Esclerose Múltipla
A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença neurológica crónica e progressiva pelo que é importante perceber os seus contornos, para intervir com o paciente adequadamente.
Maia, Viegas e Amaral (2008) e Haase, Lacerda, Lima e Lana-Peixoto (2005) durante as suas pesquisas concluíram que a EM é uma doença crónica e progressiva que começa a despoletar sintomas mais frequentemente em jovens adultos, com prevalência maior no sexo feminino pelo que pode comprometer a decisão de uma gravidez.
Haase, Lacerda, Lima e Lana-Peixoto (2005) relatam que, tal como no caso das outra doenças neurológicas, a EM é crónica e vai tirando gradualmente as capacidades do indivíduo.
Por outro lado, apesar de haver mais prevalência no sexo feminino, as pacientes desenvolvem mais eficazmente estratégias de coping do que os doentes do sexo masculino (Maia, Viegas, & Amaral, 2008).
Em menor quantidade mas também com alguns casos, encontramos a doença presente em crianças e idosos (Maia, Viegas, & Amaral, 2008).
A EM é provocada pela desmielinização das fibras nervosas do Sistema Nervoso Central (SNC) devido a alterações cerebrais e de um conjunto de sintomas clínicos de duração variável (Maia, Viegas, & Amaral, 2008).
Sintomas
- Fadiga e fraqueza excessivas;
- Alterações na linguagem, visão, sistema cognitivo, intestinos e bexiga;
- Dificuldades em movimentar-se;
- Disfunção sexual;
- Dificuldades de concentração;
- Dor;
- Alterações emocionais.
(Maia, Viegas, & Amaral, 2008).
Uma das características típicas da EM é o fato de ela não ter uma progressão mais ou menos estanque, o que faz dela imprevisível (Maia, Viegas, & Amaral, 2008).
Por esse motivo, e por ser extremamente incerta, a doença leva os pacientes a ter o seu bem-estar psicológico comprometido, já que qualquer decisão a tomar, tem de ser feita tendo em conta a progressão os sintomas da doença (Maia, Viegas, & Amaral, 2008).
A EM é tradicionalmente pautada por quadros depressivos (Haase, Lacerda, Lima e Lana-Peixoto, 2005; Maia, Viegas, & Amaral, 2008) e perturbação de ansiedade devido a todas as incertezas e incapacidade de organização do plano de vida a que o paciente fica sujeito. Assim o indivíduo fica mais suscetível a crises de irritabilidade, raiva, alterações do sono, perda de peso, entre outros, consequências essas que, muitas vezes, resultam em isolamento ou mesmo suicídio (Maia, Viegas, & Amaral, 2008).
De referir que, ao nível da memória, os estudos indicam que a longo prazo, a mesma fica completamente afetada, ao contrário da memória a curto prazo que fica intacta (Maia, Viegas, & Amaral, 2008).
Em que circunstâncias se verifica maior prevalência de progressão da EM?
Verifica-se que a EM é influenciada por fatores genéticos e por fatores ambientais (Haase, Lacerda, Lima, & Lana-Peixoto, 2005; Maia, Viegas, & Amaral, 2008), e, de acordo com os estudos, há maior prevalência em indivíduos filhos de pelo menos um progenitor portador da doença, bem como mais em gémeos monozigóticos do que em gémeos dizigóticos (Maia, Viegas, & Amaral, 2008). No que concerne a fatores de risco ambientais, verifica-se a prevalência de zonas urbanas devido à evolução industrial, zonas húmidas e com baixas temperaturas que possam comprometer o sistema respiratório e provocar infeções (Maia, Viegas, & Amaral, 2008).
Meios de tratamento
Uma das melhores formas de intervir psicologicamente junto de pacientes com EM, é fazendo uma avaliação adequada através de testes neuropsicológicos, no sentido de analisar as capacidades cognitivas, bem como a administração de psicofármacos e a terapia cognitivo-comportamental (Hasse, Lacerda, Lima, & Lana-Peixoto, 2005; Maia, Viegas, & Amaral, 2008).
A par disso, é importante que o tratamento seja realizado em equipa, articulando o trabalho do psicólogo com o do enfermeiro, do psiquiatra, do fisioterapeuta, do terapeuta ocupacional, do terapeuta da fala, do urologista e da família. (Maia, Viegas, & Amaral, 2008).
É importante que o doente seja abordado pelo psicólogo do ponto de vista compensatório, isto é, promovendo nele a motivação para compreender e aceitar as capacidades que ainda possui e que, com esforço, pode tirar resultados do seu investimento temporal, afetivo e energético (Haase, Lacerda, Lima, & Lana-Peixoto, 2005).
Os autores referem isto devido à crença de que a psicologia positiva pode trazer benefícios no que concerne ao bem-estar do paciente (Haase, Lacerda, Lima, & Lana-Peixoto, 2005).
Conclusão
Devido aos contornos incertos e irregulares em que a EM se apresenta, é difícil poder fazer um prognóstico e um plano de intervenção com alguma estabilidade.
Esta faceta incerta da doença, leva a que o indivíduo fique com os seus planos e decisões de vida comprometidos, uma vez que não tem como prever futuras consequências mais ou menos graves.
Toda esta situação, tende para despoletar sintomas de depressão e ansiedade devido à sensação de frustração e ausência de controlo da própria vida com que o sujeito se depara, pelo que e fundamental que haja acompanhamento quer do psicólogo, quer da equipa médica, de enfermagem, de fisioterapia, etc, bem como da própria família, no sentido de ajudá-lo a superar as dificuldades inerentes à doença.
References:
- Haase, V.G., Lacerda, S.S., Lima, E.P., & Lana-Peixoto, M.A. (2005). Desenvolvimento bem-sucedido com esclerose múltipla: um ensaio em psicologia positiva. SCIELO, scielo.br. Estudos de Psicologia, 10(2), 295-304. Acedido a 8 de abril de 2016 em http://www.scielo.br/pdf/epsic/v10n2/a17v10n2
- Maia, L.A.C.R., Viegas, J., & Amara, M. (2008). ESCLEROSE MÚLTIPLA: CONHECER PARA DESMISTIFICAR. [em linha]. COM.PT, O PORTAL DOS PSICÓLOGOS. www.psicologia.com.pt . Acedido a 8 de abril de 2016 em http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0453.pdf