Com este tema pretendemos compreender a forma como a pessoa com deficiência vive a sexualidade e os afectos. Procuramos saber como contorna limitações da condição física, em que medida a sociedade está ou não preparada para incluir estes indivíduos, e como se sentem perante a família, os serviços de saúde, a sociedade e os pares.
Mitos e preconceitos associados ao jovem portador de deficiência
É muito comum estes jovens estarem condicionados e serem vistos como incapazes e vulneráveis, sendo-lhes vedado o direito à sexualidade (Soares, Moreira, & Monteiro, 2008). São olhados como seres sem capacidade de viver a sexualidade e os afectos de forma responsável e protegida por uma sociedade que os isola, no que concerne à vida sexual e afectiva, o que lhes limita a possibilidade de criar vínculos com as pessoas ao seu redor, infantilizando-os e hiper protegendo-os (Soares, Moreira, & Monteiro, 2008).
Maia e Ribeiro (2010) mencionam os mitos e preconceitos que estes indivíduos vivem por não fazerem parte da norma social associando deficiência, doença e dor, sofrimento e morte, que os deixam, em desvantagem, perante a sociedade.
Por estes motivos, torna-se, urgente proporcionar aos cidadãos deficientes experiências que os permitam sentir prazer, viver a sexualidade e ter vida afectiva, esclarecendo crenças erradas, promovendo a sua inclusão e tornando a sua vida social mais prazerosa e funcional.
Jovens portadores de espinha bífida
Para Soares, Moreira e Monteiro (2008) uma das maiores dificuldades prende-se com a imagem que o adolescente tem acerca do seu próprio corpo quando relacionada com o ritual de conquista e de ser conquistado. No que diz respeito aos adolescentes portadores de espinha bífida, preocupações ligadas ao auto cateterismo são inerentes a muitos dos casos devido à forma como ele é realizado (via genital) (Soares, Moreira, & Monteiro, 2008). Por outro lado, devido ao facto de o auto cateterismo ser realizado através da manipulação da própria genitália, por vezes, acontece o paradoxo de o adolescente com espinha bífida despertar para a sexualidade mais cedo do que o adolescente não portador de deficiência (Soares, Moreira, & Monteiro, 2008). Ter de manipular a genitália pode levar a questões como a existência ou não de sensibilidade nessa zona do corpo ou mesmo, ou, no caso das raparigas, ao medo de perder a virgindade durante o processo (Soares, Moreira, & Monteiro, 2008).
Uma das descobertas mais vincadas destes estudos, foi o medo de se relacionarem afectivamente originado por más experiências provenientes da reacção à sua condição física, que se traduzem em rejeição, isolamento social, auto estima afectada e medo de não serem aceites (Soares, Moreira, & Monteiro, 2008).
Maia e Ribeiro (2010) observam vários mitos relacionados com a vida social e afectiva destes indivíduos, porque a ideia que temos é de modelos perfeitos que a sociedade construiu, que estigmatizam as pessoas com deficiência.
Helman (s.d.) citado por Soares, Moreira e Monteiro (2008) refere que “o corpo social é uma parte importante da imagem do corpo, pois fornece a cada pessoa uma base para perceber e interpretar suas próprias experiências físicas e psicológicas…”.
Pegando nesta citação, Soares, Moreira e Monteiro (2008) preocupam-se com as dificuldades sexuais e afectivas destes jovens quando se deparam com uma cultura social com a qual a sua condição corporal não se enquadra.
São vistos como assexuados e, quando expressam sexualidade, a mesma é vista como algo a evitar, perigoso e pervertido (Soares, Moreira, & Monteiro, 2008). No caso das raparigas, há uma hiper proteção acrescida devido ao medo de que sejam sexualmente abusadas por causa da sua fragilidade física (Soares, Moreira, & Monteiro, 2008).
Uma das maiores falhas da sociedade, é a falta de informação e apoio existente, pelas famílias e pelos serviços de saúde, por exemplo, no que concerne à disfunção eréctil e capacidade de reprodução (Soares, Moreira, & Monteiro, 2008). Questões físicas como estas, como a falta de lubrificação vaginal, ou como a ausência de orgasmo, podem, segundo Maia e Ribeiro (2010) traduzir-se em sentimentos de culpa em indivíduos deficientes, dos pontos de vista sexual e afectivo.
Quanto aos investimentos no acesso à educação, saúde e vida social, das pessoas com deficiência, observamos muita negligência acerca das suas necessidades sexuais e afectivas, embora o tema venha sendo estudado quanto aos diferentes tipos de deficiências existentes (Maia, & Ribeiro, 2010).
É com base nas dificuldades vividas por estes indivíduos, especificamente no que diz respeito à sexualidade e aos afectos, que Soares, Moreira e Monteiro (2008) defendem que todo o ser humano tem direito ao acesso à informação sendo ou não portador de deficiência, através de programas educativos para o efeito em que se possam debater as questões relacionadas com o mesmo e partilhar experiências.
Conclusão
É preciso mudar a forma como observamos estes indivíduos, porque, tal como os demais, sentem desejo, necessidade de criar laços e de se relacionarem com as pessoas de forma afectiva. Importa esclarecer as crenças erradas de que estas pessoas são assexuadas e que a sua condição física é um obstáculo à sexualidade e aos afectos. Torna-se necessário promover programas de esclarecimento, debate e partilha de informação para estes indivíduos, as suas famílias e a sociedade em geral.
References:
- Maia, A.C.B., & Ribeiro, P.R.M. (2010). Desfazendo mitos para minimizar o preconceito sobre a sexualidade de pessoas com deficiências. Dispelling myths to minimize prejudice about the sexuality of people with disability. Bras. Ed. Esp, Marília, v.16, nº2, p-159-176. Acedido em 23 de Dezembro de 2015 em http://www.scielo.br/pdf/rbee/v16n2/a02v16n2.pdf
- Soares, A.H.R., Moreira, M.C.N., & Monteiro, L.M.C. (2008). Jovens portadores de deficiência: a sexualidade e estigma. Disabled adolescentes: sexuality and stigma. Ciências & Saúde Coletiva, 13 (1), 185-194