Maternidade na adolescência

A maternidade na adolescência é considerada por diversos autores um problema de Saúde Pública.

Maternidade na adolescência

A maternidade na adolescência é considerada por diversos autores um problema de Saúde Pública (Esteves, & Meandro, 2005; Gontijo, & Medeiros, 2004; Pantoja, 2003; Santos, & Schor, 2003). Isto deve-se ao facto de se falar de um intervalo de idade em que a adolescente ainda não se encontra preparada física e psicologicamente para o desenvolvimento de um feto no seu útero, além de que a condição gravídica mudará toda a sua vida escolar, familiar e social.

 De acordo com os estudos de Pantoja (2003) a maternidade é tão importante para a mãe adolescente quanto a escolarização.

A maternidade na adolescência, refere-se a um fenómeno que se dá, com maior incidência, em raparigas entre os 15 e os 19 anos de idade, e que se trata de um problema social e de Saúde Pública, tanto na educação como na psicologia (Esteves, & Menandro, 2005).

Nos estudos de Santos e Schor (2003) este intervalo varia entre os 10 e os 14 anos de idade e nas pesquisas de Gontijo e Medeiros (2004) estas mães têm habitualmente baixa escolaridade, são maioritariamente de raça negra (em alguns estados brasileiros) e vivem em contextos de violência constante.

Apesar de se tratar de uma fase de maternidade precoce, as adolescentes valorizam o carinho e o afecto das pessoas dentro da escola, o cuidado com que são recebidas, as homenagens tradicionais do “chá de panela” etc (Pantoja, 2003).

Gontijo e Medeiros (2004) nos seus estudos, constataram que, por norma, este apoio não existe, porque as mães adolescentes vivem maioritariamente em meios onde existe droga, ausência de afecto e de cultura, o que prejudica gravemente o seu desenvolvimento bio-psico-social.

Esteves e Menandro (2005) e Santos e Schor (2003) referem que o estado gravídico neste intervalo etário acarreta risco de vida tanto da mãe como do bebé é muito maior, devido à maior probabilidade de o bebé nascer prematuro, com baixo peso, uma vez que o útero ainda está em desenvolvimento e não tem o espaço adequado pra gerar vida.

Falamos de problemas como sofrimento fetal agudo, desproporção feto-pélvica, anemia, diabetes gestacional, entre outras complicações (Esteves, & Menandro, 2005).

A par disso, a literatura revela problemas psicossociais associados à maternidade/gravidez na adolescência, podem afectar a vida da mãe e do bebé, tais como pouca assistência durante a gravidez, maior probabilidade de adoecer, baixo rendimento escolar, menos oportunidades de emprego e abandono escolar, entre outros (Esteves, & Menandro, 2005).

Não podemos ainda esquecer a revisão da literatura efectuada por Gontijo e Medeiros (2004) que faz referência à frequente situação precária das mães adolescentes, que vivem em condições de vida desfavoráveis, num contexto familiar bastante numeroso que contribui para a desigualdade social e económica, influenciadora da situação precária que a família vive.

Implicações da maternidade/gravidez na adolescência

  • Adolescência interrompida;
  • Abandono escolar (vergonha, proibição, etc);
  • Menor qualificação profissional;
  • Menor espaço para uma vida sexual normal e consequentemente, menor fecundidade;
  • Menor autonomia para formar família;
  • Dependência da família;
  • Maior risco de instabilidade conjugal;
  • Abandono familiar em alguns casos;
  • Despreparo para cuidar do filho

(Esteves, & Menandro, 2005, p.2).

É importante ter em conta que a maternidade/gravidez na adolescência, pode acontecer em qualquer faixa etária e em qualquer estrato social, o que significa que pode acontecer também em qualquer contexto (Esteves, & Menandro, 2005).

Por vezes, as condições da adolescente não são as piores, dependendo da maturidade dela e do pai da criança, o que leva a que o fenómeno também seja considerado um problema, mais do ponto de vista socialmente aceite, o que nem sempre é verdade (Esteves, & Menandro, 2005; Santos, & Schor, 2003).

Por outro lado, tal circunstância acarreta mudanças que não estariam presentes no caso de a mãe adolescente não engravidar, tais como ter uma vida com maior facilidade de planeamento dos acontecimentos, devido à responsabilidade acrescida, já que cada decisão deve ser bem pensada (Esteves, & Menandro, 2005).

Além disso, a mãe adolescente aprende a desenvolver a capacidade de resiliência, uma vez que precisa de se adaptar a uma nova forma de viver, que a leva à necessidade de ir à luta para se garantir dos seus compromissos e necessidades (Esteves, & Menandro, 2005).

Nos estudos de Santos e Schor (2003) verificamos que, em geral, a mãe adolescente percepciona o filho como uma propriedade que a leva à necessidade de atingir a maturidade necessária no sentido de adquirir competência para tomar conta do seu bebé.

Não podemos deixar de referir que as possibilidades de apoio e ajuda por parte da família e do pai da criança também são fundamentais, pois os estudos indicam que, quando este apoio existe, a capacidade da adolescente para cuidar do seu filho e de si, é maior (Esteves, & Menandro, 2005).

Percebemos ainda que, apesar de não ser uma situação fácil, a maternidade na adolescência não deixa de ser uma circunstância que leva a adolescente a adoptar uma postura mais responsável para com o seu filho e com toda a sua vida (Santos, & Schor, 2003).

Conclusão

Maternidade/gravidez na adolescência, referimo-nos ao intervalo etário que varia entre os 10/12 e os 18 anos de idade, em que se dá a gravidez precoce, habitualmente não desejada e em que a adolescente se encontra em idade de estudar. O processo acarreta consequências que não aconteceriam da mesma forma se a jovem estivesse já na fase adulta já que o corpo ainda não atingiu o pico necessário ao desenvolvimento normal do bebé. Muitas vezes as circunstâncias em que a adolescente não são as mais favoráveis. Todas estas questões levam a que a maternidade/gravidez na adolescência seja considerada um problema de Saúde Pública, já que a adolescente precisa de cuidados redobrados não planeados para a faixa etária em que está.

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References:

  • Evandro, J.R., & Meandro, P.R.M. (2005). Trajetórias de vida: repercussões da maternidade adolescente na biografia de mulheres que viveram tal experiência. Estudos de Psicologia, 10(3), 363-370. Acedido a 8 de Fevereiro de 2016 em http://www.scielo.br/pdf/epsic/v10n3/a04v10n3
  • Gontijo, D.T., & Medeiros, M. (2004). GRAVIDEZ/MATERNIDADE E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL E PESSOAL: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES. Revista Eletrônica de Enfermagem, v.06, nº03. Acedido a 8 de Fevereiro em https://www.revistas.ufg.br/index.php?journal=fen&page=article&op=view&path[]=830&path[]=972
  • Pantoja, A.L.N. (2003). “Ser alguém na vida”: uma análise sócio-antropológica da gravidez/maternidade na adolescência, em Belém do Pará, Brasil. “Be someone in life”: a socio-anthropological analysis of adolescent pregnancy and motherhood in Belémm, Pará State, Brasil. Saúde Pública. 19, 2, 335-5343. Acedido a 8 de Fevereiro de 2016 em http://www.scielo.br/pdf/csp/v19s2/a15v19s2
  • Santos, S.R., & Schor, N. (2003). Vivências da maternidade na adolescência precoce. Experiencing motherhood in early adolescente. Saúde Pública. 37(1): 15-23. Acedido a 8 de Fevereiro de 2016 em http://www.scielosp.org/pdf/rsp/v37n1/13540.pdf
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