, como na maioria dos tipos desta, o desenvolvimento de problemas de saúde tais como doenças físicas, doenças sexualmente transmissíveis (DST), doenças do foro psíquico, tais como depressão, ansiedade, baixa autoestima, comportamento desviante, entre outras complicações provenientes da situação de risco.
No sentido de compreender por que meios se deve recorrer a uma intervenção adequada, Antoni e Koller (2001) propõem uma avaliação minuciosa de cada caso, individualmente, para recolher informações acerca das características biológicas, físicas, psicológicas e ambientais a que a vítima está, habitualmente, exposta.
Conclusão
A violência emocional mostra-se como sendo a mais comum forma de exercer qualquer tipo de agressão, uma vez que, a maioria dos outros tipos de violência envolve, invariavelmente, o foro emocional. Na maioria dos casos acontece dentro da família, por motivos financeiros e de pobreza extrema e as vítimas mais comuns são as crianças. Devido a estas questões, a intervenção ao nível das vítimas de violência emocional deve ser feita mediante uma avaliação das condições gerais de vida da pessoa, com levantamento da sua história de vida.
References:
- Adas, Saliba Garbin, Clá, Dossi de Guimarães e Queiroz, Ana Paula, Adas Saliba Rovida, Tânia, & Saliba Orlando. (2012). A violência familiar sofrida na infância: uma investigação com adolescentes. Psicologia em Revista, 18(1), 107-118. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-11682012000100009;
- Antoni, Clarissa De, & Koller, Silvia Helena. (2001). O psicólogo ecológico no contexto institucional: uma experiência com meninas vítimas de violência. Psicologia: Ciência e Profissão, 21(1), 14-29. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-98932001000100003&script=sci_arttext.