Contextualização do Reino da Galiza:
O Reino da Galiza remonta as suas origens à ocupação romana da Península Ibérica. Como forma de administrar este território, dividiram a região em cinco territórios administrativos, um deles, denominada Galécia, situada no noroeste peninsular. Boa parte da Galécia corresponde à actual Galiza, o restante situa-se no norte de Portugal.
A chegada dos Suevos à Península Ibérica, no início do século V, levou à ocupação de boa parte da Galécia, e Lusitânia por esta tribo germânica. O Reino Suevo tinha a cidade de Braga como capital, foi o primeiro momento em que realmente existiu um Reino da Galiza, completamente independente.
O caos que surgiu após a queda do Império Romano do Ocidente em 476 levou, a diversas alterações políticas e fronteiriças na Europa. Até 507, o Reino Visigótico, dividia o seu território entre o Sul da Gália e a Península Ibérica, após a derrota, ante o exército franco de Clóvis, os Visigodos concentraram-se na expansão territorial na Península Ibérica, a partir de 507.
Até 585 os Suevos mantiveram a sua independência politica na Hispânia, ano em que, Leovigildo conseguiu anexar, esta entidade politica ao reino visigótico. Embora dependentes da autoridade central visigótica, gozavam de uma certa autonomia.
Em 711 as forças muçulmanas invadem a península, conquistando rapidamente o reino visigótico. Assumem o controlo de praticamente toda a região, com excepção da Região das Astúrias e Galiza. A orografia mais acidentada deste território favorecia, a defesa cristã contra o avanço muçulmano. Por seu lado, os muçulmanos nunca tiveram uma grande presença no noroeste peninsular, preferiram manter a região sobre controlo não ocupação, deslocando forças militares a norte, sempre que necessário para repor a ordem.
Estavam lançadas as bases para o nascimento de um novo Reino Cristão na Península, o Reino das Astúrias, cujos territórios iriam compreender parte da Galiza. Ao longo dos séculos VIII e IX, as Astúrias vão expandindo os seus domínios, iniciando o processo de reconquista Cristã. Inicialmente para os antigos territórios Suevos a norte, livres da ocupação mourisca, iniciando o processo de repovoamento.
A partir do Reino das Astúrias, nasce o Reino de Leão, passando a Galiza a ser controlada por esta nova entidade politica formada em 910. Durante os séculos X e XI, a política interna do Reino de Leão ganhou primazia relativamente ao processo de reconquista. Embora neste período várias cidades do reino tenham sido saqueadas pelo exército árabe de Almançor.
Em 1065, Fernando I, morre e o Reino de Leão é repartido pelos três filhos. Exista alguma discussão na historiografia relativamente a esta repartição, alguns historiadores defendem que foi promovida por Fernando, outros defendem que foi feita mediante as regiões de influência, de cada um, governando-as como soberanos. Sancho na parcela oriental, Castela; Afonso nos territórios centrais de Leão e Garcia nos Ocidentais, onde estabeleceu o Reino da Galiza. Em 1071, foi derrotado pelos dois irmãos, colocando um ponto final nesta breve História, do Reino da Galiza na Época Medieval.
Com a estabilização da política interna cristã, Afonso (Afonso VI de Leão e Castela), centrou novamente as atenções do reino na Reconquista Cristã, apelando aos nobres e cavaleiros francos, no auxílio a esta causa. Entre os vários que acederam ao pedido, para a contextualização do Reino da Galiza é fulcral referir, os primos, Raimundo e Henrique de Borgonha.
Como forma de agradecimento pelos serviços prestados, Afonso cedeu a Raimundo de Borgonha o Condado da Galiza, antigo Reino da Galiza, brevemente governado por Garcia, e a mão da sua filha Urraca. A má administração do território, por parte de Raimundo, levou a que existisse uma cisão do Condado. Afonso reestabeleceu o Condado Portucalense, atribuindo-o a Henrique de Borgonha, bem como a mão da sua filha ilegítima Teresa de Leão.
Afonso procurava afastar os dois primos, que haviam feito um acordo de partilha do Reino de Leão, após a sua morte. Esta divisão do antigo Reino da Galiza foi, tanto uma jogada política, como uma tentativa de melhorar a administração da região. Seria a partir de um filho de Henrique de Borgonha, Afonso Henriques, que seria fundado o Reino de Portugal.
Quanto á Galiza, impedida de progredir para sul, e tendo o seu poder limitado, continuou a ser parte integrante do Reino de Leão e Castela. No século XIV, houve uma clara tentativa de união da Galiza com o Reino de Portugal, mas este projecto fracassou, mantendo-se este território, na época castelhano, após a queda da dinastia de Leão.
A formação do Reino de Portugal, que impossibilitou geograficamente a Galiza de expandir-se para territórios muçulmanos, iniciou o processo de declínio e influência galega na Península Ibérica. Tornou-se uma mera região administrativa de Castela, e com a união dinástica entre Aragão e Castela, de Espanha. Perdendo inclusivamente o direito de voto nas Cortes, em determinados momentos da história espanhola.
O poder da Galiza estava intrinsecamente associado com o processo de Reconquista, incapacitada de participar nesta empreitada, a aspiração de autodeterminação também ruiu. Verdadeiramente, o Reino da Galiza, só existiu em dois momentos, com os Suevos e com Garcia, nos restantes momentos históricos, era uma autoridade autónoma que respondia a um governo central.
References:
ÁLVAREZ PALENZUELA, Vicente (Coord.); Historia de España de la Edad Media, Ariel, 2002
DIAZ y Díaz, Manuel C. e outros; Historia de España Menéndez Pidal, tomo III, España Visigoda, vol.I, Espasa-Calpe, 1991
GARCÍA DE VALDEAVELLANO, Luis; Curso de Historia de las Instituciones Españolas, Alianza Editorial, 1982