Conceito de isolamento social
O isolamento social é entendido como um comportamento persistente no âmbito do qual o indivíduo age ou atua maioritariamente em atividades solitárias, podendo interagir socialmente apenas quando sente que é estritamente necessário. O isolamento social pode ser voluntário, na sequência do evitamento social e/ou preferência por atividades solitárias, ou ainda involuntário na sequência de situações de rejeição pelos pares.
Conceptualização
Pode manifestar-se em qualquer faixa etária ou fase do desenvolvimento, estando associado a determinados crenças que condicionam o indivíduo. Verifica-se que o comportamento de isolamento traduz crenças sobre os outros, podendo estas enquadrar-se numa visão negativa (e.g. os outros como aversivos ou críticos) ou positiva (e.g. os outros como melhores). Por sua vez, a crença que o indivíduo apresenta sobre si mesmo estrutura um Self vulnerável, com a perceção de que é incapaz ou menos capaz que os outros, insuficiente ou desvalorizado.
Desta forma, o isolamento social encontra-se também associado a uma deficiente autoestima e assertividade, tendendo a ser pautada por respostas não assertivas, que podem ser de passividade ou agressividade.
Sabe-se que as dificuldades no relacionamento interpessoal resultam em parte das experiências de socialização anteriores, isto é, do modo como o indivíduo aprendeu a socializar e, em consequência, da segurança ou insegurança que foi adquirindo sobre si mesmo e de si na relação com os outros. Por outras palavras, é no contexto social que as competências interpessoais e sociais são desenvolvidas e continuamente consolidadas, tais como a empatia, a assertividade e a resolução de problemas sociais, pelo que as suas dificuldades resultam muitas vezes de lacunas ao nível da sua aquisição ou implementação.
Os estilos parentais, por exemplo, podem assumir uma influência importante a este nível, expressos no modo como os pais/cuidadores permitem e promovem a exploração do meio, de outras relações, de autonomia e diferenciação. Em suma, as relações precoces podem contribuir positiva ou negativamente para o estabelecimento de relações com os pares ou outros indivíduos, inclusive pela forma como contribuíram para as crenças que o indivíduo apresenta sobre si e sobre os outros.
Isolamento social e perturbações psicológicas
O isolamento social não se afigura uma perturbação psicológica em si mesmo, podendo contudo constituir-se como um sintoma ou manifestação de algumas perturbações clínicas e da personalidade. No âmbito das perturbações clínicas são exemplo os episódios depressivos, as perturbações de ansiedade, designadamente a perturbação de ansiedade social, perturbações do espetro do autismo e a esquizofrenia. Relativamente às perturbações de personalidade, o isolamento pode manifestar-se sobretudo nas perturbações esquizoide, esquizotípica e evitante.
Na avaliação deste comportamento, isto é, no enquadramento da sua manifestação é então necessário atender à frequência, duração e generalização de contextos em que o mesmo ocorre. Revela-se também crucial a consciência das motivações do indivíduo, o modo como interage com os outros (e.g. dificuldades que experiencia) ou que atividades são realizadas quando se isola. O comportamento pode ser também mais bem compreendido no contexto da história e experiências de vida do indivíduo, inclusivamente quanto a antecedentes, fatores precipitantes e de manutenção.
Palavras-chave: Isolamento social; perturbações de humor; ansiedade social, perturbação do espetro do autismo; perturbação evitante
References:
Ammerman, R.T., Hersen, M., & Thomas, J. (2006). Comprehensive Handbook of Personality and Psychopatology. Child psychopatology. New Jersey: John Wiley & Sons.
Tarrier, N. (2006). Case Formulation in Cognitive Behaviour Therapy. The treatment of challenging and complex cases. New York: Routledge.