Identidade de género
Identidade de género define-se pela expressão de género com que o indivíduo se identifica. Normalmente espera-se que essa identificação diga respeito ao género com o qual ele nasceu, feminino ou masculino.
“Identidade de género refere-se à percepção que o sujeito tem do seu próprio sexo, como masculino ou feminino” (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-IV-TR. MANUAL DE DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICA DAS PERTURBAÇÕES MENTAIS, 2006, p. 535).
Alguns estudos sugerem ainda que a identidade de género se divide entre núcleo e identidade, ou seja, uma associa-se à percepção consciente sobre o que o indivíduo realmente é e à percepção inconsciente atribuída aos seus sentimentos mais primitivos (Bernardes, 1993). A segunda diz respeito à teoria dos papeis em que o indivíduo, partindo do seu núcleo, compreende que existe uma expressão masculina ou feminina a adotar, mas que pode sofrer mudanças (Bernardes, 1993).
De acordo com pesquisas realizadas por Bernardes (1993) a identidade de género trata-se de uma questão masculina ou feminina e é ainda originada por questões associadas ao comportamento, isto é, behavioristas e cognitivistas. Diz respeito ao código genérico com o qual o indivíduo se identifica e que pode ser diversificado (Bernardes, 1993).
Do ponto de vista de diversos autores, a identidade de género está ainda ligada à personalidade do indivíduo, que se manifesta no comportamento, como já foi referido anteriormente, nas motivações que o movem e nas crenças (Bernardes, 1993).
Normalmente, é uma componente da personalidade desenvolvida de acordo com a identificação do indivíduo com um dos progenitores, mais do que com o outro (Bernardes, 1993).
No entanto, por vezes, o indivíduo desenvolve uma percepção do seu corpo, que lhe causa desconforto, porque almeja que o mesmo se expresse de acordo com o sexo oposto (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-IV-TR. MANUAL DE DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICA DAS PERTURBAÇÕES MENTAIS, 2006).
Nestas situações, de acordo com as teorias da psiquiatria, o mal-estar do sujeito para com o seu próprio corpo, torna-se tão forte, que ele, não só não se consegue identificar com o mesmo como tem o desejo que os outros também sejam capazes de o ver como sendo portador do sexo oposto (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-IV-TR. MANUAL DE DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICA DAS PERTURBAÇÕES MENTAIS, 2006).
De forma geral, é esperado que a identificação se associe ao progenitor do mesmo sexo, pelo que é esta identificação que leva à adoção de determinado tipo de comportamento (Bernardes, 1993).
No entanto, segundo Jeanne Block (1973, cit in Bernardes, 1993) o conceito de identidade de género parece ser bem mais complexo do que a definição dicotómica entre masculino e feminino, uma vez que se trata de uma questão humanizada, por isso, complexa.
Do ponto de vista da psicologia do desenvolvimento, podemos dizer que a identidade de género, atribuída às questões do papel sexual, começa a ser construída no segundo estágio de desenvolvimento do ego, de forma impulsiva (Bernardes, 1993). Por esta altura a criança adquire noções primitivas, não propriamente relacionadas com aspetos sexuais (Bernardes, 1993).
Acerca dos aspetos sociais trata-se de uma interação entre diferentes papeis, valores, traços, cultura e tudo aquilo que é esperado do indivíduo, dependendo do facto de ter nascido com o sexo masculino ou feminino (Bernardes, 1993).
Segundo o AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-IV-TR. MANUAL DE DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICA DAS PERTURBAÇÕES MENTAIS (2006), quando estes “requisitos” não são preenchidos, o indivíduo sofre de uma disforia de género, que se trata da dificuldade em aceitar o sexo com que nasceu. No entanto, é importante distinguir identidade de género e disforia de género de orientação sexual, ou seja, esta última diz apenas respeito à atração sexual por homens, por mulheres ou por ambos (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-IV-TR. MANUAL DE DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICA DAS PERTURBAÇÕES MENTAIS, 2006).
Desenvolvimento da identidade de género
Todos estes aspetos acerca da identidade de género, na primeira infância, mostram-se extremamente confusos, o que leva a criança a ser incapaz de compreender o seu papel em sociedade (Bernardes, 1993).
Já na segunda infância a criança aprende a existência de regras acerca das questões de género e torna-se intolerante no que concerne ao incumprimento das regras (Bernardes, 1993).
Na terceira infância, a criança vive uma fase de androgenia que ultrapassa todas as regras anteriormente aprendidas, ajustando identidade e comportamento, segundo as suas necessidades (Bernardes, 1993).
Conclusão
A identidade de género diz respeito à expressão com que o indivíduo se identifica mais, seja ela feminina, masculina, ou mista. Trata-se de uma parte da personalidade que é constituída durante a infância em que o indivíduo se identifica com um dos progenitores, geralmente o que tem o mesmo género. No entanto, em algumas situações, a identificação é cruzada, ou seja, o indivíduo identifica-se com o progenitor do sexo oposto, sente-se desconfortável com o sexo com que nasceu e espera mesmo que os outros o vejam como portador do sexo oposto.
References:
- AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. (2006). DSM-IV-TR. MANUAL DE DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICA DAS PERTURBAÇÕES MENTAIS. Lisboa: Climepsi Editores;
- Bernardes, N.M.G. (1993). AUTONOMIA/SUBMISSÃO DO SUJEITO E IDENTIDADE DE GÊNERO*. Pesq., São Paulo, n.85, p.43-53, maio 1993. Recuperado a 11 de dezembro de 2016 de http://publicacoes.fcc.org.br/ojs/index.php/cp/article/view/950/954.