Em 1906, Du Bois escreveu que o problema do século XX seria o problema da “linha de cor” (1995). Esta declaração tornou-se no símbolo representativo dos efeitos perpétuos do racismo da sociedade dos Estados Unidos da América. É, igualmente, utilizada regularmente como precursora das discussões em torno do fenómeno social denominado como segregação. Ao passo que a segregação nos EUA se baseia amplamente na temática da raça e etnicidade, o assunto é muito mais complexo. A segregação é ao mesmo temo a separação formal e informal de um indivíduo do seu grupo. Frequentemente, esta divisão é sustentada em indicadores como a diferença, quer dizer, a categoria de “raça”, etnicidade, género, classe social, orientação sexual, e a religião. As repercussões desta divisão são sempre vastas, e criam e suportam desigualdades estruturais no centro das sociedades.
A manifestação mais comum da segregação consiste na divisão de grupos de pessoas em áreas específicas da vida social destas, tal como no trabalho, no alojamento e na escola. Historicamente, isto ocorreu constantemente como resultado da imigração: as pessoas tendem a deslocar-se para onde encontrarão um “Mesmo”, isto é, uma população semelhante. Os efeitos de tal fenómeno são visíveis atualmente, uma vez que inúmeras cidades possuem bairros com grandes concentrações de pessoas da mesma etnia ou religião. Este tipo de segregação é moldado por uma série de influências sistémicas como as políticas de contrato discriminatórias, práticas injustas do setor financeiro no que diz respeito a seguros, e agências imobiliárias. Historicamente, estas instituições praticaram o que se define como traçamento de “linhas vermelhas”, cujo intuito era a delimitação de vizinhanças onde as habitações não eram aptas a serem hipotecadas dadas as deterioradas condições materiais. Tais decisões eram suportadas por critérios apoiados em considerações religiosas, étnicas, ou sobre as características de género dos residentes.
A segregação poderia estar também codificada na lei. Frequentemente, estas regulamentações determinavam o acesso a serviços públicos e ao alojamento, habitação, educação, emprego, e à propriedade de imóveis. Eram colocados limites nos direitos disponíveis aos indivíduos, nomeadamente no referente a heranças, possibilidade de adoção de crianças, ou ao próprio casamento. Exemplos desta prática incluíam empregos onde somente os homens eram admitidos, os antigos guetos de judeus na Alemanha Nazi, a separação de católicos e protestantes na Irlanda do Norte, as barreiras ao casamento entre pessoas do mesmo sexo nos Estados Unidos da América. Formalizadas deste modo, as práticas consolidaram a segregação, e ainda que inúmeras nações tenham eliminado a segregação no que toca ao plano legal, a isolação e a discriminação persistem em níveis informais do dia-a-dia.
Os sociólogos concentraram-se numa variedade de pretextos para a continuação da segregação nas sociedades. Entre este manancial de causas, encontramos a segregação por iniciativa própria, como a segregação residencial, caracterizada pela escolha de um mesmo espaço geográfico por parte de grupos de imigrantes, gays ou lésbicas, cujo fim é a preservação do espírito de comunidade e das práticas culturais comuns. Contudo, a segregação residencial é fortemente influenciada pela raça/etnia e/ou a classe económica.
A pesquisa contemporânea tem demonstrado que embora a sociedade tenha consolidado melhores políticas de integração em determinados planos, a desigualdade devida a práticas segregacionistas continua a ser um importante fator em certas áreas laborais, educacionais e da saúde. Nos EUA, por exemplo, os latinos detêm ainda uma baixa percentagem de formação escolar. Proporcionalmente, são uma das camadas populacionais de vive na base da pirâmide económica. Por outro lado, alguns estudos demonstraram que a segregação residencial aumentou em vez de diminuir, o que vai na tendência oposta ao contrário de os estudos que tentaram demonstrar que a integração ao nível da raça, étnica e classe económica, reduziria significativamente o crime e a violência, aumentaria o sucesso académico e amplificaria as oportunidades económicas.
References:
Delgado, R. (1995) Critical Race Theory: The Cutting Edge. Temple University Press, Philadelphia.