Ao falar de sexualidade não podemos deixar de falar de afetos, uma vez que ambas estão muito frequentemente associadas. Sendo o ser humano feito para se relacionar com os outros, é comum que o envolvimento sexual, aconteça com alguém a quem estamos afetivamente ligados.
Assim, sabemos que a sexualidade faz parte da condição do ser humano ao longo de todo o percurso vital e que a capacidade para criar afetos e vinculação com os outros depende da forma como se desenvolve a nossa sexualidade, que relaciona os aspetos afetivos, amorosos, eróticos, etc (Costa, Lopes, Souza, & Patel, 2001).
Sabemos também que estes dois aspetos estão diretamente ligados à nossa relação com as pessoas mais próximas, habitualmente os nossos pais, e aos fatores morais, culturais, sociais, religiosos, etc, inerentes, que formam a nossa identidade sexual (Costa, Lopes, Souza, & Patel, 2001).
No que concerne às pessoas mais próximas, normalmente a família, Taquette e Vilhena (2008) compreenderam, durante as suas pesquisas, que, os comportamentos afetivo-sexuais de adolescentes do sexo feminino, são altamente influenciados pela mesma.
Tanto no caso de jovens provenientes de famílias funcionais como no caso de jovens provenientes de famílias disfuncionais, o comportamento adotado é uma consequência do que é aprendido em contexto familiar (Taquette, & Vilhena, 2008).
A fase da adolescência é pautada por um aumento do interesse nestas questões sexuais e afetivas, em que o indivíduo procura mais intensamente o relacionamento com o outro, através do contato íntimo, da troca de carícias, das relações sexuais casuais ou duradouras, contudo, muitas vezes, de comportamentos sexuais de risco (Costa, Lopes, Souza, & Patel, 2001).
Esta procura, habitualmente, leva os adolescentes a ter comportamentos diferentes, de acordo com o género, o que leva os rapazes a procurar mais o contato físico e a satisfação sexual e as raparigas a priorizar o afeto, embora com a presença da necessidade de satisfação física, numa mistura de ambos os fatores (Costa, Lopes, Souza, & Patel, 2001).
Taquette e Vilhena (2008) mostram, nos seus estudos, que quanto ao envolvimento afetivo durante a relação sexual, jovens mais seguras do que é certo e do que é errado, são, principalmente, aquelas que recebem afeto por parte dos seus familiares, que lhes transmitem proteção.
Quanto aos rapazes, as pesquisas das autoras, demonstraram também que, quanto ao assunto da virgindade feminina, os mesmos dão mais valor do que as próprias raparigas (Taquette, & Vilhena, 2008).
Também é comum que esta fase seja marcada pela confusão de sentimentos, porque há uma mistura entre desejo e medo do envolvimento afetivo e íntimo (Costa, Lopes, Souza, & Patel, 2001).
Procuram a partilha e a troca de sentimentos através da expressão sexual e da escolha de uma pessoa em específico, com a qual eles/as se identificam, muito embora, no início da adolescência, esta escolha se prenda mais com a procura de sensações novas do que com a procura de um/a parceiro/a fixo/a (Costa, Lopes, Souza, & Patel, 2001).
Ao falar do afeto durante o contato íntimo, não podemos deixar de falar da violência que está presente em muitas relações afetivas adolescentes e que, cada vez mais, a mesma é considerada normal pelos jovens devido a questões de traição, desrespeito e discussões (Taquette, Ruzany, Meirelles, & Ricardo, 2003).
Por vezes, neste tipo de relacionamento afetivo, devido à falta de competências de comunicação, com a existência de comportamentos violentos, aparecem outros comportamentos de risco, como o não uso do preservativo, principalmente quando se trata de relacionamentos fixos porque “muitos rapazes têm namorada fixa e confiável e por isso não julgam necessário seu uso nas relações sexuais.” (Taquette, Ruzany, Meirelles, & Ricardo, 2003, p.6).
Intervenção afetivo-sexual junto de adolescentes
De acordo com Costa, Lopes, Souza e Patel (2001) a intervenção na área da sexualidade e dos afetos, deve acontecer respeitando tópicos cruciais como lidar com a realidade dos adolescentes, levando-os a identificar-se com aquilo que é abordado e discutido, e encontrar uma ponte de ligação entre o discurso e o seu comportamento (Costa, Lopes, Souza, & Patel, 2001).
Este cuidado com o discurso, permite que eles se sintam estimulados a procurar compreender e saber mais, e a desenvolverem uma melhor auto-estima (Costa, Lopes, Souza, & Patel, 2001).
Conclusão
De acordo com as linhas supracitadas, podemos concluir que a sexualidade os afetos na adolescência, tal como outras modificações desta faixa etária, levam os jovens a assumir comportamentos que podem variar em função de muitos fatores, principalmente em função do género e das relações familiares. É comum as raparigas serem mais ligadas a questões afetivo-sexuais e os rapazes a questões mais puramente de satisfação sexual imediata, o que leva a diferentes interpretações e comportamentos em relação ao mesmo assunto. Se as raparigas priorizam mais relacionamentos afetivos, os rapazes priorizam mais relacionamentos casuais, no início da adolescência, embora a situação modifique na fase final da mesma em que ambos procuram mais relacionamentos duradouros. A par disto podemos concluir que a vinculação aos elementos familiares, prediz a valorização que os adolescentes darão aos seus relacionamentos com os pares.
References:
- Costa, M.C.O., Lopes, C.P.A., Souza, R.P., & Patel, B.N. (2001). Sexualidade na adolescência: desenvolvimento, vivência e propostas de intervenção. Sexuality in adolescence: develompent, experience, and proposals for intervention. Jornal de Pediatria. 77(supl.29: S217-S224.
- Taquette, S.R., Ruzany, M.H., Meirelles, Z., & Ricardo, I. (2003). Relacionamento violento na adolescência e risco de DST/AIDS. Saúde Pública. 19(5): 1437-1444. Acedido a 23 de março de 2016 em http://www.scielosp.org/pdf/csp/v19n5/17816.pdf
- Taquette, S.R., & Vilhena, M.M. (2008). UMA CONTRIBUIÇÃO AO ATENDIMENTO DA INICIAÇÃO SEXUAL FEMININA NA ADOLESCÊNCIA. Psicologia em Estudo.13, nº1, p.105-114. Acedido a 23 de março de 2016 em https://www.researchgate.net/profile/Stella_Taquette/publication/262506652_Understanding_female_sexual_initiation_in_adolescence/links/0c96053c9921cb35bb000000.pdf