O instrumento
A guitarra é um instrumento de cordas (cordofone, portanto) dedilhadas, que possui uma caixa de ressonância em forma de 8 e um tampo e fundo planos; no tampo pode observar-se um orifício circular, a boca. Tem um braço direito e largo, com trastos metálicos que delimitam intervalos de meio-tom, sobre o qual se dispõe as cordas (geralmente, entre 6 a 12) em tensão; estas estão presas a um sistema de parafusos sem-fim, no cravelhame (ligeiramente inclinado em relação ao braço). No interior, colocam-se uma série de barras junto ao tampo e às costas, com o objectivo de de reforçar a solidez da caixa e de delimitar as partes vibrantes (o que condiciona directamente o timbre do instrumento).
O número e disposição das barras varia conforme o construtor. Aliás, importa salientar que a guitarra não é, de todo, um instrumento standardizado, dado poder ser construída, também, em diferentes tamanhos. Ao mesmo tempo, é um instrumento popular, pela sua portabilidade, formato (que facilita uma posição de execução cómoda ao instrumentista) e facilidade de afinação. Esta polivalência faz da guitarra um instrumento ideal a diferentes géneros musicais e ocasiões.
Contudo, as vibrações do instrumento são extremamente amortecidas, o que origina um volume sonoro reduzido. Neste sentido, para uma boa audição – entenda-se, sem recurso a captadores e amplificadores (guitarra eléctrica) – exige-se salas de concerto de pequenas dimensões, mas com certa reverberação.
A guitarra tem uma extensão de Mi1 a Si4 mas a música escreve-se uma oitava acima do som real, utilizando-se, assim, a clave de sol.
História
As origens da guitarra não são claras. De acordo com Luís Henrique: “Pensa-se que a guitarra possa ter a sua origem em alaúdes do antigo Egipto, por terem sido encontrados em escavações instrumentos de caixa de ressonância cintada com um braço longo e estreito e vestígios da existência de três ou quatro cordas e alguns trastos” (1998, p.149).
As dúvidas persistem quanto ao seu desenvolvimento inicial. No final da Idade Média e no início do Renascimento, os diferentes registos de vários instrumentos sob o mesmo nome ‘guittern’ não permitiram, pelo menos ainda, esclarecer o predecessor “original”. Sabe-se, no entanto, que a guitarra desenvolvida ao longo desse período, embora mais pequena e estreita que a actual, terminou com quatro cordas. Existem várias publicações a ela destinadas da autoria de Guillaume Morlaye e Adrian Le Roy.
No século XVI co-existiam em Espanha a guitarra e a vihuela, sendo a escrita para a primeira mais simples em relação à segunda. Por volta de 1600, foi adicionada uma quinta corda à guitarra (inovação atribuída a Vicente Espinel), em Espanha, razão pela qual esta passou a ser considerada a guitarra espanhola. No fim do século XVIII, o instrumento passou a ter uma sexta corda e estas passaram de duplas a simples. O sistema de barras no interior foi também modificado, o que conduziu a um aumento considerável da sonoridade.
É, no entanto, em meados do século XIX que nasce aquela que se considera a guitarra moderna, construída em Espanha por Antonio Torres. Torres alterou “substancialmente a forma da caixa, tornando-a mais larga e mais cintada, com a forma de 8 com que hoje a conhecemos” (Henrique, 1998, p. 151). O compositor e guitarrista espanhol Dionisio Aguado passou, aí, a usar as unhas da mão direita, em vez de se limitar, como havia sido feito até àquele momento, unicamente com polpa do dedo.
“A modificação da caixa tornou a posição de execução muito melhor, e a utilização das unhas permitiu a obtenção de uma sonoridade muito mais rica, podendo-se jogar com o contraste entre o som mais metálico produzido pela unha e o som mais aveludado produzido pela polpa do dedo. O instrumento ficou assim mais adaptado às exigências da literatura romântico” (Henrique, 1998, p.151-152).
Repertório clássico da guitarra
Foi o período Romântico – pelas suas próprias características – que viu nascer uma maior quantidade de repertório para o instrumento, pese o facto de sobreviverem algumas tabulaturas do Renascimento, suites barrocas e algumas peças de destaque de compositores clássicos como Haydn, Weber, Paganini, Schubert, Boccherini e Berlioz.
Entre os primeiros grandes virtuosos de guitarra encontram-se os espanhóis Dionisio Aguado (1784-1849) e Fernando Sor (1778-1839), que se considera terem estabelecido os métodos através dos quais ainda hoje se toca guitarra. Ainda da primeira metade do século XIX contam-se Mauro Giuliani, Mateo Carcassi, Napoléon Coste, Luigi Legnani, Johann Kaspar Mertz, Ferdinando Carulli.
Na segunda metade do século XIX, o compositor mais importante foi Francisco Tárrega (1854-1909), considerado por alguns o maior guitarrista de todos os tempos. Não só renovou a técnica guitarrística como escreveu inúmeros transcrições de obras (sobretudo para piano) de grandes compositores como Bach, Haydn, Mozart e Beethoven, além de compositores espanhóis seus contemporâneos, entre os quais Albéniz.
Contudo, a grande difusão da guitarra como instrumento clássico deve-se ao guitarrista espanhol Andrés Segovia, que dedicou a sua vida à guitarra, tocando em todo o mundo um vasto repertório, que incluiu inúmeras transcrições de obras, desde o século XVII até aos nossos dias, originalmente destinadas a outros instrumentos de cordas e de teclas.
References:
Henrique, L. (1998). Instrumentos Musicais. Fundação Calouste Gulbenkian