Os linfócitos B, também denominados de células B, são, fora da medula, morfologicamente homogéneos, mas o fenótipo da sua superfície celular, a localização anatómica, e as propriedades funcionais revelam ainda algumas complexidades para desvendar. As células B imaturas existentes na medula adquirem à sua superfície o IgD, bem como o CD21 e CD22, para além de outras alterações importantes nas funcionalidades de outros recetores. As células B imaturas respondem a antigénios independentes de células T do tipo 1 como os lipopolissacarídeos, que promovem uma resposta rápida através de anticorpos.
Identificaram-se diferentes tipos de células B com funções individualizadas como as células B1 e as células B de zonas marginais (MZ, do inglês “marginal zone”). As células B1 murínicas foram descritas em 1983 por Lee Herzenberg e são uma subpopulação de células B CD5+ distintas das células B convencionais (B2) em relação ao seu fenótipo, localização anatómica, capacidade de auto-renovação e produção de anticorpos. As células B peritoneais são subdivididas em células B1a (CD5+) e células B1b (CD5–). Os linfócitos B1a e os seus anticorpos fornecem uma proteção inata contra infeções bacterianas em hospedeiros naïve, enquanto as células B1b funcionam independentemente como a primeira fonte de anticorpos na resposta adaptativa a polissacarídeos e antigénios independentes de células T do tipo 2 durante a infeção. A função e as subpopulações de células B1 ainda não estão completamente compreendidas. Os linfócitos B MZ são uma população única de células B com propriedades de ambas as células naïve e de memória e constituem a primeira linha de defesa contra bactérias encapsuladas do sangue. As células B1, MZ e do centro germinal (GC, do inglês “germinal center” contribuem para a totalidade dos anticorpos circulantes, para as respostas através do IgM independentes do timo, e para a imunidade adaptativa através da diferenciação terminal em células plasmáticas (também denominadas de plasmócitos), que são as células efectoras da imunidade humoral. A ativação de células B maduras leva ao desenvolvimento de células GC, à geração de plasmoblastos que secretam anticorpos enquanto se multiplicam, e aos plasmócitos extrafoliculares que secretam anticorpos específicos.
Para além de libertarem anticorpos, as células B também mediam/regulam muitas outras funções essenciais à homeostasia do sistema imunitário. As células B são fundamentais na iniciação das respostas por parte das células T. Desta forma, as interações antigénicas específicas entre as células B e T podem necessitar que o antigénio seja primeiramente internalizado pelo recetor das células B (BCR, do inglês “B cell receptor”), processado, e depois apresentado numa classe do complexo major de histocompatibilidade (MHC) restrita às células T. Embora essenciais para o desenvolvimento normal do sistema imunitário, as células B também são importantes na sua manutenção. Por exemplo, os linfócitos B podem libertar citocinas imunomodulatórias que podem influenciar uma variedade de células T, células dendríticas, e as funções das células apresentadoras de antigénios, regular a organização de tecido linfoide e a neogénese, regular a cicatrização e a rejeição de transplantes, e influenciar o desenvolvimento de tumores e a imunidade a eles mesmos. As células B podem funcionar como células efetoras de produção de citocinas que influenciam a diferenciação das células T. Para além disto, também se descreveram células B regulatórias. Demonstrou-se que um tipo de células fenotipicamente distintas, designadas de células B10, regulam as respostas inflamatórias mediadas por células T através da produção de IL-10. A caracterização dos diferentes tipos de células B, as suas funções, bem como os seus mediadores moleculares usados em cada atividade específica são temas importantes para se abordar em investigações futuras.
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