Miscigenação
A miscigenação diz respeito à mistura raça, principalmente entre indivíduos de raça branca, negra e indígena. De acordo com relatos históricos ela nasceu da desigualdade de poder entre as diferentes raças.
Para Pinho (2004) a miscigenação deve ser reconhecida do ponto de vista do género, da raça, da sexualidade e da identidade nacional. Quando falamos de miscigenação, remete-nos, inevitavelmente, para a figura criada de “mestiço”, ou seja, de mulato ou mulata (Pinho, 2004).
De acordo com Freyre (cit in Pinho, 2004), a miscigenação diz respeito à inclusão bem sucedida do indivíduo de raça negra, visto como escravo, ao longo dos registos históricos, na cultura nacional, resultante da colonização, o que fez do homem brasileiro um lusitano cuja existência advém da mistura de raças.
Vainfas (1999) refere que a miscigenação, hoje em dia étnica, em outros tempos racial, tem sido alvo de interesse por parte dos estudiosos de história ocidental, devido à colonização das Américas, por parte da Península Ibérica. O tema tem gerado diferentes tipos de interpretação (Vainfas, 1999).
Foi a partir dos anos 30 e 40 que a miscigenação ganhou este destaque por parte dos estudiosos, no campo da história, uma vez que pretendiam compreender de que forma se estabeleciam relações raciais, miscigenadas ao nível da sua cultura, com características desiguais e diferenças sociais, baseadas, essencialmente, na sexualidade e nas relações de género (Pinho, 2004).
Começamos por verificar que o maior aglomerado de miscigenação continental, reside no Brasil, pelo que é formado essencialmente, por três tipos de raças, a branca, a negra e a indígena, o que engloba etnia e cultura (Vainfas, 1999).
Por estas razoes, podemos dizer que, para haver miscigenação, tem de haver misturas raciais, culturais e biológicas, o que só é possível através de misturas nacionais ao nível sexual, do prazer e do desejo, pelo que a mistura é passada apenas através dos genes (Pinho, 2004).
Sabemos que estes hábitos foram comuns nos tempos da escravatura racial e sexual que seria motivada por desigualdades sociais e que permitia o envolvimento íntimo entre indivíduos de diferentes raças (Pinho, 2004).
Esta mistura conseguida através de desigualdades sexuais demonstrava que o exercício do poder do homem de raça branca sobre o homem de raça negra, foi a verdadeira origem da miscigenação, por uma questão de soberania imposta (Pinho, 2004).
“Todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando não na alma e no corpo […] a sombra ou pelo menos a pinta do indígena ou do negro.”
(Pinho, 2004, p.9).
Foi desta forma que a miscigenação, constituída a partir das misturas sexuais, acabou por ganhar terreno em termos sociais (Pinho, 2004).
A colonização do Brasil foi, deste modo, a principal origem do poder racial, a partir de práticas sexuais à base de mestiçagem, traduzindo-se numa nova identidade miscigenizada que se tornou na imagem de marca do indivíduo brasileiro (Pinho, 2004).
Contudo, de acordo com a revisão da literatura, Pinho (2004) há também estudos relacionados com mestiçagem em que a miscigenação é vista como forma de modernizar o país, na medida em que o indivíduo que é mulato e bacharel, se torna na representação do fim da escravatura em todos os níveis, incluindo o sexual, e início do trabalho livre, urbano e moderno, ao longo de um processo de transição.
Já no caso europeu, onde residiu a herança dos tempos da escravatura, pelo controlo do homem de raça branca sobre o homem de raça negra, o costume de dançar o samba, entre os negros, e o histerismo das mulatas, levaram os cientistas a defender a necessidade de purificar toda a nação, uma vez que a miscigenação, do seu ponto de vista, podia contagiar a população (Pinho, 2004). Começa então aqui a obsessão por extinguir a miscigenação e transformar todo o continente numa só cor, ou seja, na civilização branca (Pinho, 2004).
Devido a todas estas misturas e controlo do poder de umas raças em detrimento do poder de outras, alguns estudos evidenciam o seu foco na questão dos conhecidos conflitos de civilização, cuja representante foi a raça branca e que teve enormes consequências nefastas como crimes, além de ter levado muitos à loucura e ter desenvolvido fetichismo em relação aos negros e às suas gerações seguintes (Vainfas, 1999).
Conclusão
Pode dizer-se que a miscigenação provem de misturas raciais resultantes de desigualdades sociais em vários campos, como o poder e o sexo. Por norma, a história demonstra que o indivíduos de raça branca estiveram sempre em vantagem sobre indivíduos de raça negra, exercendo poder sobre eles desde os tempos da escravatura. Estas desigualdades sociais, culturais e raciais para com a miscigenação, arrastam-se, em muitos fatos, até aos dias de hoje.
References:
- Pinho, Osmundo de Araújo. O efeito do sexo: políticas de raça, gênero e miscigenação. Cadernos pagu [online] (23), julho-dezembro de 2004 [citado 2016-07-14], pp. 89-119.
- Vainfas, Ronaldo. Colonização, miscigenação e questão racial: notas sobre equívocos e tabus da historiografia brasileira. Revista Tempo, 1999.